Sangue azul
O São Bento voltou a ser vencedor
A diferença é que, nas horas mais difíceis de 2022, mais uma vez entrou em ação a mente vencedora do elenco
Após 20 jogos, o São Bento disputa neste domingo (17) a final do Paulista Série A2 contra a Portuguesa com a sensação de dever cumprido pelo retorno à elite do futebol estadual e um sentimento de “quero mais” pela possibilidade de adicionar uma taça à galeria e um prêmio de R$ 280 mil à conta.
Embora esses aspectos sejam relevantes, a maior conquista dessa temporada é “anímica”, como gosta de dizer o técnico do Palmeiras, Abel Ferreira. Ou seja: do estado de espírito dos jogadores, ao conseguirem devolver ao Azulão uma mentalidade vencedora que esteve adormecida nos últimos anos, e de sua torcida, que recobrou o orgulho de ser são-bentista.
Após sair da modesta Série A3 do Campeonato Paulista em 2013 para o seleto grupo dos 40 maiores times do País alcançando o Campeonato Brasileiro da Série B em 2018, o São Bento viveu três temporadas difíceis entre 2019 e 2021, nas quais pareceu se acostumar ao fantasma do rebaixamento e ao entra-e-sai de atletas e técnicos.
Só em 2019, quando tudo começou a desandar, foram seis treinadores e 47 contratações. O vice-campeonato da Série A2 em 2020, com o técnico Edson Vieira, foi o ponto fora da curva, ao conseguir virar o jogo em uma competição que já se encaminhava para outro descenso, cujo feito reitera para sempre seu nome como um dos maiores treinadores da história do clube.
Todos sabem que planejamento, recursos financeiros e infraestrutura ajudam a formar grandes equipes de futebol. Mas não é somente isso. Futebol é, também, poder contar com elementos imateriais de todos os profissionais envolvidos, como inteligência, força de vontade, garra, resiliência, positividade, responsabilidade, autocontrole, estratégia, empatia, entre muitas outras virtudes impossíveis de serem medidas, mas capazes de serem sentidas.
Futebol é paixão em essência. É capaz de mobilizar toda uma torcida e uma cidade. De não deixar morrer uma história de 109 anos. É a “chama sempre viva”, como diz o hino são-bentista.
Nesses aspectos, o São Bento foi muito feliz na montagem do elenco. Com o retorno de Paulo Roberto Santos, maior ídolo da história recente do clube e peça-chave na escalada que colocou o Azulão no cenário nacional, o são-bentista, machucado por insucessos recentes, sentiu que era possível acreditar de novo nas vitórias.
Deu ao clube, em 2021, um novo voto de confiança após o rebaixamento no Paulistão, mesmo com as eliminações precoces no Brasileiro Série D e na Copa Paulista. E empurrou o time quando ele mais precisou na primeira fase do Paulista Série A2, diante das dificuldades que chegaram a ameaçar a classificação ao mata-mata.
Apoiou o atacante Cristiano, que sofreu com o “jejum” de gols no início da competição. Torceu pelo meia Nenê Bonilha, que viu no São Bento a oportunidade da retomada da carreira no momento mais difícil de sua vida, enquanto sua filha tratava um retinoblastoma, um tipo de câncer.
Viu dois pratas da casa, o volante Lucas Lima e o meia Kayan, jogarem o fino da bola, calando todos os contrários ao investimento em categorias de base. Acreditou no talento do experiente goleiro Zé Carlos, herói do acesso ao defender três pênaltis contra o Oeste. Pouco a pouco, devolveu em confiança, positividade e apoio tudo aquilo que de bom o São Bento voltava a emanar do gramado após muito tempo.
É claro que nem tudo foi perfeito, nem poderia ser, mediante todos os problemas que a atual diretoria do São Bento tem-se deparado. Muitos deles originados dos anos anteriores, quando houve, além dos rebaixamentos, a incapacidade de gerar um legado mesmo com arrecadação recorde de R$ 17 milhões em 2019.
Da aventura são-bentista na Série B, nada restou. A diferença é que, nas horas mais difíceis de 2022, mais uma vez entrou em ação a mente vencedora do elenco, a qual foi mais forte que todos os problemas extracampo -- atrasos de salários e no auxílio-moradia --, sem deixar que eles refletissem dentro das quatro linhas.
O São Bento voltou a ser um time vencedor, independentemente do resultado do jogo deste domingo (17), no Canindé. Comemore, torcedor!