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Editorial

Prioridade para a educação

O estudo apontou um expressivo aumento nas ocorrências de agressões físicas e morais nas escolas públicas

10 de Maio de 2022 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: VINÍCIUS FONSECA / ARQUIVO JCS (15/9/2020))

As incertezas sobre a pandemia do novo coronavírus ainda causam apreensão na sociedade. A Organização Mundial de Saúde tem feito seguidos alertas que o problema ainda não foi controlado e que é preciso cuidado constante e acompanhamento do número de casos e de doentes em cada comunidade.

Diante desse quadro, várias escolas da capital paulista decidiram retomar o uso obrigatório da máscara de proteção. Em Sorocaba, a Escola Estadual Monteiro Lobato foi fechada e os alunos mandados para casa, na semana passada, por causa de um surto de Covid-19. Os estudantes receberam a recomendação de voltar ao ensino remoto e as aulas presenciais só devem ser retomadas amanhã, dia 11, se o processo de testagem indicar que há segurança para o retorno das crianças.

Esse vai e vem de recomendações, a insegurança e o longo período, de praticamente dois anos, de estudos a distância estão provocando uma verdadeira bagunça na cabeça dos estudantes.

Segundo um levantamento feito pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo em parceria com o Instituto Ayrton Senna, dois de cada três estudantes do 5º e 9º ano do ensino fundamental e 3ª série do ensino médio da rede estadual relatam sintomas de depressão e ansiedade. A pesquisa, batizada de Avaliação do Futuro, ouviu 642 mil alunos.

Do grupo avaliado, um em cada três estudantes afirmou ter dificuldades para conseguir se concentrar no que é proposto em sala de aula, outros 18,8% relataram se sentir totalmente esgotados e sob pressão, enquanto 18,1% disseram perder totalmente o sono por conta das preocupações e 13,6% afirmaram a perda de confiança em si, o que são considerados sintomas de transtornos de ansiedade e depressão.

A dificuldade de concentração, um dos sintomas analisados, demonstra um nível baixo de foco, competência de autogestão que é essencial para que o estudante consiga aprender, como explica Tatiana Filgueiras, vice-presidente do Instituto Ayrton Senna. “Aproximadamente um terço dos alunos pesquisados se consideraram ’pouquíssimo focados’. A avaliação ainda demonstrou que, quanto menores os índices de saúde mental do estudante, mais ele pode ter desafios de aprendizagem. Em contrapartida, avanços no fortalecimento da sua saúde mental podem significar até 8 meses letivos a mais no aprendizado em matemática prejudicado nesses últimos 2 anos, por exemplo”, analisa.

O estudo apontou, também, um aumento nas ocorrências de agressões físicas e morais -- nas unidades escolares de São Paulo. Somente em 2022, foram registrados 5.737 casos de violência, incluindo agressão física, ameaça, bullying, discriminação e ação violenta de grupos e gangues. O dado inclui um total de 4.021 casos só de registros de agressões físicas, um aumento de 48% em comparação a 2019, quando foram registrados 2.708 casos.

Por quase dois anos, mais de 53 mil alunos matriculados nas 83 escolas estaduais de Sorocaba estudaram dentro de suas casas. Este período distante do convívio social, unido aos problemas psicológicos como ansiedade e depressão e à estrutura familiar, foram alguns dos fatores que contribuíram para o aumento da violência no ambiente escolar.

Em Sorocaba, segundo a dirigente regional de ensino, Rossenilda Gomes, a ocorrência com mais registro é a indisciplina. Para a dirigente, os alunos estão reaprendendo as regras básicas da escola. “Muitos, por exemplo, saem e entram das aulas quando bem querem, não cumprem o horário ou chegam atrasados”. Essa atitude dos adolescentes é um reflexo do período em que ficaram em aulas on-line, no qual tinham uma liberdade diferente da encontrada na escola.

O momento é preocupante. Nossos alunos foram por demais penalizados durante a pandemia. Eles tiveram que suportar dois anos longe das salas de aula, vários conteúdos foram ensinados de forma precária e sem a total reposição dessas matérias vai ser praticamente impossível que eles consigam acompanhar, daqui para frente, o ensino da maneira correta. O atraso educacional será maior ainda para os alunos de famílias de menor renda que tiveram redução de oportunidades durante a pandemia. A diferença entre escolas particulares e públicas também vai aumentar.

É hora de se criar um verdadeiro mutirão de ensino para tentar recuperar essas crianças. Pais, professores e o poder público devem se engajar de maneira firme na busca por saídas para esse dilema. E aqui vai um apelo. Todos que possam contribuir com esse debate devem se apresentar. O ensino no Brasil não é problema deste ou daquele indivíduo, é um problema de toda a sociedade. E assim deve ser encarado.