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Editorial

Consequências da pandemia na educação

Em avaliação, cai o desempenho de estudantes dos ensinos fundamental e médio na rede estadual

10 de Março de 2022 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: AGÊNCIA BRASIL)

Não é novidade para ninguém o quanto a pandemia do novo coronavírus afetou a vida de bilhões de pessoas em todo o mundo. Obviamente, todos os segmentos foram tremendamente impactados. Mas um deles, em especial, sofreu bastante com o fenômeno que assombrou o planeta -- e que felizmente, a cada dia que passa, parece estar mais sob controle e caminhando para um final.

Trata-se da educação, uma das áreas mais atingidas. Pela necessidade de isolamento social, as escolas tiveram de ser fechadas. Foram necessárias adaptações extremas para tentar manter o aprendizado remoto, com aulas à distância. Da noite para o dia, professores e alunos tiveram de incorporar novas técnicas de aprendizagem e uso de tecnologias para conseguir minimizar a inevitável perda. E por mais que se aprimore, o ensino remoto não substituiu o presencial.

Por causa da pandemia, as aulas no estado de São Paulo foram suspensas em março de 2020, com a adoção do ensino remoto. Em abril de 2021, as escolas foram novamente reabertas, mas com até 35% de presença de alunos. Somente em novembro ocorreu a volta obrigatória às aulas.

Ou seja, foram vários períodos sem aula presencial ou de forma parcial. O resultado disso foi uma considerável evasão escolar -- alunos que, por variados motivos, largaram os estudos. Milhares de crianças, adolescentes e jovens estudantes sofreram um prejuízo não somente de conhecimento. Em muitos casos, sobretudo nas camadas sociais mais desfavorecidas, houve também uma enorme perda da conexão com a escola. Para muitos, os bancos escolares significam muito mais do que somente um centro de estudo. São também uma extensão do lar, principalmente na questão da alimentação no caso das famílias mais pobres. E também servem de abrigo contra os perigos que a rua pode representar.

Pois bem, já começamos a registrar o impacto que todo esse quadro causou. Em 2021, os estudantes do último ano do ensino médio da rede estadual de São Paulo tiveram o pior desempenho em matemática dos últimos 11 anos. Isso é o que mostra o resultado do Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp), com provas aplicadas para analisar a situação da escolaridade básica paulista e ajudar gestores a monitorar as políticas voltadas à melhoria da educação.

No caso dos estudantes do 3º ano do ensino médio, a queda foi de 4,4%, passando de uma média de 276,6 pontos para 264,6. Até então, o resultado mais baixo havia sido registrado em 2013, quando a média de proficiência correspondeu a 268,7 pontos. Na avaliação de língua portuguesa, a variação negativa foi de 4,1% em relação a 2019 -- ano em que foi realizada a última prova, já que em 2020 ela não ocorreu --, passando de 274,5 pontos para 263,1. De acordo com a Secretaria Estadual de Educação, os dados demonstram que o aluno da última série do ensino médio está com uma defasagem de quase seis anos em matemática. Em relação à língua portuguesa, seu conhecimento corresponde ao de um estudante do 8º ano do ensino fundamental.

Não foram somente os alunos do ensino médio que apresentaram queda de desempenho. O recuo ocorreu com os alunos de todos os ciclos analisados pelo Saresp. No caso dos estudantes do 5º ano, o retrocesso de aprendizagem foi mais evidente. Para língua portuguesa, o recuo foi de 8,5%, passando de uma média de proficiência de 216,8 pontos para 198,2. Já em matemática, a queda no desempenho foi de 9,1%, de 231,3 pontos em 2019 para 210,2 pontos em 2021. Segundo a secretaria, os dados do Saresp demonstraram que um aluno que está no 5º ano tem a mesma proficiência em língua portuguesa de um estudante que ainda está no 3º ano do ensino fundamental. No caso da matemática, a situação é ainda pior: o aluno que está no 5º ano tem a mesma proficiência de um aluno do 2º ano do ensino fundamental. Mais da metade desses alunos (61,6% do total) não conseguiu resolver uma conta simples de subtração. Já entre os estudantes do 9º ano, a perda foi de 3,3% em língua portuguesa (com média de 241,3 pontos) e de 5% para matemática (246,7 pontos).

As provas do Saresp foram aplicadas em dezembro último para mais de 642 mil alunos do 5º e 9º anos do ensino fundamental e também para a 3ª série do ensino médio, todos da rede estadual.

É claro que existem outros fatores envolvidos nas análises. A própria qualidade do ensino público no País ainda é questionada. Contudo, segundo os especialistas, é fato que o principal fator para essa queda de desempenho foi a falta de aulas presenciais por conta da pandemia.

De acordo com técnicos da área, é difícil prever em quanto tempo será possível recuperar toda essa perda. Eles acreditam que pode haver um fator de recuperação mais rápido na base da pirâmide. Ou seja, assim como os alunos do 5º ano foram os que mais perderam, a volta presencial para eles fará com que recuperem mais rápido.

De todo modo, ao menos nos próximos três ou quatro anos, os estados e os municípios terão de fazer um esforço muito grande na recuperação dos níveis de 2019. Para melhorar o desempenho dos alunos de São Paulo, diversas estratégias estão sendo pensadas. Entre elas, o redesenho de materiais didáticos e aulas de reforço e de recuperação.

O primeiro passo nessa recuperação da aprendizagem, porém, é um só: fazer com que toda criança, adolescente ou jovem volte para a sala de aula.