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Editorial

Brasil patina na reciclagem de lixo

Conforme o Índice de Sustentabilidade Urbana, metade das cidades brasileiras ainda descarta seu lixo de forma inadequada e taxa de reciclagem gira em torno de 3,5%

30 de Novembro de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: Vinicius Fonseca / Arquivo JCS (5/6/2020))

De uns tempos para cá, o lixo -- e sua reciclagem -- se transformou numa forma de ganhar dinheiro e gerar emprego. Isso sem falar na importante questão ambiental na qual está inserido.

Infelizmente, trata-se de é uma fonte de riqueza ainda pouco explorada no Brasil. Estima-se que a cada ano sejam desperdiçados cerca de R$ 5 bilhões no País pelo fato de que nem tudo que poderia ser reciclado é aproveitado. O Brasil é um grande reciclador de alumínio, por exemplo, mas recicla pouco os vidros, plásticos, papel, ferro e pneus.

Os empresários, atualmente, já enxergam o lixo com olhos de investidores, usando novas tecnologias em projetos de ativos sanitários e na geração de energia a partir de resíduos. Mundo afora, crescem as indústrias de reciclagem, com máquinas desenvolvidas para fazer a triagem automática. O lixo seco em flocos ou fardos é vendido como combustível para alimentar fornos e caldeiras. O biogás, gás resultante da decomposição do lixo do aterro, já é uma realidade. Os materiais reciclados não requerem muita energia para serem remanufaturados em comparação com a conversão de novas matérias-primas em produtos utilizáveis, portanto, geram economia. A partir de reciclados são produzidos produtos como papel, folhas de alumínio, lâminas de borracha, fibras e energia elétrica.

Porém, o Brasil está atrasado nessa corrida. Milhares de toneladas de lixo produzidas diariamente são desprezadas no País. Um dos retratos da indiferença é que entre os resíduos sólidos a maior parte é comida jogada fora. Além de não ser dada a quem realmente precisa, aumenta-se a poluição, pois só uma parcela mínima vai para compostagem que a transforma em adubo.

Reciclar é mais barato do que jogar fora. Afinal, há também o custo ambiental. Sobras orgânicas reaproveitadas servem para geração de energia enquanto que abandonadas nos aterros causam grande impacto ambiental.

De acordo com o Índice de Sustentabilidade Urbana (ISLU) -- indicador elaborado pelo Sindicato Nacional de Limpeza Urbana (Selurb), com a PwC Brasil -- metade das cidades brasileiras ainda descarta seu lixo de forma ambientalmente inadequada. A situação pode levar o País a descumprir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o tema. Nos últimos cinco anos, o avanço no setor foi quase nenhum. O documento aponta que, em 2016, 55% das cidades ainda utilizavam lixões a céu aberto para o descarte. Na comparação com os números atuais, de 2021, a queda foi de apenas um ponto percentual por ano.

O setor de saneamento representa 5% das emissões de gases-estufa do País, por causa dos lixões a céu aberto. A destinação ambientalmente adequada do lixo contribuiria significativamente para o País cumprir o compromisso de redução de 30% da emissão de gás metano, conforme meta assumida pelo Brasil em acordos internacionais.

O ISLU mede o desenvolvimento das cidades a partir da implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). O estudo é feito pelo cruzamento dos dados oficiais mais recentes inseridos pelos municípios no Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS). Quatro aspectos são considerados: Engajamento do Município (população atendida e população total); Sustentabilidade Financeira (arrecadação específica menos despesa do serviço sobre a despesa total do município); Recuperação dos Recursos Coletados (material reciclável recuperado sobre total coletado); e Impacto Ambiental (quantidade destinada incorretamente sobre a população atendida).

O estudo analisou 3.572 municípios em todo o País. A cobertura da coleta porta a porta se manteve na casa dos 76%, com um quarto da população sem acesso ao serviço. Já a taxa de reciclagem patina em torno 3,5% nos últimos cinco anos. A análise levou em consideração o ritmo de progresso dos últimos anos.

A Região Sul é a que apresenta pontuação mais alta no ISLU, com média de 0,545 e índice de reciclagem de 7,2%, o melhor do País. O Sul também se destaca pelo total de municípios que já aplicam algum modelo de cobrança, o equivalente a 83,5%. No entanto, ao observar os resultados do Nordeste, a lógica se inverte. Com a média mais baixa do País, de 0,351, e pior índice de reciclagem, de 0,30%, apenas 7,6% das cidades da região têm cobrança específica. Só 13,3% fazem a destinação adequada do lixo. Em segundo lugar na pontuação, o Sudeste também apresenta a melhor taxa de coleta. Com cobertura de 85,5%, a região é a que mais se aproxima da universalização dos serviços. No entanto, para melhorar a média de 0,487 e alcançar o nível médio estabelecido pelo ISLU, acima de 0,600, ainda precisa avançar na destinação correta e na reciclagem dos resíduos.

Nesse sentido, é importante que a comunidade participe da coleta seletiva e de toda ação que contribua para uma melhor sustentabilidade. Geralmente, em uma casa ou empresa, há mais resíduos recicláveis do que não recicláveis. Adotar essa ideia e ter ações diárias de reciclagem não requer mudanças de estilo de vida tão dramáticas como pode parecer à primeira vista. Portanto, faça a sua parte!