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Editorial

A liberação do aborto ganha destaque na campanha eleitoral

‘O Filho de Deus nasceu descartado para nos dizer que todo o descartado é filho de Deus’

08 de Abril de 2022 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
O papa Francisco não irá ao funeral da rainha Elizabeth II
O papa Francisco não irá ao funeral da rainha Elizabeth II (Crédito: Filippo Monteforte/ Pool/ AFP )

O ex-presidente Lula, e pré-candidato do PT nas eleições presidenciais, se posicionou a favor do aborto num evento na terça-feira passada (5), em São Paulo. Ele disse ainda que a “pauta da família”, pregada pelo atual governo, é muito atrasada.

O petista criticou o fato de mulheres pobres morrerem ao tentar abortar enquanto “madame pode fazer um aborto em Paris” ou “ir para Berlim procurar uma clínica boa”.

“Aqui no Brasil ela não faz (aborto) porque é proibido, quando na verdade deveria ser transformado numa questão de saúde pública e todo mundo ter direito e não ter vergonha”, disse Lula.

O discurso de Lula atinge diretamente as convicções de Geraldo Alckmin, apontado como vice na chapa do petista. Católico fervoroso, Alckmin sempre se posicionou contra a legalização do aborto. Para o ex-governador de São Paulo, a legislação atual é suficiente e que o melhor caminho é investir na prevenção da gravidez, por meio da ampliação de programas de educação social e de saúde da mulher.

Mesmo com tantas objeções ao aborto, Alckmin permaneceu em profundo silêncio depois das declarações de Lula.

O petista ao que tudo indica, pretende adotar no Brasil sistema muito semelhante ao de Cuba, de seu ídolo Fidel Castro. A ilha, que foi comandada com mãos de ferro por décadas, registra uma das maiores taxas de aborto do mundo. Segundo dados da Organização das Nações Unidas, a Cuba de Fidel detinha o mais alto percentual de prática de aborto entre os estados-membros da entidade. Quarenta por cento das gestações, de que se tem conhecimento, terminavam em aborto provocado.

De acordo com análises da Human Life International, o aborto é usado em Cuba como uma forma de controle de natalidade. E uma maneira de maquiar os números da mortalidade infantil.

Para Steven Mosher, do Population Research Institute, uma taxa de natalidade baixa significa que o governo terá “menos jovens cubanos para alimentar, vestir e educar”. “Depois de mais de meio século de comunismo, o nível de vida em Cuba está tão baixo e a sua opressão política é tão severa, que o povo ficou praticamente sem esperança para o futuro”, diz Mosher, que ressalta que um povo sem esperança tende a abortar seus filhos em grande número. Um verdadeiro crime contra a Humanidade.

E esse massacre contra milhares de vidas indefesas pode aumentar, e muito, na América Latina. A Argentina, desde dezembro de 2020, liberou o aborto. O presidente de lá, Alberto Fernandez, comemorou o feito como o cumprimento de uma promessa de campanha. No dia que o Senado votava o tema, o papa Francisco, que é argentino, postou a seguinte frase no Twitter: “O Filho de Deus nasceu descartado para nos dizer que todo o descartado é filho de Deus. Veio ao mundo como vem ao mundo uma criança débil e frágil, para podermos acolher com ternura as nossas fraquezas”.

A Colômbia aprovou, em fevereiro deste ano, uma lei que permite a interrupção da gravidez até a 24ª semana de gestação. O fato foi comemorado por muitos petistas nas redes sociais, só que os “posts” foram apagados horas depois.

Só que a estratégia dos marqueteiros de Lula, de esconder o real pensamento do partido sobre a questão do aborto na tentativa de atrair o eleitorado evangélico, parece que foi por água abaixo. O próprio candidato assumiu, publicamente, que quer sim a liberação do aborto no Brasil.

Esse discurso provocou reação imediata da bancada evangélica no Congresso Nacional. Os deputados federais Marco Feliciano (PL-SP) e Guiga Peixoto (PSC-SP) e o deputado estadual Bruno Engler (PRTB-MG) criticaram o petista. “Acredito que pela primeira vez vi o Lula de quem sempre falei! Lula para maiores! Apoiando o aborto e convocando os seus para intimidarem parlamentares contrários ao seu comunismo! O ex-rei ficou nu!”, escreveu Feliciano nas redes sociais.

Já a Igreja Católica tem no papa Francisco a principal voz contra a liberação do aborto. Para o ocupante máximo do Vaticano, “aborto é mais que um problema, é um homicídio”.

“Sobre o aborto, sou muito claro: trata-se de um homicídio, e não é lícito tornar-se cúmplice”, afirmou Francisco. “Nosso dever é estarmos próximos das mulheres para que não se chegue a pensar na solução abortiva -- que, na verdade, não é uma solução”, concluiu.

O Papa, diversas vezes, fez questão de defender a posição da importância da vida desde a concepção. “Na terceira semana após a concepção, muitas vezes antes mesmo de a mãe saber [que está grávida], todos os órgãos já estão [começando a se desenvolver]”, afirmou Francisco. “É uma vida humana. Ponto final. E essa vida humana tem que ser respeitada. É muito claro”. Concluiu o pontífice.

Lula prometeu, em campanha, a liberação do aborto no Brasil. Na Argentina, onde governa um aliado dele, isso já aconteceu. Cabe agora, a nós brasileiros, decidirmos o que queremos para o nosso futuro. E as eleições são um bom momento para fazer essa escolha.