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Editorial

Clima: menos promessas e mais ação

A chave para o Brasil é promover uma "economia verde", com proteção do meio ambiente, incentivos, atração de investimentos e criação de "empregos verdes"

05 de Novembro de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Floresta amazônica vista de cima.
Floresta amazônica vista de cima. (Crédito: Divulgação / TV Brasil)

Um tema de importância máxima para o planeta, e consequentemente para o Brasil, está sendo tratado nesses dias durante a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26), que começou domingo e segue até dia 12, em Glasgow, na Escócia: o aquecimento global e tudo o que o cerca, como desmatamentos, emissão de gases e redução de carbono. O encontro reúne mais de 190 países para discutir uma série de medidas.

No evento, os líderes mundiais comprometeram-se a conter o desflorestamento até 2030. Uma declaração conjunta foi assinada por mais de 100 países -- incluindo o Brasil -- onde se situam 85% das florestas mundiais, entre elas a Amazônica. A iniciativa, que se beneficiará de um financiamento público e privado de US$ 19,2 bilhões, é essencial para alcançar o objetivo de limitar o aquecimento global a 1,5 grau Celsius acima dos valores médios da era pré-industrial. Se cumprido, o acordo é algo histórico, sem precedentes para a proteção e recuperação das florestas mundiais. E não são apenas países que se juntaram a esse compromisso. Empresas, grupos financeiros e líderes não estatais também embarcaram nessa missão.

Os ambientalistas, contudo, consideram que a crônica falta de urgência continua. As florestas seguem recuando em ritmo alarmante pelo mundo -- estudo britânico aponta uma área de 27 campos de futebol por minuto. Em 2014, quando foi feita a Declaração de Nova York sobre as Florestas, muitos países se comprometeram a reduzir pela metade a desflorestação em 2020 e a pôr-lhe fim em 2030.

Evidentemente que o primeiro objetivo daquele acordo falhou. Para organizações não governamentais (ONGs), o objetivo de 2030 está muito distante, dando margem a mais uma década de adiamentos e desmatamentos. Atualmente, quase um quarto (23%) das emissões mundiais de gases com efeito estufa provém de atividades como a agricultura e a indústria madeireira.

O Brasil é peça-chave nessa equação ambiental. O País possui a maior biodiversidade do planeta, a maior e mais rica cobertura florestal e uma das maiores áreas oceânicas. Portanto, no combate à mudança do clima, o Brasil precisa ser parte da solução, de forma consciente, responsável e inspiradora.

Para isso acontecer, é preciso trazer as preocupações ambientais para o centro da agenda econômica. Um bom passo nesse sentido foi o lançamento, semana passada, do Programa Nacional de Crescimento Verde, que tem como objetivo aliar a redução das emissões de carbono, a conservação de florestas e o uso racional de recursos naturais com geração de emprego verde e crescimento econômico.

Nessa linha, o governo brasileiro anunciou na COP26 uma nova meta de redução de emissões de gases do efeito estufa, mais ambiciosa, aumentando de 43% para 50% até 2030. Além disso o País também se comprometeu a acabar com o desmatamento ilegal até 2028 e a atingir a neutralidade de carbono até 2050. O compromisso brasileiro foi elogiado por diversos países. Mas conseguirá ser implantado?

A chave para o Brasil é promover uma “economia verde”, com ações de proteção e conservação do meio ambiente por meio de incentivos econômicos, direcionando recursos e atraindo investimentos. Há inúmeras oportunidades, como o mercado de carbono zero. Se for feita com seriedade, a “economia verde” pode ajudar o País a conservar a floresta, melhorar o uso dos recursos naturais, reduzir emissões de gases e, principalmente, gerar “empregos verdes”. É uma oportunidade sem paralelo.

Portanto, o Brasil tem a faca e o queijo na mão para deixar de ser o “vilão” do clima e se transformar em bom exemplo de conservação e geração de recurso econômico “verde”. Mas para isso é preciso vontade política e trabalho dos governos em todas as esferas. Após falhar na questão das queimadas e ocupações ilegais, o governo melhorou seus projetos para o COP26, com encontros bilaterais prévios, busca de diálogo e pontos de convergência, além de reuniões técnicas. Agora é preciso colocar em prática tudo isso.

O Brasil não precisa ficar pedindo dinheiro internacional para proteger suas florestas. Basta investir num mercado ambiental inteligente. Manter a floresta em pé é a grande fortuna do País.