Além do sofrimento, com milhares de doentes e mortos nos últimos dois anos, e do transtorno econômico e social que acarretou -- e ainda vem causando, mesmo em menor escala --, a pandemia do novo coronavírus também tem afetado diretamente diversos serviços. Acompanhamentos médicos foram deixados de lado ou adiados, cirurgias eletivas foram postergadas e o número de transplantes despencou, entre outras consequências. E um desses serviços -- justamente um dos mais relevantes -- vem sofrendo bastante: a doação de sangue.

A habitual preocupação com os estoques, principalmente durante o período de festas de fim de ano e férias, foi potencializada pela pandemia e pela nova onda de contágios com a variante Ômicron. As mudanças comportamentais decorrentes disso afastaram muitos doadores. Estima-se que, em 2021, o medo da doença causou diminuição da ordem de 20% no total de doações em comparação a 2020 -- que já tinha apresentado queda considerável em relação a 2019.

Especialistas dizem tratar-se de uma escassez sem precedentes. Explicam que já houve, sim, outras situações de falta de sangue, mas que elas sempre ocorreram de forma pontual, com curta duração. Agora, por conta da Covid, já são praticamente dois anos com estoques no limite. É um cenário global, que afeta bancos de sangue públicos e privados em todo o mundo.

Aqui no Brasil, já foi necessário acionar o plano nacional de contingência e transferir milhares de bolsas de sangue de unidades da Federação para outras onde o nível dos estoques era crítico.

O aumento de casos de gripe e de Covid também contribuiu para a redução do número de doações de sangue no Hemonúcleo de Sorocaba. De acordo com a Associação Beneficente de Coleta de Sangue (Colsan), entidade responsável pelo banco de sangue da cidade, houve redução de 50% nas doações nos últimos 15 dias. O local tem capacidade para coletar uma média de 130 doações por dia e precisa de um número estável para manter os estoques em níveis adequados. De acordo com a Colsan, a queda nas doações impactou as reservas e pode refletir negativamente nas próximas semanas. O abastecimento regular é necessário para o atendimento de todas as instituições de saúde da rede pública e privada do Departamento Regional de Saúde (DRS) de Sorocaba. Assim, o Hemonúcleo de Sorocaba precisa urgentemente de doadores para prevenir a situação crítica do estoque, que opera hoje com 75% das bolsas necessárias. Os sangues do tipo O+ e O- são os de maior necessidade, mas a redução está afetando todos os tipos sanguíneos.

A situação delicada não é exclusiva de Sorocaba. Diferentes regiões do País apresentam níveis preocupantes de estoques de sangue e de hemoderivados. No último dia 31, por exemplo, todos os tipos negativos de sangue estavam em nível emergencial -- o mais crítico -- na Fundação Pró-Sangue, que abastece mais de cem hospitais da Região Metropolitana de São Paulo.

Para piorar, ainda há agravantes além da diminuição da doação. Com o retorno da circulação das pessoas, voltaram também os acidentes de trânsito e as cirurgias, ou seja, a demanda por sangue voltou a crescer -- mas as doações continuam em um patamar aquém do ideal.

A população precisa se sensibilizar sobre a importância da doação de sangue, ainda mais neste momento. Não podemos correr o risco de um desabastecimento. Isso colocaria em risco a vida de pessoas que precisam receber transfusões ao serem submetidas a tratamentos, cirurgias e procedimentos médicos complexos, ou que tratam os efeitos de anemias crônicas, complicações da dengue, da febre amarela ou de câncer, entre outros casos.

Os doadores devem ficar atentos aos critérios e às recomendações médicas para saber quem pode e quem não pode doar. Para isso basta acessar o site www.colsan.org.br. E não precisam se preocupar em relação às medidas sanitárias. Durante a pandemia, o Hemonúcleo Sorocaba adotou todos os critérios estabelecidos para segurança dos doadores. Portanto, quem estiver apto a doar, que o faça. Toda a sociedade agradece.