Água
Apenas racionar não resolve crise hídrica
Se o apelo ao bom senso não for suficiente como convencimento contra o desperdício de água, então, resta o prejuízo no bolso
Após pouco mais de dois anos de trégua, os sorocabanos voltarão a conviver com o racionamento de água a partir da próxima segunda-feira (17). Na prática, a medida implica na interrupção periódica do abastecimento em bairros predefinidos, por um determinado número de horas. Inicialmente, a previsão é que o sistema mais conhecido como rodízio funcione durante 37 dias. Em 25 de fevereiro haverá uma reavaliação para determinar a necessidade de prolongar a estratégia por mais 30 dias.
As ações restritivas já estavam definidas desde meados de dezembro, porém o seu detalhamento foi anunciado apenas nesta quarta-feira (12), pelo prefeito Rodrigo Manga e pelo diretor-geral do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae), Ronald Pereira da Silva.
O objetivo é reduzir o consumo do “precioso líquido” -- como, acertadamente, referiam as gerações anteriores -- no município e, dessa maneira, tentar atenuar os impactos da crise hídrica mais grave enfrentada no último século na região de Sorocaba. Vale lembrar que as populações de outros oito municípios da Região Metropolitana de Sorocaba já enfrentam o desafio das torneiras secas há vários meses.
Embora racionar água não seja um procedimento inédito na cidade -- ao contrário, foi bastante comum em diversos momentos da história sorocabana --, as atuais circunstâncias são, certamente, as que exigem maior atenção das autoridades e requerem o mais elevado comprometimento por parte da população.
As justificativas estão nos próprios eventos geradores da crise. Se em ocasiões anteriores o abastecimento regular da população era ameaçado pelo baixo nível dos mananciais de menores dimensões, como Ipaneminha, Ferraz e Castelinho, que juntos contribuem com cerca de apenas 15% do consumo total da cidade, desta vez o cerne do problema é a gigantesca Itupararanga.
Responsável pelo fornecimento dos restantes 85% da água que chega às residências em empresas, atualmente Itupararanga está praticamente vazia. A situação é tão drástica que, apesar das chuvas mais volumosas registradas desde o início do verão, o nível do manancial está agora em torno de 25%, operando perigosamente dentro do chamado volume morto.
Nesta profundidade a água é de qualidade bastante inferior, demandando tratamento mais demorado e caro antes de poder ser enviada aos consumidores.
Por conta desse complicador, o racionamento previsto para ter início na próxima segunda-feira abrangerá todas as regiões do município, indistintamente. No rodízio de 2019, por exemplo, a interrupção no abastecimento ficou restrita a cerca de 150 bairros supridos pelos três mananciais menores.
Conforme o anúncio desta quarta-feira (12), o município foi dividido em quatro regiões. Cada uma delas ficará sem água nas torneiras durante 12 horas a cada quatro dias. Ou seja, um esquema 12h/84h, com repetição na mesma ordem, sucessivamente, enquanto durar o racionamento.
Como forma de preparação para as diversas manobras técnicas que serão necessárias para interromper e retomar o fornecimento de água, o rodízio será implantado em duas etapas. Entre os dias 17 e 24 de janeiro, as interrupções no fornecimento ocorrerão durante sete horas, das 22h às 5h. Em seguida, a partir do dia 25 de janeiro, o racionamento será ampliado para 12 horas, das 18h às 6h.
A meta do Saae é reduzir o consumo total do município em cerca de 20% durante a vigência do rodízio. Embora o volume de água que deixará de ser retirado de Itupararanga neste período seja considerável -- equivalendo ao consumo diário do município de Votorantim --, ainda é insuficiente para aliviar a situação da represa em um prazo curto ou até mesmo médio.
As estimativas mais otimistas são de que a recuperação do manancial nos atuais ritmos de consumo e de chuvas poderá demorar vários anos.
Assim o caminho para acelerar a recuperação do volume de água em Itupararanga e, consequentemente, abreviar os inconvenientes do rodízio, passa, necessariamente, pela colaboração de toda a população. Independentemente do racionamento imposto pelas autoridades, cada sorocabano pode -- e deve -- dar a sua contribuição na forma do consumo consciente.
Agora, mais do que nunca, deve-se evitar a lavagem de carros, calçadas e quintais e também regar plantas utilizando mangueira. Também necessário adiar os banhos prolongados e a troca da água das piscinas. Além disso, chegou a hora de acabar com todo e qualquer vazamento, seja nas torneiras, no chuveiro ou até mesmo nos registros.
Para quem não sabe, todos esses desperdícios são infrações previstas na legislação municipal e, caso comprovadas, geram punições, incluindo multas. Vale lembrar que, o infrator terá de desembolsar entre R$ 374,80 e R$ 1.878,60 na primeira autuação. Em caso de reincidência, o valor é cobrado em dobro.
Se o apelo ao bom senso não for suficiente como convencimento contra o desperdício de água, então, resta o prejuízo no bolso. Mas, para isso, as pessoas conscientes precisam ficar alertas. Seja persuadindo os inconsequentes, seja denunciando os gastos excessivos, todos estaremos cooperando para um desfecho mais rápido e menos traumático da crise hídrica para toda a cidade.