Buscar no Cruzeiro

Buscar

Transporte

A necessária reforma do transporte público

Usuários insatisfeitos que possuem maior poder aquisitivo continuarão migrando para o transporte individual

15 de Janeiro de 2022 às 01:42
Cruzeiro do Sul [email protected]
Transporte coletivo
Transporte coletivo (Crédito: Divulgação/Secom Sorocaba )


Oportuno e conveniente o anúncio do projeto Viário Estrutural de Interesse dos Ônibus (Veio) feito pelo Cruzeiro do Sul em reportagem exclusiva publicada nesta sexta-feira (14). Desenvolvido pelo consórcio formado pela consultoria ambiental alemã Gitec e o Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (Itdp), em parceria com a Urbes - Trânsito e Transportes, o estudo visa à reestruturação do transporte coletivo sorocabano, incluindo a implantação de 128 quilômetros de corredores exclusivos para ônibus, assim como a ampliação do número de carros e de conexões.

As ações previstas integram uma proposta mais abrangente denominada Ação de Otimização da Rede de Transporte Público Coletivo da Cidade de Sorocaba e levam em consideração o programa Eficiência Energética na Mobilidade Urbana, em desenvolvimento no Ministério das Cidades. O programa é coordenado pela Secretaria Nacional de Mobilidade Urbana (Semob) e tem apoio do governo da República Federal da Alemanha, por meio de sua agência implementadora, a Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH.

Sorocabanos que já ultrapassaram a casa dos 40/50 anos de idade não devem ter recordações muito positivas do transporte coletivo na cidade. Na época em que todas as linhas convergiam para a praça Comendador Nicolau Scarpa, ao lado do Mercado Municipal, eram raros os ônibus que não trafegavam superlotados ou atrasados -- quando não com os dois inconvenientes ao mesmo tempo.

Isso, sem falar no desconforto a que os usuários eram submetidos, expostos ao sol e à chuva, além dos muitos carros que ficavam pelo caminho devido aos constantes problemas mecânicos ou até por conta de assaltos durante os percursos.

Desde então, as condições do sistema de transporte coletivo do município vêm melhorando significativamente. Ganhou dois terminais e vários miniterminais, chegaram os veículos articulados e algumas linhas evoluíram para o Bus Rapid Transit (BRT).

Apesar dessas e de outras evoluções ao longo de décadas de tentativas e erros, o serviço oferecido à população ainda está distante de um nível que possa ser considerado próximo do ideal. Passageiros continuam perdendo tempo excessivo para chegar ao seu destino, ônibus ainda descumprem os horários preestabelecidos e as licitações para a concessão dos serviços esbarram no desinteresse de empresas.

Especialistas em mobilidade urbana e engenheiros ouvidos recentemente pelo jornal ressaltaram que o atual sistema de transporte coletivo de Sorocaba não é dos piores, mas ainda demanda muitas melhorias e investimentos. Eles relacionaram falhas recorrentes na própria rede, como ônibus lotados, redução nos horários e greves de motoristas.

O panorama viário também entra na contabilidade dos inconvenientes: ruas esburacadas e avenidas estreitas, além dos frequentes congestionamentos, alagamentos e acidentes. A efetivação do BRT -- que pode proporcionar mais rapidez --, lamentavelmente, ainda não eliminou por completo os atrasos e as lotações excessivas. Isso demonstra a necessidade de adequações.

A integração do sistema com os demais modais e com as linhas regulares estão entre as prioridades para torná-lo mais ágil e evitar lotações.

Para os técnicos, enquanto questões básicas como essas continuarem pendentes os usuários insatisfeitos que possuem maior poder aquisitivo continuarão migrando para o transporte individual. As consequências se evidenciam de diversas formas: aumento de carros e motocicletas nas ruas, que, por sua vez, gera mais acidentes, multas por infrações de trânsito, poluição do meio ambiente, congestionamentos e danos à pavimentação, por exemplo.

O projeto Viário Estrutural de Interesse dos Ônibus (Veio), como proposto originalmente, contempla grande parte das expectativas da população. De maneira geral, ele prevê faixas exclusivas em 83% das ruas e avenidas que recebem o fluxo de ônibus, equivalendo a 128 quilômetros de vias.

Há, ainda, um tópico chamado de serviço de rede. No total, o sistema, quando implementado em sua totalidade, será composto por 109 serviços, sendo 18 linhas troncais, 68 linhas alimentadoras, 15 linhas rurais e sete linhas de reforço. Uma característica do projeto é a exclusão da área central da cidade de todas as rotas dos coletivos, com a decorrente integração das linhas a partir de locais adequados para as conexões, além da reestruturação do transporte coletivo rural.

O futuro de Sorocaba aponta ainda para outra questão, a de aglomerações urbanas e prediais, que tem relação com o transporte. É fundamental que a cidade possa se distribuir organizadamente, por meio de planos racionais de planejamento, assim teremos um fluxo melhor de veículos, incluindo as regiões menos privilegiadas.

No papel, o projeto viário apresentado abrange os pontos nevrálgicos do atual sistema de transporte coletivo sorocabano, ou seja, o que precisa ser feito para atender os usuários de forma conveniente. No entanto, ainda faltam definições importantes: quando as propostas serão executadas? quanto custarão? como a conta será paga?