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Editorial

Sorocaba é, sim, uma ilha de paz

Não significa que tudo está resolvido e que os sorocabanos podem baixar a guarda. Afinal de contas a violência é um problema complexo

03 de Outubro de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: Emerson Ferraz / Secom Sorocaba (11/11/2016))

Calma! Antes de recriminar o título acima, saiba que, ao contrário do que alguns leitores possam estar imaginando, a mensagem nada tem de xenófoba, ufanista, bairrista ou qualquer outro sinônimo capaz de classificá-la como devaneio. Felizmente, a “ilha de paz” traduz, pura e simplesmente, o que dizem a maioria das cifras e as estatísticas mais recentes sobre os índices de violência. Evidentemente, os números podem ser manipulados ou mascarados para N propósitos, porém, se há uma coisa que eles não conseguem fazer é, literalmente, mentir.

Os dados oficiais disponibilizados por diversas instituições nacionais e internacionais -- da Secretaria Estadual da Segurança Pública ao Monitor da Violência e à Organização Mundial da Saúde (OMS) -- não deixam dúvidas quanto ao fato de os índices sorocabanos dos chamados crimes violentos letais e intencionais serem, já há muito tempo, inferiores às médias registradas no Estado de São Paulo e se apresentarem bem melhores do que as cifras verificados em todo o território nacional. Essa modalidade inclui os homicídios dolosos -- quando há intenção de matar --, feminicídios, latrocínios e lesões corporais seguidas de morte. Mais significativos ainda são os índices isolados de algumas modalidades de crimes -- homicídios intencionais estão entre eles -- em que Sorocaba aparece abaixo da taxa média mundial e até mesmo em patamares bem assemelhados aos padrões europeus.

A relevância dessa “ilha de paz” em meio a um mundo povoado de violências das mais variadas espécies pode ser medida na comparação, principalmente, de uma de suas formas extremas, os homicídios. De acordo com a OMS, o Brasil como um todo é o nono país mais violento do planeta, registrando em 2019 -- relatório mais recente disponibilizado pelo órgão -- 31,1 assassinatos para cada 100 mil habitantes. O mesmo estudo revelou que a taxa brasileira é cinco vezes a média mundial de mortes infringidas propositalmente por um ser humano a outro, calculada no mesmo período em 6,4 por grupos de 100 mil pessoas. Nos limites do território sorocabano a média registrada no mesmo intervalo de tempo ficou em 6,27, pouco abaixo do nível mundial e de países com melhores posicionamentos no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), como Rússia e Argentina (11,3 e 6,53 assassinatos por 100 mil pessoas, respectivamente). A taxa local não se diferencia muito da registra nos EUA, a maior potencial econômico do planeta, onde ocorreram 5,5 homicídios por 100 habitantes, nem mesmo da tradicionalmente pacata Lituânia (5,98 assassinatos pela mesma proporção de pessoas).

Na lista das 192 nações de todos os continentes avaliadas pela OMS em 2019, Sorocaba ocuparia posição intermediária, porém, com índice bem mais confortável do que os campeões de violência, como Honduras (55,5 homicídios a cada 100 mil pessoas), Venezuela (49,2), El Salvador (46) e Colômbia (42).

Outra constatação pertinente é que, em Sorocaba, a violência apresenta tendência de queda sustentável e constante em praticamente todas as suas modalidades. As estatísticas da Secretaria Estadual da Segurança Pública apontam redução sistemática de pelo menos sete índices nos últimos 21 anos. A taxa de homicídios dolosos foi a que mais caiu, apesar de pequenas flutuações, passando de 35,27 por 100 mil habitantes em 1999 para 6,48 no ano passado -- redução de 445%.

Outros tipos de crimes também diminuíram nas duas últimas décadas. Os furtos, que apresentavam 1.073 ocorrências por 100 mil sorocabanos no penúltimo ano do milênio passado, encerrou 2020 com 878 registros. Já o índice de roubos foi reduzido de 604 para 490 por 100 mil pessoas. Na sequência aparecem: furtos de veículos (de 1.011 por 100 mil pessoas para 214) e roubo de veículos (883 para 103 por 100 mil pessoas).

Os dados apresentados anteriormente são suficientes para justificar a positividade expressa em “ilha de paz”, porém, não significa que tudo está resolvido e que os sorocabanos podem baixar a guarda. Afinal de contas a violência é um problema complexo que engloba diversos fatores. Não se pode negar, entre outras coisas, a preocupante evolução das modalidades relacionadas com as drogas ilícitas, assim como o fato de a população mais vulnerável ser justamente a mais impactada por essa dinâmica criminal.

Por conta disso, independentemente dos resultados positivos alcançados pelos órgãos policiais -- que são amplos e inegáveis em Sorocaba -- no enfrentamento da criminalidade, faz-se urgente, por exemplo, a remodelação da legislação. Está mais do que na hora dos mandatários -- aqueles que exercem mandatos --, em todos os âmbitos, assumirem a sua parte para equacionar o problema da criminalidade. Neste momento, mais do que novas prisões, é preciso acrescentar racionalidade, responsabilidade e planejamento nas políticas públicas relacionadas à segurança do cidadão.