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Editorial

É preciso investir nos professores

Piso salarial dos professores brasileiros nos anos finais do ensino fundamental é o mais baixo entre 40 países avaliados

18 de Setembro de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
 Nunca é demais lembrar que o ambiente escolar influencia diretamente na decisão dos professores de entrar e permanecer na profissão
Nunca é demais lembrar que o ambiente escolar influencia diretamente na decisão dos professores de entrar e permanecer na profissão (Crédito: PEDRO NEGRÃO (01/2/2021))

Melhorar a condição geral de um país, seja ele qual for, passa necessariamente pela educação. Ao lado de saúde e segurança, o sistema de ensino forma o tripé obrigatório para uma sociedade melhor, mais justa, equilibrada e com mais potencial.

E quando se fala em educação, um dos personagens principais -- senão o principal -- é o professor(a). Na prática, recai sobre eles uma enorme parcela da formação diária de crianças e jovens, não apenas com relação à parte pedagógica, mas também na formação humana, na lapidação do caráter, na tarefa de dar exemplos.

Basta lembrarmos da juventude para puxarmos pela memória a importância dos professores. Alguns deles marcam a vida das pessoas para sempre. Portanto, diante da enorme responsabilidade que os professores carregam, nada mais justo que eles sejam valorizados e recompensados adequadamente.

Mas é aí que reside um dos problemas do Brasil nessa área. Um estudo da Organização para Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE), divulgado na quinta-feira (16), é preocupante.

O levantamento mostra que o piso salarial dos professores brasileiros nos anos finais do ensino fundamental é o mais baixo entre 40 países avaliados. Os rendimentos dos docentes brasileiros no início da carreira são menores do que os de professores em países como México, Colômbia e Chile, por exemplo.

De acordo com o relatório cujo nome é Education at a Glance 2021 (Educação em um relance 2021), os professores brasileiros têm salário inicial de US$ 13,9 mil anuais. Na Alemanha, por exemplo, o valor passa de US$ 70 mil e é mais de três vezes maior do que os US$ 20 mil pagos em países como Grécia, Colômbia e Chile.

A conversão para comparação dos salários é feita usando a escala de paridade do poder de compra, que reflete o custo de vida nos países. Em relação ao salário real, que inclui pagamentos adicionais, o valor médio dos brasileiros também está aquém -- só ultrapassa o que recebem os professores na Hungria e na Eslováquia. Os salários dependem de fatores como idade, nível de experiência e qualificação profissional.

No Brasil, segundo a OCDE, os salários reais médios dos professores são de US$ 25.030 anuais no nível pré-primário (que corresponde à educação infantil) e US$ 25.366 no nível primário (anos iniciais do fundamental). Na média dos países da OCDE, os valores para as mesmas etapas são US$ 40.707 e US$ 45.687, respectivamente.

Além da questão dos salários dos professores, o levantamento também traz outro dado interessante. Em relação ao tamanho das turmas, o estudo indica que o número de alunos nas salas tem caído de 2013 a 2019 no Brasil, passando de 23 para 20 estudantes nos anos iniciais do ensino fundamental -- abaixo da média da OCDE, que é de 21. Nos anos finais do fundamental, também houve queda, de 28 para 26, mas ela ainda é superior à média dos outros países (23).

Nunca é demais lembrar que o ambiente escolar influencia diretamente na decisão dos professores de entrar e permanecer na profissão. No caso do Brasil, a carreira precisa ser estruturada de forma a garantir seu desenvolvimento profissional e aumento da aprendizagem dos alunos. Mas para isso, também é preciso que haja elevação da qualidade dos professores.

Atualmente, temos um círculo vicioso -- e não virtuoso. Paga-se mal os professores, a qualidade dos profissionais cai e vai-se pagando cada vez pior. Outro ponto a ser corrigido é não usar cargos do sistema de ensino para acomodar apadrinhados políticos.

De qualquer modo, reforçar investimentos em uma educação melhor e mais relevante é fundamental para ajudar os países a oferecer prosperidade social e econômica de longo prazo.