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Editorial

Honestidade nos dias de hoje

Matéria com "mesa da honestidade" fez sucesso e chamou a atenção: ser honesto, infelizmente, ainda choca as pessoas

21 de Setembro de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Laços ficam expostos em uma mesa. Comprador pode fazer até o troco.
Laços ficam expostos em uma mesa. Comprador pode fazer até o troco. (Crédito: DIVULGAÇÃO)

“Nenhum legado é tão valioso quanto a honestidade”. A frase do poeta e escritor britânico William Shakespeare mostra a importância de tal virtude.

A honestidade é sempre um bom caminho a percorrer. Ela gera confiança, fortalece nossa força de vontade e gera credibilidade perante os outros. Ela também melhora nossa saúde. Contar a verdade e apoiá-la com ações mostra respeito pelo que é certo e uma estima pela integridade ética e moral. A honestidade é um dos principais componentes do caráter e um dos traços mais admirados de qualquer pessoa responsável.

Ainda que seja uma característica em baixa na sociedade atual, principalmente na classe política brasileira, e por mais surpreendente que possa parecer, ainda existem muitas pessoas honestas em nosso País. Um exemplo disso foi retratado em matéria publicada anteontem neste Cruzeiro do Sul.

Confiando na boa índole das pessoas, uma artesã de nome Aline Ketline Mendes passou a vender seus produtos -- laços infantis -- de um modo inusitado. Ela deixa os objetos à mostra em uma mesa, sem qualquer tipo de fiscalização. O cliente escolhe os laços que quiser e faz o pagamento em dinheiro numa caixinha que fica no local ou então por meio de um QR code. Tudo isso sem ninguém vigiando. O cliente ainda pode retirar dinheiro da caixinha para o troco.

Batizada de “mesa da honestidade”, o caso fez sucesso. As pessoas ficam encantadas com a confiança da “lojista”. Vídeos que viralizaram nas redes sociais enaltecem a situação. “Este é o Brasil que todos queremos, de gente honesta”, diz um deles.

Curiosamente, a “mesa da honestidade” surgiu por necessidade. No auge da pandemia, com parques e comércios fechados, e precisando vender seus produtos para sustentar a filha, Aline aderiu ao formato, levando seu balcão com laços infantis para cidades como Sorocaba, Santana de Parnaíba, Barueri e Mairinque.

De acordo com a empreendedora, ela nunca teve problemas com esse tipo de comércio. Diz receber 90% da venda dos produtos. Algumas pessoas pegam e não pagam? Sim, mas são poucas, gente que não pode pagar, segundo Aline. O mais curioso de tudo é que, segundo a comerciante, o faturamento final acaba fechando corretamente. Isso porque tem muita gente que paga pelo produto e nem pega o troco. No final das contas, isso compensa os 10% de “desvio”.

Essa iniciativa pode ser considerada mais um passo rumo a um formato de negócio que já existe em vários lugares do mundo. As empresas, cada vez mais, buscam modelos e tecnologias para uma nova experiência de compra, visando o pouco contato com o cliente, seja pela diminuição do custo ou pela pandemia, para evitar o contato social.

A Target, uma das maiores varejistas dos Estados Unidos, e a britânica Tesco, por exemplo, são duas das empresas que já adotaram modalidades em que o consumidor escolhe os produtos, vai até um caixa de autoatendimento, faz a leitura dos códigos de barras e efetua a compra sozinho. Aqui mesmo, em Sorocaba, já existem opções de autoatendimento, como no supermercado Tauste, que se adaptou ao caixa automatizado, trazendo mais autonomia aos clientes.

Voltando à “mesa da honestidade”, por onde ela passa, infelizmente, chama a atenção. E por que infelizmente? Pois se vivêssemos em um país honesto, algo simples assim não se faria notar com tanto destaque. Ou seja, as pessoas ainda se chocam quando dão de cara com uma situação honesta. É a completa inversão de valores que tem tomado de assalto a sociedade brasileira.

Se queremos realmente diminuir sensivelmente a corrupção em nosso meio -- pois acabar com ela definitivamente é uma utopia --, é necessário avaliarmos nossas condutas e comportamentos, até mesmo aqueles considerados sem importância ou aparentemente “menores”.

Só para dar alguns exemplos: não devolver algo que encontramos e não nos pertence, sob o argumento do dito popular que “achado não é roubado” (e realmente não é, mas é apropriado indevidamente); ficar com o troco recebido a mais; resolver as coisas com jeitinho junto a agentes públicos; furar fila; estacionar em vagas privativas. A lista é enorme, e todos esses comportamentos revelam um desvio de comportamento.

Para vivermos numa sociedade mais honesta, temos de dar o exemplo. Assim, isso vai se multiplicando até o ponto em que os desonestos e corruptos se sintam deslocados e envergonhados.