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Editorial

Todo cuidado é pouco na hora da vacinação

Os hospitais, os postos de saúde e as clínicas devem criar um sistema de alertas para evitar a aplicação de vacinas vencidas

06 de Abril de 2022 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: iStock)

As vacinas, historicamente, foram desenvolvidas para salvar vidas. Eles provocaram uma verdadeira revolução e permitiram que o homem se livrasse de doenças graves e pudesse viver mais.

Os primeiros relatos do uso de vacina são do século X, na China. Só que o processo não era, nem de perto, o que conhecemos na atualidade. Os médicos daqueles tempos procuravam uma forma de conter a varíola. E usavam um pó extraído das cascas das feridas de pessoas doentes para imunizar pessoas sãs. E o processo começou a dar resultado.

Depois, já no século XVIII, na Inglaterra, o naturalista Edward Jenner descobriu que moradores da zona rural que contraíam uma doença chamada “cowpox” ficavam imunes ao vírus da varíola. O médico, usando uma criança de oito anos como cobaia, testou sua teoria. O experimento deu certo. O garoto contraiu varíola de forma branda. E a partir daí foi criado o modelo de vacina que se conhece até hoje. E que consagrou cientistas como Louis Pasteur, Albert Sabin, Oswaldo Cruz e tantos outros. A vacina se tornou instrumento importante no controle das epidemias. E mesmo no século XXI mostrou sua força no combate à pandemia de Covid-19.

Mas, para funcionar bem, precisa estar dentro das regras de fabricação, de transporte e de validade. E não foi isso que ocorreu no Hospital Santa Lucinda, em Sorocaba. Segundo informações apuradas pelo jornal Cruzeiro do Sul, cerca de cinquenta bebês teriam recebido doses vencidas da vacina contra a hepatite B. A direção do hospital confirmou o erro e disse estar apurado os fatos. A Vigilância Sanitária e Epidemiológica também foi alertada e participa da investigação.

O hospital informou, ainda, que: “Tão logo o problema foi constatado, nossas equipes médicas acompanharam o caso e iniciamos um rigoroso levantamento das razões pelas quais isto ocorreu e se haverá a necessidade de aplicar uma nova dose dessa vacina”.

Esse tipo de erro é difícil de aceitar. São tantas as ferramentas de gestão e de controle usadas atualmente que não se pode considerar apenas a falha humana como preponderante para esse tipo de situação.

Os hospitais, os postos de saúde e as clínicas de vacina devem criar um sistema de alertas, durante toda a cadeia de distribuição e armazenamento das doses, que possibilite a identificação de casos como este. No início do processo, logo que as vacinas chegam à unidade de saúde, cada lote deve ser identificado e ter sua validade inserida num programa de gestão de estoques. Quando o prazo estiver perto do fim, esse sistema deve alertar toda a cadeia de vacinação para que os lotes não utilizados já entrem em processo de descarte. O mesmo deve ocorrer no sistema de estocagem. Tudo deve estar devidamente organizado e arrumado. Atitudes como essas diminuem o risco de um funcionário, na ponta do atendimento, aplicar uma vacina fora dos padrões recomendados. É claro que o funcionário que aplica as vacinas também tem o dever de checar os rótulos e se certificar que está adotando o procedimento correto, mas quanto maior for o número de controles durante o processo menor será a chance de erro.

No caso do Hospital Santa Lucinda o problema foi rapidamente identificado. Os bebês estão sendo acompanhados e, se necessário, receberão novas doses de vacina. O que nós nunca saberemos, considerando o Brasil como um todo, é o número de situações parecidas com essa que jamais foram descobertas. Podemos ter uma legião de brasileiros acreditando estar livre de determinada doença. Só que, na prática, isso realmente não ocorreu.

A vacinação é um instrumento importante para garantir a saúde da população. A queda nos índices de cobertura vacinal preocupa as autoridades do setor. E isso vem ocorrendo há mais de uma década principalmente no público infantil, bem mais vulnerável. Temos registrado, com frequência, surtos de doenças que já estavam erradicadas no Brasil, como o sarampo e a poliomielite. Precisamos reverter, com urgência, esse quadro.

Para isso temos que ter a certeza, na hora da imunização, que estamos recebendo a dose certa. E casos como o do Hospital Santa Lucinda podem colocar a população em dúvida e dificultar essa retomada.