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Editorial

Dinheirama em plena rodovia

Apreensão de quase R$ 12 milhões em dinheiro vivo na Raposo Tavares choca e nos faz lembrar dos R$ 51 milhões achados em malas de ex-deputado

02 de Outubro de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: Divulgação)

Uma apreensão ocorrida anteontem na rodovia Raposo Tavares (SP-270), em Presidente Prudente, chamou a atenção não apenas da polícia e autoridades, como da população. Quase R$ 12 milhões em dinheiro vivo -- reais e dólares -- foram descobertos pela Polícia Militar Rodoviária durante uma operação de rotina.

Com uma carga de polpa de cítricos, uma carreta foi abordada na frente da Base Operacional do policiamento rodoviário da cidade do noroeste paulista. Como o motorista apresentou atitudes suspeitas, houve uma vistoria mais detalhada. Na busca, os policiais encontraram um fundo falso na cabine. E qual não foi a surpresa de todos quando o conteúdo foi revelado. Nada mais, nada menos do que uma fortuna: R$ 11.551.636,40, dos quais R$ 4.344.166,04 em dólares. O motorista da carreta, um homem de 38 anos, foi detido em flagrante. Ele declarou que pegou a quantia em São Paulo e a levaria para o Mato Grosso do Sul.

Segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP-SP), esta foi a maior apreensão de dinheiro realizada no Estado de São Paulo neste ano. E aqui vale um registro. Parabéns aos policiais que participaram da ação. Enquanto uma parcela da população, normalmente aquela turma da lacrolândia, insiste em criticar e demonizar a categoria, eles deram mais um exemplo de conduta ilibada. Quem, tendo acesso a essa montanha de dinheiro, teria uma postura absolutamente correta? Somente pessoas verdadeiramente honestas como os policiais envolvidos.

A ocorrência foi apresentada na Delegacia da Polícia Federal, que vai investigar o caso. A grande questão, claro, é saber de quem é essa dinheirama, de onde vem, para onde vai e por qual motivo. Certamente não será tarefa fácil para os investigadores. Contudo, não é preciso muito conhecimento para imaginar que, infelizmente, as maiores possibilidades são dinheiro do tráfico de drogas ou então relacionado a alguma fraude, desvio, lavagem de grana ou corrupção. Certamente essa fortuna não pertence a cidadãos comuns, que trabalham de sol a sol, pagando impostos e tentando sobreviver do jeito que dá.

O episódio nos remete a outra apreensão que ficou famosa no País. Em 8 de setembro de 2017, nove malas e seis caixas com dinheiro em espécie foram descobertas pela Polícia Federal em um apartamento-cofre em Salvador. Dentro delas, surpresa, R$ 51 milhões atribuídos ao ex-deputado baiano Geddel Vieira Lima (MDB), profundo conhecedor dos caminhos da rapinagem do dinheiro público desde o escândalo dos Anões do Orçamento, em 1993. Na época, o imóvel havia sido emprestado por um amigo a Geddel com o pretexto de que o político armazenaria ali pertences do seu pai. Geddel foi preso três dias depois e condenado a 14 anos de prisão -- segue cumprindo a pena, mas em casa porque o Supremo Tribunal Federal (STF) entendeu que ele corria risco por ser do grupo de risco da Covid. A polícia concluiu que o político surrupiou os valores por meio de fraude na liberação de créditos da Caixa Econômica Federal de 2011 a 2013, quando a ex-presidente Dilma Rousseff o manteve como um dos vice-presidentes da instituição. A Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciou o político por lavagem de dinheiro. Em sua defesa, Geddel disse que era responsável apenas pela “simples guarda de valores em espécie” -- mas nunca explicou direito quem era o dono da fortuna.

No caso de agora em Presidente Prudente, poderíamos facilmente elaborar algumas hipóteses sobre o destino do dinheiro. Seria para encher o tanque da carreta, já que os preços dos combustíveis estão os olhos da cara? Ou será porque não cabia na cueca do dono da grana? Ironias à parte, resta torcer para que o caso seja solucionado. Conforme o histórico de episódios desse tipo, muito provavelmente o dono do dinheiro não vai aparecer. Nessa situação, até que haja algum desfecho, toda a quantia fica depositada em conta bancária devidamente identificada, em conta registrada nos autos do processo, sob a vigilância de advogados, promotores de Justiça, Ministério Público, juízes etc. Se a União ficar com o dinheiro, no final do processo, MP e Justiça decidem a destinação dos valores.

Mas que bom seria se todo esse processo pudesse ser menos burocrático para, em caso de apropriação pela União, esse dinheiro pudesse ser usado em melhorias diretas para a população.