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Editorial

Volta aos estádios é teste de maturidade

Depende de nós manter a Covid-19 na recente trajetória de declínio ou provocar uma nova onda da doença

26 de Setembro de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Torcida do São Bento
Torcida do São Bento (Crédito: Jornal Cruzeiro do Sul)

Após os 18 fatídicos meses do isolamento social imposto pela pandemia do novo coronavírus, o retorno gradual dos paulistas aos estádios de futebol, a partir do próximo dia 4 de outubro, justapõe significados, objetivos e desafios múltiplos para todos os setores envolvidos com o esporte e até mesmo para quem não tem nada a ver a história. Ao mesmo tempo em que representa a realização dos sonhos de milhões de pessoas -- de torcedores a atletas, de dirigentes de clubes a empreendedores, entre tantos outros --, abrangendo desde interesses econômico-financeiros a objetivos políticos, a reabertura dos portões ao público no Estado embute significativo nível de responsabilidade compartilhada e conscientização. Será um teste à nossa capacidade de obediência aos protocolos de segurança sanitária estabelecidos como contrapartida à liberação das arquibancadas. Em outras palavras, depende de nós manter a Covid-19 na recente trajetória de declínio ou provocar uma nova onda da doença.

O Comitê Científico do Governo do Estado de São Paulo, responsável pela liberação do público atribuiu aos organizadores dos eventos esportivos a execução e a fiscalização das normas sanitárias de prevenção. Para o ingresso nos estádios, os clubes devem exigir um comprovante com esquema vacinal completo, ou seja, duas doses da vacina Coronavac, Astrazeneca e Pfizer ou dose única da Janssen. Quem ainda não tiver concluído o esquema vacinal, deverá ter tomado ao menos uma dose de vacina e apresentar um teste negativo com validade de 48 horas para os do tipo PCR ou 24 horas para os testes de antígeno. O uso de máscara continua obrigatório em todos os setores das arquibancadas, assim como o distanciamento mínimo entre os torcedores. Este último item, válido durante o mês de outubro, deve ser garantido pela redução do público.

Independentemente das limitações iniciais -- óbvias e necessárias --, a abertura prevista para daqui a dez dias será a primeira trégua concedida ao público de uma das paixões dos paulistas desde o início da pandemia. Finalmente os torcedores poderão se emocionar, comemorar, lamentar, protestar, enfim, vivenciar as competições presencialmente. Para os clubes, pode representar o tão ansiado reforço de caixa capaz de atenuar as crises financeiras -- algumas antigas -- agravadas desde março de 2020. A volta das torcidas ao seu vai e vem natural é identicamente aguardada por comerciantes e prestadores de serviços.

As justificativas do Comitê Científico do Governo de São Paulo para a abertura dos campos de futebol incluem o avanço positivo da imunização contra o vírus por meio de vacinação e também a redução do número de infecções, internações e mortes. Mesmo assim, ao contrário do que já ocorre desde o início de 2021 na Europa, nos EUA e em regiões da Ásia, o retorno do público aos jogos continua indefinido na maioria dos Estados brasileiros, justamente por conta das incertezas sobre o comportamento dos frequentadores e pela redução ainda discreta da pandemia no País. Tomando como base o exemplo do teste feito no mês passado pela Prefeitura de Belo Horizonte, os governadores têm motivos de sobra para ficar em dúvida. As cenas de aglomerações dentro e fora do estádio e o desrespeito à obrigação do uso de máscara em dois jogos levaram a administração municipal a considerar a experiência fracassada.

Além de São Paulo, até o momento há liberação parcial de público apenas no Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Paraná, Santa Catarina, Goiás (apenas eventos-teste em Goiânia), Minas Gerais (apenas jogos do Cruzeiro na Arena do Jacaré) e Pernambuco (a partir de amanhã). Iniciativas isoladas de equipes, como Flamengo e Atlético Mineiro, que abriram os portões do Maracanã e do Mineirão, respectivamente, para algumas partidas do Brasileirão e da Libertadores da América, foram alvos de críticas por parte dos demais clubes. Até o momento, no entanto, não há evidências comprovadas de alterações nos quadros de infecções ou de óbitos por conta dos referidos eventos.

De qualquer forma, o histórico dos 18 meses de pandemia -- festas rave, por exemplo -- e os números atuais da Covid-19 exigem cautela como regra geral na volta do público aos estádios. Cabe aos torcedores, apesar do caráter passional do esporte, ter responsabilidade e fazer a sua parte para que não seja necessário fechar novamente os estádios. Vamos retornar aos campos, torcer pelos nossos times, comemorar, soltar o grito há tanto tempo reprimido na garganta e até, se for o caso, reclamar do árbitro, mas tudo isso sem esquecer que a pandemia ainda não acabou.