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Editorial

Abrindo as portas do Universo

O lançamento ao espaço do telescópio James Webb -- o mais revolucionário já construído -- marca uma nova era da exploração astronômica

28 de Dezembro de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: jody amiet / AFP (25/12/2021)

Depois de 35 anos e com mais de uma década de atraso, a espera chegou ao fim! Na manhã de sábado, o telescópio espacial James Webb, da Nasa, finalmente foi lançado rumo ao espaço.

O aparato partiu no compartimento de carga de um foguete Ariane 5, ejetado da base de lançamento da Agência Espacial Europeia (ESA) na Guiana Francesa, na América do Sul.

O lançamento marca uma nova era da exploração astronômica. Isso porque o James Webb é o telescópio mais revolucionário já construído. Ao custo de US$ 9 bilhões (cerca de R$ 50,6 bilhões), na missão mais cara da história da Nasa, ele é capaz de investigar, explorar e perscrutar o mais distante do Cosmos.

O poderoso telescópio será o principal observatório de ciências espaciais da próxima década. Ele é 100 vezes mais preciso e sensível do que seu antecessor, o famoso Hubble, que já tem 30 anos de vida e fez história nas últimas décadas, orbitando a Terra a 544 km de distância e completando uma volta no planeta a cada 90 minutos.

Basicamente, o James Webb detecta principalmente o espectro infravermelho da luz, e é capaz de ver através de nuvens de gás interestelar e poeira, que obscurecem a visão de grande parte dos telescópios atuais, mesmo os de última geração. Dessa forma, o novo aparato poderá “enxergar” onde nascem as estrelas, o que lhe permitirá “abrir” a janela do Universo. Seus objetivos científicos primordiais são estudar a formação e evolução das primeiras estrelas e galáxias, cerca de 13,5 bilhões de anos atrás, estudar a origem e a evolução de estrelas e sistemas planetários, e estudar as origens da vida.

O James Webb, conhecido pela sigla em inglês, JWST, foi idealizado em 1996, quando o projeto de ter um telescópio que observasse o universo profundo em uma órbita longínqua ainda se chamava Next Generation Space Telescope (NGST). Apenas em 2002, ele foi renomeado em homenagem a um antigo diretor da Nasa, James Edwin Webb (1906 - 1992), que supervisionou a agência americana na década de 1960 e liderou missões espaciais importantes, como o programa Apollo, que levou o homem à Lua pela primeira vez em 1969.

A construção do novo telescópio foi encabeçada pela Nasa e contou com a colaboração da Agência Espacial Europeia (ESA) e da Agência Espacial Canadense (CSA). O resultado foi um instrumento que não apenas representa o maior telescópio da história já enviado ao espaço, mas também o telescópio espacial mais poderoso de inúmeras formas. Em termos de especificações técnicas, o James Webb coleciona uma série impressionante de “selos inéditos”: é o primeiro telescópio espacial do seu tamanho e inaugura uma nova categoria de grandes dimensões; possui um espelho de diâmetro primário de aproximadamente 6,5 metros, quase duas vezes maior que o telescópio Herschel da ESA, detentor do recorde anterior; é o primeiro telescópio espacial com seu grau de sofisticação em instrumentos e sistemas; é o primeiro telescópio desta natureza que não estará localizado em órbita próxima à da Terra, ficando a cerca de 1,5 milhão de quilômetros de distância da Terra, muito além da distância até a Lua, além de outros aspectos.

A jornada do James Webb desde sua concepção até o lançamento, entretanto, não foi fácil. Uma série de eventos inoportunos, desde perda de dados de engenharia até problemas com gerenciamento de projetos, passando por problemas de financiamento (e, não podemos esquecer, a pandemia de coronavírus) foram atrasando continuamente a data de lançamento, ano após ano. A primeira estava prevista para 2007. De lá, foi adiada para 2011 e, depois, 2014. Foi para 2018, 2020 e, finalmente, 2021. Mesmo neste ano, foram vários adiamentos até que -- curiosamente ou numa estratégia de marketing -- ele acabou lançado no dia de Natal.

Foi, certamente, um dos melhores presentes para os amantes de astronomia. O James Webb está equipado para revolucionar a nossa compreensão do Cosmos. A possibilidade de encontrar coisas surpreendentes e totalmente inesperadas estará ao alcance de astrônomos do mundo todo, inclusive do Brasil.

O novo telescópio possui uma parabólica de banda larga que enviará, duas vezes ao dia, nada menos do que 28,6 GB de dados científicos para as equipes na Terra. Agora, é aguardar mais um pouco para começarmos a desfrutar de imagens e conhecimentos nunca antes imaginados a respeito das estrelas, galáxias e do Universo.