Meio ambiente
A reciclagem como ferramenta de inclusão social
A situação só nos impacta quando assistimos, pela televisão, imagens do mundo de lixo que desce pelo rio Tietê e acaba parando nas cidades de Salto e de Porto Feliz
O governo federal lançou, na quarta-feira (13) o programa Recicla+, que cria o Certificado de Crédito de Reciclagem. Pelos cálculos do Ministério da Economia a ação beneficiará, com renda extra, cerca de um milhão de agentes de reciclagem.
Nas contas da equipe econômica, o ganho a mais deve ser de cerca de 20%. Ao mesmo tempo, deve representar uma queda de 80% nos custos com logística reversa que algumas empresas são obrigadas a fazer, ou seja, têm de dar um destino sustentável a produtos ou lixo que são gerados durante os processos industriais.
Segundo informou o governo, para se chegar a este modelo de programa foram feitas diversas audiências públicas. O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que o Recicla+ mostra que o papel do Estado é o de proteger os mais frágeis: “Mais de 800 mil catadores serão certificados e empresas vão adquirir os créditos
de reciclagem”.
O conceito de reciclagem não é novo. Com o aumento contínuo da população, a produção de lixo cresceu muito. E não há espaço para armazenar tudo que é descartado diariamente. Para piorar, alguns produtos, como o plástico, demoram quase cem anos para ser degradados. Reutilizar aquilo que jogamos fora é uma forma de evitar a exploração da natureza para extração de mais matéria-prima.
Pena que um assunto tão sério como este não recebe a atenção devida. A situação só nos impacta quando assistimos, pela televisão, imagens do mundo de lixo que desce pelo rio Tietê e acaba parando nas cidades de Salto e de Porto Feliz. Aquele amontoado de plástico, papel e muita sujeira, mostra o descaso de milhares de pessoas que descartam o lixo indevidamente sem se preocupar com a sociedade e com o meio ambiente.
O mesmo se repete em alguns lugares do mundo. Países abandonam milhares de toneladas de lixo nos oceanos, na expectativa que ninguém descubra. Só que as correntes marítimas, ao jogar os resíduos nas praias, acabam denunciando esse tipo de crime ambiental. Nesses dois casos, são crimes sem punição, uma vez que seus autores dificilmente serão identificados.
Várias iniciativas estão sendo feitas para reduzir esse problema. A logística reversa, que obriga quem fabrica a recolher seu lixo na hora do descarte, é uma delas. Só que todo o custo extra que é imposto a uma empresa acaba sendo transferido para o valor do produto na hora da venda e somos nós que acabamos pagando essa conta. Diante desse quadro, a iniciativa do governo federal em lançar o programa Recicla+ vem em boa hora. Primeiro ao ajudar, com renda extra, um batalhão de cidadãos que percorre a pé, diariamente, as ruas das cidades para coletar o lixo que produzimos e que pode ser reaproveitado. São pessoas que lutam de sol a sol, em condições precárias, puxando pesadas carroças, e que precisam do suporte do Estado para viver.
Quase não percebemos o invisível trabalho que eles executam em benefício do planeta. Só os notamos quando atrapalham o trânsito ou estacionam na porta de nossas casas. Colaborar com essas pessoas é uma forma de também contribuir para um mundo melhor.
Na outra ponta do programa Recicla+ estão as empresas. Se as previsões do governo estiverem corretas, o custo da logística reversa vai cair bastante. E isso pode fazer com que o preço dos produtos chegue mais barato ao consumidor. Conter a inflação, neste momento, é uma das principais metas do Ministério da Economia.
A boa notícia é que alguns setores estão bem adiantados quando se fala em reciclagem. É o caso do reaproveitamento do alumínio. Em 2021, o Brasil reciclou cerca de 33 milhões de latinhas, o que representa 98,7% do material que circulou pelo País.
Essas taxas tornam o Brasil um exemplo para o mundo. O importante, agora, é que as outras cadeias de produção sigam o mesmo caminho. E que nossa imagem como nação que se preocupa com a sustentabilidade e com o meio ambiente se consolide mundo afora.