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Editorial

O alto preço da impunidade

Suspeito e provável autor de crime contra a ex-enteada, cometido em Sorocaba, tinha histórico criminal

26 de Novembro de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: Pedro Negrão / Arquivo JCS (1/10/2013))

Alguns casos policias recentes ocorridos em Sorocaba e região trouxeram choque e indignação para a população. Houve a bárbara tortura de um menino autista por parte de um casal, a morte de um adolescente após discussão com seguranças em um bar e a mulher covardemente assassinada por um pedreiro em Itapetininga, entre outros.

O mais recente desdobramento aconteceu ontem, quando a Polícia Civil prendeu Eduardo de Freitas Santos, ex-padrasto da vendedora, estudante e influenciadora digital Anna Carolina Pascuin Nicoletti, de 24 anos, encontrada morta em um apartamento no bairro Wanel Ville mo último dia 13.

Ele é o principal suspeito e tudo indica ser o autor do crime brutal. De acordo com a Divisão Especializada de Investigações Criminais (Deic), o homem, que é advogado, foi capturado em Pilar do Sul. Santos foi detido com uma prisão temporária decretada pela Justiça do município e encaminhado à Deic de Sorocaba para ser interrogado.

Pelas matérias e relatos divulgados até agora, o suspeito é um completo psicopata. Ele foi companheiro da mãe da vítima por muitos anos e sempre teve comportamento possessivo. Após o fim do relacionamento, tornou-se completamente obsessivo por Anna Carolina. Há várias ocorrências com demonstração de comportamento abusivo, perseguição e ameaças. Até tiro o sujeito deu como forma de intimidação. Tanto que mãe e filha possuíam uma medida restritiva contra ele. A situação era tão crítica que a vítima mudou-se de Pilar do Sul para Sorocaba a fim de tentar escapar das investidas do ex-padrasto. Infelizmente, foi tudo em vão. Ela acabou assassinada, sendo achada com um tiro na cabeça no apartamento onde vivia desde janeiro.

Mas agora vem o mais tenebroso dessa história. Além de todo histórico de agressão, essa não é a primeira vez que Santos se envolve em um crime. Ele já havia sido preso em 2017, condenado por estuprar uma adolescente de 17 anos -- que trabalhava em seu escritório -- e divulgar vídeos de sexo com a menor na internet.

Apesar da condenação de oito anos de prisão, a pena foi reduzida para seis anos e dois meses. No entanto -- pasmem, ele passou somente 11 meses na cadeia.

É ou não é para ficar indignado com um absurdo desses? Segundo a ex-companheira, uma cliente do suspeito também já havia o denunciado por estupro. Em defesa, o advogado alegou que a mulher tinha uma dívida com ele e, por isso, levantou falso testemunho. Por fim, a vítima atual, Anna Carolina, já havia denunciado o ex-padrasto por violência doméstica em 2020, logo após ele ter saído da prisão.

Enfim, o homem em questão é um psicopata, obsessivo e, agora, assassino. Mas como uma pessoa com esse histórico, com essa condenação, estava à solta nas ruas? Cadê nosso sistema judiciário? Cadê a competência para analisar todo o caso e histórico antes de assinar um alvará de soltura de um sujeito desses? De que adianta as medidas protetivas se elas não são respeitadas nem controladas?

São muitas perguntas e nenhuma resposta. A única resposta para tudo isso tem somente uma palavra. Impunidade. É isso que impera no Brasil, deixando os criminosos tranquilos para praticarem seus crimes e delitos. Eles sabem que, com um bom advogado, aliado ao frágil Código Penal e às falhas de nosso sistema jurídico, as chances de saírem ilesos são gigantescas.

A impunidade é o mal deste País, e ela vem de cima, da falta de exemplo de políticos, magistrados e autoridades, da falta de prisão em segunda instância, do costume de “dar um jeitinho”, do toma lá, dá cá. Até quando aguentaremos esse escárnio?