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Pela história

Uma república de 132 anos

Todas essas insatisfações, em algum momento na década de 1880, tornaram-se uma conspiração

16 de Novembro de 2021 às 00:56
Cruzeiro do Sul [email protected]
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A Proclamação da República, celebrada nesta segunda-feira (15) em todo o País, aconteceu no dia 15 de novembro de 1889 e foi resultado de uma articulação entre militares e civis insatisfeitos com o regime monárquico.

Foi o desfecho de um longo processo de crise da monarquia no Brasil, que começou a entrar em decadência logo após o fim da Guerra do Paraguai, em 1870. Desde então, havia insatisfação de militares com salários e carreira, além de exigirem o direito de manifestar suas posições políticas (algo que tinha sido proibido pela monarquia).

Também havia atritos entre Pedro II e as elites emergentes, sobretudo a agrária, por conta das ideias abolicionistas que viriam a culminar na Lei Áurea que libertou os escravos em 1888.

Por fim, a questão política era o ponto nevrálgico, com briga ferrenha entre conservadores e liberais. Na segunda metade do século 19, o eixo econômico do País tinha consolidado sua mudança do Nordeste para o Sudeste.

A província de São Paulo já havia se colocado como o grande centro econômico do Brasil, mas as elites dessa província se incomodavam pelo fato de que sua representação na política era pequena. Outras províncias economicamente decadentes, como o Rio de Janeiro e a Bahia, gozavam de grande representatividade política.

Havia então insatisfações com a monarquia em diferentes camadas da nossa sociedade. Elites emergentes, militares, políticos, classes populares e escravos eram todos grupos com críticas à monarquia. Todas essas insatisfações, em algum momento na década de 1880, tornaram-se uma conspiração. Sem resistência, a monarquia caiu facilmente. O imperador e a família real foram expulsos do Brasil em 16 de novembro e, um dia depois, embarcaram de volta para a Europa.

Evidentemente que a instauração da República mudou radicalmente a história brasileira. Trocaram-se os símbolos nacionais e novos heróis, como Tiradentes, foram estabelecidos. Além da mudança da forma de governo, o Brasil passou a ser uma nação com poder descentralizado, pois foi implantado o federalismo. Mudanças aconteceram no sistema eleitoral, já que o critério censitário deu lugar ao sufrágio (voto) universal naquele momento para homens com mais de 21 anos.

O Brasil se tornou um Estado laico, e o presidencialismo foi estabelecido como sistema de governo. A organização da República tomou forma com a promulgação de uma nova Constituição ainda em 1889. Ou seja, a década de 1890 ficou marcada por ser um período de disputa entre republicanos e monarquistas.

Outra curiosidade é que, apesar do nome e diferentemente do grito da independência proferido por Dom Pedro I --, não houve uma proclamação propriamente dita. Na tarde de 15 de novembro de 1889, mesmo combalido por estar adoecido, Deodoro decidiu apoiar o crescente movimento contra a monarquia de Pedro II.

Vizinho do então Campo da Aclimação, no Rio de Janeiro, então capital do Brasil, ele desceu de casa e se encontrou com militares enfileirados diante do quartel-general do Império -- onde hoje é o Palácio Duque de Caxias. Horas mais tarde, não muito longe dali, no Arco do Teles, na Praça 15, a Câmara de Vereadores realizava a solenidade que pôs fim ao Império do Brasil.

Portanto, a República, na verdade, foi “proclamada” à noite. Entra aí mais uma curiosidade em relação à data e símbolos. A esfera azul com estrelas na bandeira brasileira deveria representar o céu do Rio de Janeiro no dia 15 de novembro de 1889. Isso gerou muita discussão, pois as pessoas não viam o céu como o que aparecia na bandeira já que as estrelas foram representadas como se estivessem sendo vistas de outro ponto do universo.

Cada estrela da bandeira corresponde a um Estado do Brasil. Com o passar do tempo, novos Estados foram sendo criados e outros extintos. Daí veio a polêmica, a dúvida se as estrelas da bandeira deveriam ser alteradas.

Apenas em 1992 (mais de cem anos depois de ter sido criada), uma lei estabeleceu que sempre que houver qualquer mudança nos Estados do Brasil, a bandeira deverá ser atualizada. Novos Estados serão representados por novas estrelas, e os Estados extintos terão suas estrelas retiradas.

Enfim, voltando ao 15 de novembro, são 132 anos de uma república ainda nova, de potencial enorme, mas repleta de defeitos, sobretudo na política e em suas leis. Que a República encontre o caminho certo para crescer e fazer justiça, sobretudo a social.