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Editorial

Tempestade de areia no interior de SP

Embora as imagens sejam assustadoras, especialistas dizem que o fenômeno é normal

29 de Setembro de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
A tempestade de areia atingiu cidades do interior do Estado
A tempestade de areia atingiu cidades do interior do Estado (Crédito: Reprodução)

As cenas são impressionantes. Nuvens de areia e poeira atingindo cidades, engolindo edifícios e casas, aterrorizando moradores que gritam e fogem da coluna espessa de detritos. Municípios desaparecendo no meio da nuvem escura. Imagens que mais pareciam saídas de filmes de Hollywood, especialmente daqueles no deserto do Saara, com camelos, caçadores de múmias ou aventureiros como o Indiana Jones. Ou então de ficção científica com cenário em Marte.

Foi assim que se sentiram milhares de moradores de diversas cidades do interior dos Estados de São Paulo e Minas Gerais na tarde do último domingo. Um fenômeno da natureza pouco comum em terras brasileiras marcou o dia de muita gente: uma tempestade de areia. Isso foi presenciado, em maior ou menor grau, em cidades como Ribeirão Preto, Franca, Jales, Presidente Prudente, Araçatuba, Barretos, Bebedouro, entre outras, além de cidades do Triângulo Mineiro.

O fenômeno afetou a visibilidade no trânsito, obrigando o comércio a fechar mais cedo. Alguns moradores também relataram dificuldade para respirar.

Embora as imagens sejam assustadoras, especialistas dizem que o fenômeno é normal, dadas as condições de estiagem prolongada na região. Segundo especialistas do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), os dias secos e quentes favoreceram a tempestade de areia. A temperatura elevada e a baixa umidade, abaixo de 20%, contribuem para rajadas de vento. Com os fortes ventos, há deslocamento da poeira, podendo haver desenvolvimento vertical. Em Ribeirão Preto, por exemplo, o aeroporto local chegou a registrar ventos de 92 quilômetros por hora. Franca apontava ventos intensos de até 60 km/h no domingo, além do alerta de tempestades. A região tem enfrentado uma severa estiagem há pelo menos três meses e os moradores lidam com um racionamento de água desde o dia 2 de setembro.

Além disso, nessa época do ano, também há o período de colheita das plantações de cana que predominam no norte e noroeste do Estado de São Paulo. Quando a cana é colhida, o solo fica desprotegido e o tempo seco contribui para que esta terra não fique compactada. Com a terra mais solta e a ocorrência de ventanias e instabilidade, está formada a receita ideal para a formação da nuvem de poeira.

Trata-se, portanto, de algo raro, mas cuja ocorrência tem sido cada vez mais frequente nas últimas décadas. Por exemplo, no dia 13 de novembro do ano passado, a mesma região de Ribeirão Preto foi palco de um fenômeno muito parecido.

É também mais um indicativo de como precisamos ficar atentos e cuidar do meio ambiente. Não bastassem a falta de chuva que ameaça a população com uma crise hídrica, a persistente estiagem causando queimadas e prejuízos nos campos e nas cidades, e a sombra da pandemia, agora ainda temos de lidar com tempestades de areia.

Já passou da hora de nos atentarmos aos sinais da natureza. Aquecimento global; temperatura cada vez mais nos extremos, com calor desértico e frio antártico; fenômenos cada vez mais intensos com incêndios florestais, alagamentos gigantescos, chuvas torrenciais. Enfim, está tudo no mesmo balaio.

Felizmente, de acordo com os meteorologistas, não há previsão para que as tempestades de areia se repitam nos próximos dias no País, já que o esperado é até o começo das pancadas de chuva em algumas regiões, por conta da chegada da primavera. A tendência é que o cenário melhore ao longo de outubro, com a ocorrência de chuvas mais regulares. Para o bem do meio ambiente e também da população.