Editorial
Rodoviária: vem muita discussão por aí
Apesar dos argumentos do prefeito Manga na defesa do projeto de uma nova rodoviária, degradação do entorno seria praticamente inevitável
Um assunto que começa a esquentar em Sorocaba é a localização da nova rodoviária da cidade. Na manhã desta quarta-feira (22), em entrevista à rádio Cruzeiro FM 92,3, o prefeito Rodrigo Manga reafirmou o interesse de construir a nova estação no Jardim Santa Rosália. Manga disse que o novo projeto está pronto e que o mesmo deverá ser apresentado aos moradores nos próximos dias.
Após indicar que o terreno da futura estação está localizado no bairro, a prefeitura já tem estudos em andamento que apontam para um local nas proximidades da rodovia Senador José Ermírio de Moraes, a Castelinho (SP-75), em uma das entradas da cidade.
O problema é que a reação de parte da população foi imediata. Os moradores de Santa Rosália e de pelo menos outros dois bairros nas imediações já lançaram um abaixo-assinado, em forma de petição on-line, contra a construção do novo terminal rodoviário em um terreno na avenida Dom Aguirre. A Associação de Moradores de Santa Rosália, por exemplo, é contrária à construção da obra no local. O principal argumento, com razão, é que se trata de um bairro eminentemente residencial, com comércios e escolas.
Na semana passada, a queda de braço se acentuou. Moradores do bairro colocaram faixas em frente às suas casas para protestar contra a instalação da nova rodoviária em Santa Rosália. Contrários ao projeto, eles entendem que ter uma rodoviária nas redondezas vai quebrar a paz, segurança e sossego característicos de um bairro residencial, interferindo na qualidade de vida dos moradores.
Na defesa do projeto, Manga afirma que “a rodoviária terá um sistema melhor do que o de muitos aeroportos do País”. O prefeito diz esperar que haja um entendimento com os moradores do bairro para a definição e concordância sobre a obra. Ao que parece, o prefeito está otimista demais quanto a isso.
Não é novidade para ninguém que rodoviária e qualidade de vida no entorno raramente combinam -- para não dizer nunca. Praticamente todas as experiências e tentativas de rodoviárias em cidades grandes e metrópoles mostram que a degradação do entorno é praticamente inevitável. É humanamente impossível controlar a presença de ambulantes. O alto fluxo de pessoas atrai muitas outras coisas.
Por mais que o projeto da nova rodoviária se encontre perto da saída para a Castelinho, por mais que o prefeito diga que o prédio será moderno, é altamente improvável que se evite uma piora do bairro. Todos sabem os transtornos no entorno de qualquer rodoviária, seja ambiental, seja de segurança ou a elevada degradação do local.
Em Sorocaba mesmo, a região da atual rodoviária enfrenta há anos esse problema, com aumento do número de usuários de drogas e da criminalidade. O local costuma concentrar pessoas em situação de rua. Não são raros os casos de tráfico à luz do dia, furtos, assaltos aos transeuntes, ameaças a moradores e comerciantes. A insegurança é crônica na região.
Até por isso, os projetos de rodoviárias de maior sucesso em médias e grandes cidades são aqueles mais afastados do centro e dos bairros residenciais.
Nesse sentido, diversos leitores das plataformas do Cruzeiro se manifestaram sobre o assunto. A maioria considera o local escolhido totalmente inadequado para uma construção do porte de uma rodoviária, dentro de um bairro residencial, rodeado de casas.
Segundo eles, existem áreas melhores e com custo menor fora dos bairros, às margens da Castelinho, da Raposo Tavares ou da Celso Charuri. Alguns sugeriram a antiga fábrica da Campari, lembrando da conexão com a linha férrea para um futuro VLT -- Veículo Leve de Transporte -- ou então o prometido trem intercidades. Outras sugestões indicam o terreno da antiga Gerdau, por exemplo.
Enfim, são algumas opções e nenhuma certeza. A única certeza é que a discussão sobre uma nova rodoviária em pleno bairro de Santa Rosália está apenas começando e promete pegar fogo.