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Editorial

Um retorno ao mundoreal.com

Período sem WhatsApp, Facebook e Instagram escancarou danosa dependência de muita gente de aplicativos de mensagem e redes sociais

05 de Outubro de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: LIONEL BONAVENTURE / AFP (5/10/2021))

Nesta segunda-feira (4), por várias horas, boa parte da população mundial sentiu na pele a enorme dependência que possui de aplicativos de mensagens e redes sociais.

O “caos” começou por volta das 12h50, quando os serviços do WhatsApp, Facebook e Instagram -- todos eles pertencentes ao Facebook -- começaram a apresentar instabilidade e, repentinamente, ficaram totalmente fora do ar.

Estupefatos, milhões de pessoas se viram, subitamente, “órfãos” de algumas de suas ferramentas e passatempo prediletos. Foi um choque para muita gente que utiliza tais plataformas quase como oxigênio -- seja necessidade profissional ou mesmo lazer e entretenimento.

Parecia que o bug do milênio, esperado em 2000, havia chegado com 21 anos de atraso.

Poucos minutos depois do apagão, o Facebook tornou-se o primeiro colocado nos Trending Topics (os assuntos mais comentados) do Twitter -- outra rede social de postagem de mensagens. Veio o efeito cascata. Sem o WhatsApp, milhares de pessoas buscaram o concorrente Telegram, que também saiu do ar pelo excesso de acessos.

Numa situação bizarra e impensável, Facebook, WhatsApp e Instagram tiveram de usar a rede concorrente Twitter para “falar” com os usuários. Por meio de seus perfis oficiais, os três admitiram as instabilidades e problemas, e afirmaram que estavam trabalhando para solucioná-los.

O mais curioso é que o drama coletivo ocorreu mesmo com outros aplicativos, como entrega de comida, transportes e músicas, funcionando normalmente. Imaginem uma queda de todos eles? Fim da humanidade?! Claro que não! Até outro dia vivíamos sem nenhuma dessas coisas e a vida existia do mesmo jeito -- para muitos, até melhor.

Pessoas lembraram dos tempos em que escrevíamos cartas, da época do telegrama, cuja chegada fazia o coração bater mais forte e era prenúncio de algo urgente e importante, das ligações telefônicas com fichas em orelhões, dos tempos do fax...

E mesmo de coisas recentes, que até outro dia eram novidades e que hoje caíram em desuso, como SMS e até email -- sim, hoje em dia até o email perdeu espaço nesse mundo conectado 24 horas por dia, sete dias por semana, 365 dias por ano.

O episódio também serviu para brincadeiras. Ruídos estranhos passaram a ocorrer nas residências. Eram os toques de telefones fixos ou de um celular. Inclusive, muita gente descobriu algo inédito: celular serve até para fazer ligação telefônica. Basta discar o número, apertar a tecla verde e a pessoa te atende na hora. Ela fala “alô” e a conversa tem início.

Mas aí um estraga-prazer lembrou do seguinte. Pelas atuais regras de etiqueta, é indelicado ligar para alguém antes de perguntar, pelo WhatsApp, se a pessoa pode atender. Então ficamos na mesma, incomunicáveis.

Há quem diga que houve vantagens, afinal, fomos poupados de milhares de fake news cruzando os céus digitais.

Quem não viu nenhuma vantagem, pelo contrário, foi o Facebook e seu criador. Devido à escala global dos problemas, as ações da empresa despencaram mais de 5% na Bolsa de Valores americana.

Já a riqueza pessoal de Mark Zuckerberg caiu quase US$ 7 bilhões em poucas horas, fazendo-o descer um degrau na lista das pessoas mais ricas do mundo. Um trocado para quem tem US$ 120,9 bilhões.

No final, a rede social que continuou funcionando foi a velha e boa conversa olho no olho, de sentar para conversar e não ver o tempo passar. Momento de lembrar que as relações humanas são muito mais que mensagens, curtidas, seguidores, engajamento ou algoritmos.

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