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Crise na Ucrânia

‘Nunca houve guerra boa e paz ruim’

A guerra na Ucrânia, independentemente de duração ou forma, trará consequências nefastas para todo o mundo

25 de Fevereiro de 2022 às 11:02
Cruzeiro do Sul [email protected]
Soldados russos a caminho de Kiev, capital da Ucrânia
Soldados russos a caminho de Kiev, capital da Ucrânia (Crédito: Reprodução/Twitter)

“A guerra é um lugar onde jovens que não se conhecem e não se odeiam se matam lutando entre si por decisão de velhos que se conhecem, se odeiam, mas não se matam”.

A frase acima é uma das tantas que exemplificam o horror de uma guerra. E esse sentimento voltou atormentar a humanidade desde quando tropas russas iniciaram, efetivamente, a invasão à Ucrânia. Após meses de ameaças e tentativas de se evitar o conflito, a diplomacia falhou miseravelmente e o pior aconteceu.

Com um discurso em que misturou falsos pretextos e desinformação, o presidente russo Vladimir Putin anunciou o início da guerra contra o país vizinho.

A decisão colocou um ponto final na esperança de milhões de pessoas em todo o planeta que torciam e lutavam para evitar o confronto armado.

A declaração de guerra de Putin é um ato injustificável e de desumanidade contra os ucranianos. Usando o pretexto de uma possível entrada da Ucrânia na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), aliança militar de países ocidentais, Putin na verdade está apenas colocando em prática mais uma etapa de sua sede de poder. Ex-agente da KGB e ex-chefe dos serviços secretos soviético e russo, ele não é um amigo da democracia. Tanto que comanda a Rússia desde a renúncia de Boris Ieltsin, em 1999. De lá para cá, Putin foi moldando seu completo controle sobre a gigante nação. São 22 anos como presidente ou primeiro-ministro e, independentemente do cargo, exercendo seu poder com mão de ferro.

Astuto, frio, cruel e calculista, Putin é impiedoso com os inimigos. Provas disso foram dadas ao longo de seu governo, como o tratamento aos separatistas chechenos e as mortes não esclarecidas de adversários políticos, oposicionistas e até jornalistas críticos ao regime. Desde que ascendeu ao poder, Putin sempre buscou resgatar o nacionalismo russo, com atitudes que lembram em parte o regime soviético e o czarismo. Ele basicamente nunca aceitou o fim da antiga República Soviética.

Nesse sentido, um de seus embates mais recentes foi o apoio dado a separatistas na Ucrânia, uma espécie de aperitivo para o que estava por vir.

A guerra, independentemente de sua duração ou forma, trará -- na verdade já está trazendo -- consequências nefastas para todo o mundo. Lamentavelmente, como em toda guerra, teremos a perda de vidas inocentes. Haverá medo, dor e sofrimento.

Do ponto de vista econômico, o conflito irá prejudicar bilhões de pessoas. Basta ver a reação dos mercados ontem, com bolsas de valores despencando. O preço do petróleo disparou, e pode acarretar aumento dos combustíveis. A queda da cotação do dólar que vinha sendo observada no Brasil nos últimos dias, por exemplo, já foi interrompida com nova alta assim que a guerra foi declarada.

O conflito é ruim para todos, até mesmo para os russos. O país irá sofrer forte reação da comunidade internacional, principalmente econômica. O presidente americano, Joe Biden, irá colocar em prática uma série de sanções como limitação de exportação, suspensão de negócios, bloqueio de investimentos e retaliações a bancos russos. Até o sistema espacial deve ser afetado. O Conselho da União Europeia também já informou que prorrogará por mais seis meses as sanções econômicas contra a Rússia.

No fundo, Putin colocou um fim na ilusão de que conflitos possam ser resolvidos por negociação, diplomacia e conversa. Após décadas de Guerra Fria, após décadas de risco de Holocausto Nuclear, o mundo havia se acostumado à estabilidade de um sistema internacional baseado em regras. Tivemos guerras nos últimos tempos, sim, mas sempre por motivos mais específicos como combate ao terrorismo ou conflitos regionais isolados. Agora, uma guerra por motivos geopolíticos e ainda mais entre dois países europeus, isso é algo assustador. Por isso foi tão grande o choque da comunidade internacional. A lição é muito clara. Aquilo que parece tão garantido como democracia, lei, segurança internacional, soberania dos países é tudo muito frágil. Muitas vezes uma pessoa pode determinar o destino da humanidade.

Por fim, uma frase que pode definir o momento vem do americano Benjamin Franklin. Diplomata, escritor, filósofo político e cientista -- é o criador do para-raio --, Franklin foi um dos signatários da Declaração da Independência dos EUA e da Constituição americana. Disse ele:

“Nunca houve uma guerra boa e uma paz ruim”.