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Carnaval

Ainda não é hora de aglomerações

A conduta exemplar das escolas de samba e dos blocos carnavalescos sorocabanos constitui uma rara exceção no mar de insensatez

12 de Janeiro de 2022 às 01:54
Cruzeiro do Sul [email protected]
Escolas de samba da cidade, que desfilariam no Carnaval 2022, no Parque das Águas, cancelam programação.
Escolas de samba da cidade, que desfilariam no Carnaval 2022, no Parque das Águas, cancelam programação. (Crédito: Divulgação)

A prudência falou mais alto e Sorocaba abriu mão dos eventos carnavalescos pela segunda vez consecutiva, em nome da saúde e do bem-estar coletivo. O calendário situa a festa entre os próximos dias 26 de fevereiro e 1º de março, porém, a exemplo do que já ocorrera em 2021, neste ano o reinado de Momo ficará só no papel: a cidade não terá desfiles de escolas de samba e os blocos não sairão às ruas.

O sacrifício de uma das mais tradicionais manifestações da cultura nacional tem, novamente, por objetivos, evitar as aglomerações e outras características inerentes a esse tipo de atividade que possam propiciar a disseminação do novo coronavírus.

Vale salientar que a atitude ocorre em total consonância com o cenário atual da pandemia de Covid-19, devido à velocidade e à facilidade de contágio pela variante Ômicron. Embora detectada há apenas pouco mais de um mês na África do Sul, a nova cepa provocou uma explosão de infecções em todo o planeta, inclusive na Europa, nos EUA e no Brasil, onde os elevados índices de vacinação pareciam controlar a doença e permitiam que a vida começasse a voltar ao normal.

Embora os cientistas envolvidos no estudo das causas da pandemia, incluindo as lideranças da Organização Mundial da Saúde (OMS), ainda não tenham chegado a um consenso sobre a origem e as implicações da nova cepa, a maioria concorda que os fatores determinantes para a disseminação tão rápida tenham relação com as comemorações do Natal e do ano-novo.

Mesmo restritas, na maioria dos países, ao âmbito familiar, essas reuniões concentraram em espaços reduzidos -- geralmente sob um mesmo teto -- pessoas que não estavam mais em isolamento. Elas já mantinham, por exemplo, contato com colegas de trabalho e de escola. Estes, por sua vez, também haviam retornando a algumas esferas de convívio... e assim por diante.

O mais notável na decisão de cancelar o chamado “carnaval de rua” em Sorocaba -- tanto em 2022 como no ano passado -- é que a iniciativa não partiu do poder público. Ao invés de ser imposta por decretos ou normas governamentais, a suspensão dos desfiles e de outras programações destinadas ao público nasceu do discernimento das próprias lideranças e organizadores dos eventos, culminando com a concordância unânime das instituições ligadas às festividades.

A manifestação do bom senso dos carnavalescos sorocabanos começou a ser demostrada ainda em novembro do ano passado, quando a pandemia dava sinais de abrandamento e a maioria dos governos estaduais -- inclusive o paulista -- e municipais, focados na movimentação financeira, ainda nem cogitavam em cancelar a festa.

A União Sorocabana de Escolas de Samba (Uses), por decisão da maioria das suas oito escolas associadas, comunicou que não organizaria desfiles em 2022. A justificativa era a incerteza sobre a evolução da vacinação. Atitude idêntica e quase simultânea fora confirmada também pelo mais tradicional e antigo bloco carnavalesco da cidade, o “Depois a Gente se Vira”.

Nesta terça-feira (11), a Associação Cultural do Samba de Sorocaba (Acusa), entidade que reúne as demais escolas de samba de Sorocaba, concluiu o processo de consulta interna e também oficializou a decisão de cancelar os eventos previstos para 2022.

A programação iria ocorrer no Parque das Águas, com recursos captados junto à iniciativa privada, e incluiria desfile com a participação de quatro agremiações, além da festa de lançamento do Carnaval 2022 e da eleição da Corte do Carnaval, ambas agendadas para o dia 22 de fevereiro.

A conduta exemplar das escolas de samba e dos blocos carnavalescos sorocabanos, entretanto, constitui uma rara exceção no mar de insensatez que neste momento toma conta de alguns setores ligados ao entretenimento, esportes e até mesmo ao comércio.

Quem assistiu na TV à partida entre São José dos Campos e Corinthians, pela terceira rodada da Copa São Paulo de Futebol Júnior, na última segunda-feira (10), ficou surpreso com a superlotação do acanhado estádio do time do interior e, principalmente, pelo fato de as máscaras de proteção terem sido acintosamente excluídas.

Lamentavelmente, não é preciso ir tão longe para presenciar demonstrações explícitas de desapego à vida. Talvez no supermercado onde buscamos suprimentos para a casa já não encontremos o básico álcool em gel para higienização das mãos e, na hora de pagar a compra, as marcas no piso que deveriam continuar separando os clientes tenham perdido seu significado prático.

Que tal todos nós nos nortearmos pelo exemplo dos grupos carnavalescos da cidade e voltarmos a priorizar a vida? A nossa e as de todos os que nos rodeiam.