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Editorial

Emprego não cai do céu

O histórico e as características da economia nacional nos aconselham a reunir os esforços privados em um grande mutirão de apoio e complementação aos programas públicos

07 de Novembro de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: FÁBIO ROGÉRIO / ARQUIVO JCS (17/3/2021))

Embora as estatísticas oficiais confirmem que o Brasil está, gradual e continuamente, conseguindo refrear o flagelo do desemprego que assola todo o planeta -- engatado à pandemia de Covid-19 --, não é saudável abandonar o barco ao sabor das ondas ou na exclusiva dependência das manobras do timoneiro governamental. O histórico e as características da economia nacional nos aconselham a reunir os esforços privados em um grande mutirão de apoio e complementação aos programas públicos. Somente assim a recuperação que todos almejamos poderá ser acelerada, consistente e sustentável.

Vale lembrar que, diferentemente do que ocorreu em muitos países, o novo coronavírus apenas agravou a crise socioeconômica que havia anos provocava quebradeira e demissões em todos os setores brasileiros. Considerando o copo meio cheio, não podemos ignorar que tanto o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério da Economia, quanto a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua, do IBGE, vêm apontando, mês a mês, a geração de postos de trabalho. O Caged, por exemplo, mantém a escrita de saldo positivo no emprego formal desde janeiro, registrando a abertura de 313,9 mil vagas com carteira assinada em setembro. Houve desaceleração na comparação com agosto (quando o saldo foi de 368,1 mil), mas, ainda assim, foi o terceiro melhor mês de 2021 na geração de emprego. Aspecto a se ressaltar é o fato de o desempenho positivo ter sido verificado em todos os cinco grandes setores da economia -- serviços, indústria, comércio, construção e agropecuária -- e em todos os Estados e no Distrito Federal.

Os bons resultados são ratificados pela Pnad Contínua, que utiliza uma metodologia diferente do Caged. Conforme o IBGE, o índice de desemprego caiu em setembro pelo quarto mês consecutivo. Após o recorde de 14,7% registrado nos trimestres móveis encerrados em março e abril de 2021, a desocupação começou a recuar: 14,6%, 14,1%, 13,7% e 13,2% nos trimestres encerrados, respectivamente, em maio, junho, julho e agosto. Além disso, setembro registrou, pela primeira vez em 12 meses, o total de brasileiros desempregados inferior de 14 milhões, ficando em 13,656 milhões.

A perspectiva de copo meio vazio, no entanto, está igualmente implícita nos dados apresentados pelo IBGE. A contagem dos empregados não considera apenas quem trabalha com carteira assinada, mas também engloba os informais e os que trabalham por conta própria. O sinal de alerta fica mais evidente quando se percebe que são justamente essas duas categorias as principais responsáveis pela queda recente do desemprego no País. Na prática, isso demonstra que ainda há limitadores para o crescimento do emprego formal, justamente o que traz mais renda e segurança para o trabalhador.

Não é tão ruim como não ter recuperação nenhuma ou registrar aumento do desemprego. Isso ocorre atualmente na África do Sul, onde 29,7% dos trabalhadores estão sem qualquer ocupação, no Sudão (28,4%) e até em países mais desenvolvidos, como Espanha (17,5%) e Grécia (17,2%). Porém, ainda estamos muito distantes do topo do ranking do emprego neste momento, ocupado pela Tailândia, onde apenas 1,5% da força de trabalho está desocupada. A lista elaborada pela Austin Rating, com base em projeções do Fundo Monetário Nacional (FMI), aponta apenas três nações sul-americanas em situação mais confortável do que o Brasil no que se refere a desemprego: Chile, com 9%, Argentina (10,6%) e Colômbia (12,8%).

Felizmente, existem caminhos capazes de desviar os brasileiros do caos vivenciado na África do Sul e até mesmo atalhos que levam ao trajeto seguido pela Tailândia. Eles passam, por exemplo, pela capacitação ou recapacitação da mão de obra, segue pelo incentivo ao empreendedorismo, passam pela desburocratização das atividades e têm complemento na redução da informalidade.

Diversas práticas sadias de combate ao desemprego já estão sendo praticados em Sorocaba. Opções que apresentam resultados a curto prazo são a Universidade do Trabalhador, Empreendedor e Negócios (Uniten) e a parceria entre o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e a Secretaria Municipal da Cidadania para levar cursos gratuitos de qualificação profissional aos Centros de Referência em Assistência Social (Cras). Programas desenvolvidos sob medida abrem oportunidades de trabalho e renda para setores específicos, incluindo as pessoas mais vulneráveis, como os jovens em busca do primeiro emprego, os desempregados sem qualificação e o público LGBT.

Não obstante a população já disponha de algumas opções de retorno ou mesmo de entrada no mercado de trabalho, essa estratégia carece de reforços urgentes. Para isso, são necessários planejamento e investimento. O que pode -- na verdade, deve -- ocorrer por meio da união dos esforços da iniciativa privada com a estrutura pública. A retomada das atividades na rede Sabe Tudo, agora denominada programa Conect@, é uma das propostas que precisam sair do papel o mais rápido possível.