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Editorial

Hora de voltar para a escola!

Por conta da pandemia, evasão escolar disparou. Será preciso recuperar alunos e também o tempo perdido de aprendizagem

15 de Dezembro de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: Pixabay.com )

Uma das consequências mais nocivas da pandemia de coronavírus que assolou o mundo desde o início do ano passado foi a evasão escolar -- alunos que deixaram de frequentar a escola.

Evidentemente que esse impacto difere de país para país. Basicamente, de um modo geral, quanto menos estabelecido e desenvolvido em sua política educacional, maior a chance do país de perder alunos. Historicamente, o Brasil nunca teve um sistema educacional de primeira linha. Há décadas, nossas falhas e defasagens do ensino público são gritantes. Com a pandemia, esse quadro se acentuou.

O drama já era previsível ao longo da pandemia. De acordo com relatório da organização Todos Pela Educação, divulgado no último dia 2, cerca de 244 mil crianças e adolescentes entre seis e 14 anos estavam fora da escola no segundo trimestre de 2021. O número representa um aumento de 171% em comparação a 2019, quando 90 mil crianças estavam fora da escola. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), que abrange os efeitos da pandemia. O levantamento também aponta que houve queda no percentual de pessoas da mesma faixa etária que estavam matriculadas no ensino fundamental ou médio. Enquanto em 2019, o índice de matriculados era de 99%, em 2021 esse índice caiu para 96,2%, menor valor desde 2012.

Um dos motivos dessa evasão -- o principal deles, por sinal -- foi a ineficiência do ensino remoto no País. Ninguém estava preparado para enfrentar uma pandemia como a vista com a chegada do novo coronavírus. O planeta foi virado do avesso, e as pessoas tiveram de se reinventar, se adaptar, em praticamente todos os segmentos. Não foi diferente com a educação escolar. O ensino remoto não teve resposta adequada no Brasil -- assim como em muitos países. Muitas crianças tiveram pouquíssimo acesso a qualquer ensino durante o fechamento de escolas. Então, é até natural e esperado que tenha ocorrido esse distanciamento.

De acordo com especialistas no tema, o fechamento prolongado das escolas criou um preocupante desengajamento, principalmente entre os alunos mais pobres. Basta frequentarmos as ruas para percebemos o aumento de crianças trabalhando nos semáforos e cruzamentos, enquanto deveriam estar na escola.

De acordo com estimativas do Banco Mundial, o abandono escolar poderia aumentar 15% na pandemia, e a América Latina e o Caribe teriam a segunda maior alta mundial absoluta de pobreza de aprendizagem. O custo econômico agregado das perdas em capital humano e produtividade somaria US$ 1,7 trilhão, conforme o banco.

Portanto, agora que já aprendemos a conviver com o coronavírus, agora que temos vacinas disponíveis, que já sabemos lidar melhor com a doença, é hora de toda a sociedade se esforçar para tentar trazer de volta para o sistema educacional as crianças e jovens que deixaram a escola.

É fundamental que a evasão escolar diminua pois, além de recuperar os estudantes, ainda será preciso recuperar o tempo perdido de ensino. Ou seja, será necessário ajudar os estudantes a superar os enormes desafios de aprendizado, que certamente surgirão no futuro. Foi um tempo longo e precioso perdido.

O poder público precisa se atentar para essa situação e direcionar esforços e investimentos nisso. Só assim será possível atenuar o crítico cenário na educação brasileira. Não é somente o futuro dessas crianças e adolescentes que está em jogo, é também o futuro do Brasil.