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Editorial

Contra um vírus na economia

Acumulado da inflação em 12 meses atingiu a marca de dois dígitos, com variação de 10,25%

09 de Outubro de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: MARCELLO CASAL JR. / ARQUIVO AGÊNCIA BRASIL)

Além da pandemia do coronavírus, há outro inimigo da população brasileira que precisa ser combatido para que não cause estragos, prejuízos, dor de cabeça e preocupação: a inflação.

Após alta de 0,87% em agosto, a inflação oficial brasileira, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), ficou em 1,16% em setembro, no maior resultado para o mês desde 1994, com o Plano Real. Assim, o acumulado em 12 meses atingiu a marca de dois dígitos, com variação de 10,25%. É a primeira vez que isso volta a acontecer desde fevereiro de 2016.

Antes de tudo, porém, recordemos que o conceito de inflação é a alta generalizada de preços no mercado, seja o do consumo comum, o de capitais, o de crédito, entre outros. Também é importante lembrar que a medida não fornece um número perfeito já que a inflação é formada por uma cesta variada de produtos.

Portanto, podemos dizer que a inflação é um conceito diversificado conforme os critérios e os índices escolhidos. Ainda assim, esses são índices importantes para a compreensão do movimento inflacionário no País.

Nesse sentido, a inflação de dois dígitos reforça negativamente a expectativa para o movimento dos preços. Ela tem muito a ver com o clima de insegurança. Quando as pessoas acreditam que a inflação vai aumentar, agem em função disso e aumentam os preços.

E, diante de uma série de problemas enfrentados pelo Brasil atualmente, as perspectivas de crescimento econômico são colocadas em xeque.

O maior deles, sem dúvida, é a pandemia que atingiu todo o mundo e contribuiu com a disparada da inflação nos últimos meses. O consumo médio global caiu porque as pessoas não saíam de casa. No Brasil, por exemplo, ficaram receosas de gastar em meio a dúvidas sobre o futuro e o quadro de desemprego.

Segundo especialistas, com a retomada da economia, as pessoas voltaram a consumir. Ao mesmo tempo, varejo e indústria não tinham oferta de produtos suficiente para dar conta da demanda. Fora a pandemia, há outros motivos, como por exemplo a desvalorização do real frente ao dólar e o consequente impacto nos produtos importados.

Outro fator diz respeito à safra, com redução significativa no resultado da colheita, algo que aumentou os preços dos grãos e, consequentemente, dos alimentos vendidos e consumidos pela população. Para completar o cenário, o Brasil passa por uma crise hídrica, com o esvaziamento dos reservatórios para a produção de energia hidrelétrica. Há, assim, a busca por outras fontes energéticas mais caras, como as usinas termelétricas, o que reforça a alta do preço da energia.

E por que precisamos combater a inflação? Porque ela é muito ruim para economia real pois corrói o valor do dinheiro, e consequentemente diminui a expectativa de atividade econômica. A alta da inflação impacta em várias frentes. Os empresários tendem a ter menor recompensa financeira do que teriam por conta da incerteza e enxugam contratação, expansão, investimentos, infraestrutura.

Já as pessoas de menor renda que não têm acesso a instrumentos financeiros que protejam o dinheiro da inflação, perdem seu poder de compra, o que também tira o potencial de consumo da população brasileira. Ou seja, a alta da inflação é ruim para todos.

Existem mecanismos para tentar freá-la, como o aumento da taxa de juros. Mas isso afeta as empresas, encarecendo o preço dos produtos e desestimulando investimentos. Acaba virando um círculo vicioso, em cima de um cenário de maior retração.

Felizmente, segundo a maior parte dos especialistas, esse pico da inflação deve durar pouco. Contudo, eles alertam que os riscos de alta de curto prazo para o IPCA deve continuar, principalmente devido aos preços da gasolina.

E isso pode adiar o ponto de inflexão da inflação para o fim do quarto trimestre. Ainda mais pelo fato de o IPCA ser muito sensível aos preços da gasolina, que representam cerca de 6% do índice. Apesar do acumulado de dois dígitos, as principais análises de investimento ainda mantêm as projeções do IPCA abaixo dos 10% para este ano, com sensível queda em 2022. É torcer para elas estarem certas.