Editorial
Estratégias inusitadas mexem com o cenário eleitoral
Os dois principais candidatos ainda têm muito a mostrar. E convencer, principalmente, as mulheres que representam 53% dos votantes
Daqui a seis meses 150 milhões de brasileiros vão às urnas para participar do primeiro turno das eleições gerais. Vamos escolher o presidente da República, os governadores, os deputados federais e estaduais e cada Estado vai definir, ainda, o nome de um novo senador.
O prazo para a troca de partidos terminou ontem. Agora já dá para saber quem está em cada legenda e quais as estratégias daqui para frente.
Dois movimentos chamaram a atenção esta semana. Primeiro a decisão do ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro de trocar o Podemos pelo União Brasil. Numa primeira declaração, ele disse que “no momento”, se retirava da disputa à cadeira máxima do Palácio do Planalto. Ontem, mudou de ideia e falou que pretende sim ser candidato.
A atitude de Moro é, no mínimo, arriscada. No Podemos ele já estava em franca campanha. Viajando o Brasil atrás de aliados e pontuando bem nas pesquisas eleitorais. Ao mesmo tempo sentiu que a falta de estrutura financeira e de boas candidaturas nos Estados poderiam dificultar sua ascensão. Ao ingressar no União Brasil, fusão de PSL e Democratas, Moro esperar contar com a capilaridade dos dois partidos em todas as regiões do Brasil, muito recurso financeiro e tempo de televisão. Só que a ala ligada ao ex-prefeito de Salvador, Antonio Carlos Magalhães Neto, é contra a chapa com Moro candidato. E ameaça impugnar a filiação dele.
Diante do impasse, Moro vai ter que ter muita paciência, e torcer para que as pesquisas mostrem que sua candidatura á a mais viável da terceira via. Só o tempo dirá se a decisão foi acertada.
Já João Doria preparou todo um teatro para colocar o PSDB em cheque. O crescente movimento de apoio ao ex-governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, era um grande incômodo. O medo de ser traído pelo partido era ainda maior. E ele buscou, diante das câmeras, o compromisso de seus aliados de apoiá-lo em seu desejo de disputar a Presidência da República. Conseguiu o que mais queria, muita exposição na mídia.
Doria sabe que venceu uma pequena batalha, mas tem que mostrar, até a convenção do partido, que tem votos para sustentar sua candidatura. O problema é que a imagem dele, em São Paulo, foi muito abalada com as medidas adotadas durante a pandemia. Restrições severas na mobilização da população, ameaças constantes, perseguição policial, aumento nos impostos, tudo somado fez com que a popularidade de Doria caísse. Nem a tentativa de se autodeclarar o “Pai da Vacinação contra a Covid” no Brasil deu certo. Sem recuperar os votos paulistas, o agora ex-governador, não tem a menor chance no cenário eleitoral. E as promessas feitas pela direção do PSDB, na quinta-feira, podem não durar até a data da confirmação da candidatura presidencial em julho ou agosto.
De longe, Lula e Bolsonaro, que lideram as pesquisas em todos os cenários, aguardam a poeira abaixar para ver quem se beneficiou mais com a confusão provocada por Moro e Doria. Se a polarização persistir até outubro, e com a redução do número de candidatos na disputa, podemos ter um desfecho eleitoral já no primeiro turno.
Os dois principais candidatos ainda têm muito a mostrar para o eleitorado. E convencer, principalmente, as mulheres que representam 53% dos votantes e que devem ser o fiel da balança nessa disputa. Bolsonaro tem a vantagem de apresentar à população os feitos do governo nem sempre divulgados pela imprensa. Já Lula conta com a simpatia de muitos eleitores, mas carrega o peso das denúncias que marcaram a gestão do PT no governo. Vai ser difícil, no tiroteio das eleições, esconder o Mensalão, o Petrolão e outros tantos casos de corrupção denunciados nos últimos anos. Quem souber vender melhor o seu peixe dará um passo grande rumo à cadeira de presidente da República.
Nesses seis meses que faltam para as eleições nós, eleitores, devemos estar atentos a tudo. Buscar o máximo de informação confiável para, na hora de apertar o botão da urna, termos a certeza do Brasil que queremos pelos próximos quatro anos.