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Editorial

A informação aumenta o poder do consumidor

O consumidor tem que conhecer a sua força e exigir, cada vez mais, que as regras sejam cumpridas pelas empresas

01 de Maio de 2022 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: DIVULGAÇÃO)

O poder do consumidor tem aumentado nos últimos anos. Qualquer deslize e uma empresa ou marca vai do céu ao inverno em instantes. Essa semana o alvo foi a tradicional lanchonete de fast food McDonald’s. E tudo começou com uma denúncia numa rede social.

O perfil “Coma com os olhos”, administrado pelo sorocabano Itamar Taver, afirmou, depois de longo trabalho de investigação, que a linha de sanduíches McPicanha, recém lançada pela empresa americana, não continha carne de picanha em seu hambúrguer.

Informa o blog: “A tal carne de Picanha, internamente chamada de Carne Pic, foi descontinuada. E desde o dia 05/04/2022 todos os restaurantes da rede foram notificados pela matriz que deveriam passar a usar a carne 3.1, ou seja, a carne da linha Tasty. Tal informação não é passada a você consumidor da marca”.

Num outro ponto do texto, o blog relata: “Demorei a postar tal resenha, pois antes me certifiquei das informações em quatro unidades do McDonald’s Brasil espalhados por três Estados distintos da Federação”.

Com cerca de 94 mil seguidores, a resenha escrita por ele logo se espalhou pela mídia. E provocou uma série de reações. Primeiro de consumidores indignados com a revelação. Depois do próprio McDonald’s que admitiu, em comunicado, que realmente o hambúrguer poderia “não conter carne de picanha em seu blend” (mistura).

Em seguida vieram os Procons de vários Estados, o Conar (que regulamenta a publicidade) e até o Ministério da Justiça.

O Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) decidiu, inclusive, abrir uma ação ética contra o McDonald’s para verificar a “veracidade da mensagem publicitária” distribuída nos pontos e venda e nos meios de comunicação.

Segundo especialistas, a publicidade do McDonald’s poderia ser enquadrada em dois artigos do Código de Ética do Conar.

O artigo 23 afirma que “os anúncios devem ser realizados de forma a não abusar da confiança do consumidor, não explorar sua falta de experiência ou de conhecimento e não se beneficiar de sua credulidade”.

Já o texto do artigo 27 diz que “o anúncio deve conter uma apresentação verdadeira do produto oferecido” e que a propaganda “não deverá conter informação... que leve o consumidor a engano quanto ao produto anunciado”.

A pressão sobre o McDonald’s foi tão grande que a empresa decidiu retirar dos postos de venda a linha de sanduíches da linha McPicanha.

Explica o comunicado da empresa: “A partir desta sexta-feira (29), estamos retirando do cardápio os dois sanduíches da linha ‘Novos McPicanha’, em todos os restaurantes no País. Esclarecemos que a plataforma recém-lançada denominada ‘Novos McPicanha’ teve esse nome justamente para proporcionar uma nova experiência ao consumidor com o exclusivo molho sabor picanha, uma nova apresentação e um hambúrguer diferente em composição e em tamanho (100% carne bovina, produzida com um blend de cortes selecionados e no maior tamanho oferecido pela rede atualmente). Pedimos desculpas se o nome escolhido gerou dúvidas e informamos que estamos avaliando os próximos passos.”

Essa foi uma grande vitória de um consumidor atento. E não foi a primeira conquistada pelo blog “Coma com os Olhos”. Em 2009, a denúncia foi contra a Nestlé, gigante da indústria alimentícia. Na época, a controvérsia girou em torno da bebida láctea Alpino Fast, que não continha chocolate Alpino em sua composição. Embora a informação constasse nas letras miúdas da embalagem, os órgãos de fiscalização consideraram o aviso insuficiente. Depois de muita negociação, a Nestlé acabou ampliando o alerta na embalagem.

O consumidor tem que conhecer a sua força e exigir, cada vez mais, que as regras sejam cumpridas pelas empresas. Obviamente, existem exageros. O produtor de ovos ser obrigado a escrever na caixinha que “esse produto contém ovo” beira o ridículo. O mesmo vale para a garrafa do leite. Não se pode acreditar que, em sã consciência, alguém duvide que o ovo contém ovo e que o leite contém leite. Mesmo assim é vital ler a composição e as fórmulas impressas nas embalagens e nos produtos vendidos. Na dúvida, peça esclarecimentos. Os serviços de atendimento ao cliente estão aí para isso. A informação é uma arma que deve sempre estar à mão de todos nós. É importante saber usá-la na defesa de nossos direitos.