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Editorial

Abuse da moderação

Dia Nacional de Combate ao Alcoolismo conscientiza sobre danos e doenças que o consumo excessivo de álcool pode causar

19 de Fevereiro de 2022 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: Reprodução da Internet)

Ontem, 18 de fevereiro, foi comemorado o Dia Nacional de Combate ao Alcoolismo, uma data destinada a conscientizar as pessoas sobre danos e doenças que o consumo excessivo de bebidas alcoólicas pode causar.

Curiosamente, neste ano, a data caiu numa sexta-feira, dia em que tradicionalmente muita gente toma uma cervejinha com os amigos para relaxar após uma semana de trabalho. É preciso, porém, ter consciência da diferença entre beber socialmente e não deixar, em hipótese alguma, que isso se transforme em vício.

Segundo pesquisa do Instituto Brasileiro do Fígado (Ibrafig), 55% da população brasileira -- ou seja, mais da metade -- tem o costume de beber socialmente. De acordo com o levantamento, uma em cada três pessoas no Brasil consome álcool pelo menos uma vez na semana. O consumo abusivo foi relatado por 18,8% dos entrevistados. O estudo mostra ainda que, em média, os brasileiros ingerem três doses de álcool por ocasião, o que representa cerca de 450 ml de vinho ou três latas de cerveja.

Há, portanto, que estar sempre atento para não haver exageros. De acordo com os médicos, quando a pessoa bebe, se sente relaxada, já que sua percepção diminui. No entanto, o consumo regular reduz os níveis de serotonina no cérebro, um dos neurotransmissores responsáveis pela sensação de prazer e bem-estar. Sendo assim, o álcool eleva a vulnerabilidade às crises de ansiedade e depressão. O inverso também pode acontecer, ou seja, quem não tem distúrbios pode desenvolvê-los com o consumo excessivo de álcool.

Segundo os especialistas, entre os fatores que podem desencadear a dependência alcoólica estão a predisposição genética, o início precoce, doenças mentais preexistentes, condições culturais como associar o álcool à diversão, histórico de abuso sexual, violência doméstica, curiosidade e insegurança. Um desses pontos chama a atenção. Quanto mais tardio o contato com bebidas alcoólicas, menor o risco de dependência. Alguns estudos mostram que adolescentes que começam a beber antes dos 15 anos têm quatro vezes mais risco de desenvolver uso abusivo de álcool do que quem inicia mais tarde, após os 21 anos. Também já foi relatado na literatura médica que os riscos para uso problemático do álcool diminuem cerca de 14% a cada ano que se adia o início do consumo. Então, é importante tentar evitar o contato com bebidas na adolescência.

O alcoolismo é uma doença com consequências negativas em todos os aspectos. Em relação à parte física, age silenciosamente no longo prazo, causando danos também à saúde psíquica. Há um leque de doenças relacionadas ao excesso de álcool, como hepatite, cirrose, hipertensão, aumento do risco de acidente vascular e distúrbios diversos. O alcoolismo pode ainda comprometer o raciocínio mesmo quando a pessoa está sóbria. Após vários anos de uso, há risco de déficits cognitivos que podem, inclusive, se tornar permanentes. Por exemplo, dificuldades de memória, redução da capacidade de abstração e de resolução de problemas, elementos importantes para a construção do raciocínio. Por tudo isso, a doença tem impacto também no âmbito familiar e profissional, muitas vezes causando a perda do emprego.

Um outro dado interessante apontado pelos especialistas é que o alcoolismo atinge homens e mulheres, mas, para elas, os problemas de saúde ocorrem com maior rapidez. Pesquisadores descobriram que as mulheres têm maior vulnerabilidade fisiológica ao álcool. Elas produzem quantidades menores da enzima que é liberada pelo fígado e usada para metabolizar o álcool. Ou seja, elas costumam começar a beber mais tarde do que os homens, mas levam menos tempo para se tornar dependentes e apresentar doenças hepáticas ou cardíacas, por exemplo.

Existem algumas dicas para pessoas que consomem em excesso e gostariam de parar de beber como não ter bebidas alcoólicas em casa, evitar situações em que acha que irá perder o controle do uso, aprender a dizer não, escolher um dia para deixar de beber e limitar o consumo a situações específicas. O principal, porém, é procurar ajuda profissional adequada.

Por fim, nos últimos dois anos surgiu uma nova questão, o efeito causado pela pandemia. De acordo com a mesma pesquisa do Ibrafig, 17,2% da população declarou aumento do consumo de álcool nesses tempos do novo coronavírus, principalmente por causa do isolamento social.

Portanto, todo cuidado com aquela cervejinha ou drinque. Abuse apenas da moderação.