Editorial
Economia dá uma sova nos pessimistas de plantão
Felizmente, o argumento para o copo meio cheio é bem mais assertivo: o desempenho brasileiro no ano passado foi o melhor da última década
Contrariando os prognósticos dos habituais (contra)economistas e os vaticínios dos pessimistas de plantão, a economia brasileira não apenas voltou a crescer no ano passado, como ainda recuperou com sobras as perdas registradas em 2020. De acordo com os dados divulgados nesta sexta-feira (4), pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Produto Interno Bruto (PIB) do País encerrou 2021 com crescimento de 4,6%, superando todas as marcas dos onze anos anteriores. Em números absolutos, a soma dos bens e serviços finais produzidos no País foi uma das maiores da história: totalizou R$ 8,7 trilhões.
O resultado é significativo e deve, sim, ser celebrado por todos, independentemente de se estar de acordo ou não com a política econômica colocada em prática pelo governo federal. O mérito, evidentemente, cabe aos diversos integrantes da complexa engrenagem da economia: dos cidadãos, que contribuem com a sua força de trabalho, aos empreendedores industriais, prestadores de serviços, comerciantes, guerreiros do agronegócio, enfim, àqueles que, apesar das enormes dificuldades impostas pelo recrudescimento da pandemia da Covid-19, mantiveram seus projetos e investimentos... não entregaram o jogo ou torceram para o jacaré.
Mesmo assim, os cultuadores do copo meio vazio devem, neste momento, estar propagando aos quatro ventos que o resultado do PIB em 2021 fez o País cair três posições no ranking das economias nacionais que mais se desenvolveram, retornando ao 15º lugar. Felizmente, o argumento para o copo meio cheio é bem mais assertivo: o desempenho da economia brasileira no ano passado foi o segundo melhor da série história de duas décadas, perdendo apenas para 2010, quando, vivenciando situação totalmente favorável, a somatória de todas as riquezas registradas em doze meses cresceu 7,6% na comparação com igual período de 2009.
Mais do que um frio número absoluto e isolado -- ou mesmo os percentuais complexos que representa -- o avanço de 4,6% na economia brasileira registrado no ano passado traduz, em uma análise mais ampla, o extraordinário poder de recuperação do sistema produtivo brasileiro. Vale lembrar que as perdas contabilizadas em 2020 haviam alcançado 3,9% na comparação com 2019. Em outras palavras, a indústria, as empresas prestadoras de serviços, os comércios e os agricultores recuperaram todo o estrago produzido dois anos atrás pelo novo coronavírus e ainda conseguiram colocar em cima quase um ponto percentual de vantagem.
Outros elementos captados pelo estudo do IBGE reforçam a esperança de que a recuperação iniciada no ano passado seja sustentável e possa ser mantida em 2022, apesar das justificativas renovadas para futuros tropeços anunciados, como a invasão da Ucrânia pela Rússia. O PIB per capta -- divisão do PIB nacional pelo número de habitantes --, por exemplo, saltou de R$ 35.172 em 2020, para R$ 40.688 no ano passado. O avanço de 3,9% em doze meses significa aumento de produtividade e, portanto, de competitividade da nossa produção na comparação com outros países.
Também merece avaliação mais detalhada o fato de o crescimento registrado em 2021 ter sido puxado pelas altas nos setores de serviços (4,7%) e da indústria (4,5%), que juntos representam 90% do PIB do País. Em anos anteriores, ao contrário, os resultados positivos eram reflexos do bom momento então vivenciado especificamente pelo agronegócio. No ano passado, no entanto, devido à estiagem severa e prolongada, o setor acabou amargando perda de 0,2% na comparação com 2020.
Vale registrar que todas as atividades que compõem os serviços cresceram no ano passado, com destaque para o transporte -- incluindo o de passageiros, nos últimos meses do ano --, armazenagem e correio (11,4%). Até mesmo as atividades ligadas à informação e à comunicação se expandiram acima da média (12,3%), puxadas pela internet e pelo desenvolvimento de sistemas.
O comércio de uma maneira geral cresceu 5,5% em 2021, capitaneado pelas atividades imobiliárias (2,2%), administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade sociais (1,5%) e atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (0,7%). Ainda conforme o IBGE, na indústria, o destaque positivo foi o desempenho da construção que, após cair 6,3% em 2020, subiu 9,7% em 2021.
Não obstante no ano em curso a economia brasileira possa sofrer trepidações por conta das eleições -- especialmente para a presidência da República -- e solavancos mais fortes advindos da crise no leste europeu em áreas sensíveis como derivados de petróleo e fertilizantes, uma análise isenta de fervores político-partidários demonstra motivos para esperar dias melhores. Considerado um termômetro natural, o comércio exterior vive um momento extremamente positivo sob vários aspectos. Impulsionadas pelas vendas em alta de grãos, especialmente soja -- ainda desconsiderando os reflexos da invasão russa na Ucrânia --, as exportações brasileiras superaram as importações em US$ 4,049 bilhões em fevereiro. O valor é o maior resultado para o mês desde 2017. Também representa mais do que o dobro do montante registrado no mesmo mês de 2021, quando alcançou US$ 1,836 bilhão.
Indo um pouco mais a fundo nas transações internacionais, percebe-se que tanto as exportações quanto as importações bateram recorde em fevereiro. As vendas somaram US$ 22,913 bilhões no mês (+32,6%). Já as compras efetuadas por empresas brasileiras no exterior chegaram a US$ 18,863 bilhões (+22,9%). Enquanto a elevação das vendas para outros países mostra que os nosso produtos estão competitivos lá fora, as compras que efetuamos atestam que estamos investindo na modernização dos nossos equipamentos, por exemplo. Ou seja, o sistemas está saudável e operando nos limites da normalidade.
A melhor notícia é que, apesar de ventos contrários e de alguns trechos em que as marés seguem no contrafluxo, o leme da economia brasileira pode e deve continuar na mão dos empresários e dos trabalhadores. Para isso, basta continuar acreditando, planejando, investido e trabalhando.