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Editorial

Plantio de árvores em nascentes

Medidas precisam ser tomadas imediatamente para, ao menos, diminuir o impacto das mudanças climáticas

17 de Setembro de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Plantio de árvores
Plantio de árvores (Crédito: Erick Pinheiro JCS (29/5/2014))

Além da pandemia de Covid, que felizmente vem sendo combatida com foco e determinação nos últimos meses, dando sinais contínuos de retração, uma outra preocupação dos brasileiros no momento é a crise hídrica que se avizinha. Caso não haja uma reviravolta considerável em relação às chuvas no País, muito provavelmente uma parcela da população deverá enfrentar algum tipo de dificuldade em relação ao abastecimento de água. E consequentemente essa situação pode refletir na energia elétrica.

O apuro em relação à água é algo antigo, resultado de um conjunto de fatores. Entre os motivos que fogem ao nosso controle, estão a própria época do ano e o histórico de poucas chuvas nesse período. Contudo, para piorar, neste 2021 isso tem sido acentuado por uma estiagem forte e prolongada.

Também não é novidade para ninguém que, entre as causas dessa crise hídrica global, estão fatores humanos. Nesse rol, um dos maiores motivos é a ocupação desorganizada das áreas de nascentes dos rios. Afinal, os rios são fundamentais para o equilíbrio hídrico da Terra. No caso do Brasil, um dos biomas -- conjunto de vida vegetal e animal, com condições de geologia e clima semelhantes e que resultam em uma diversidade de flora e fauna própria -- mais importantes para isso é a Mata Atlântica, pois ela conta com recursos hídricos que abastecem 70% da população nacional.

Em meio a esse cenário, estudos e especialistas alertam para a necessidade de preservação das principais bacias hidrográficas. Felizmente, após um longo período de degradação, temos observado avanço de áreas protegidas nas nascentes de rios, com a substituição de plantações por áreas de proteção permanente (APPs).

No entanto, algumas das mais importantes bacias continuam ameaçadas. De acordo com levantamento do MapBiomas, projeto que reúne universidades, organizações ambientais e empresas de tecnologia, sobre a Mata Atlântica, a bacia do rio Paraná, por exemplo, teve a cobertura nativa reduzida de 24% em 1990 para 19% em 2020. A do Rio Grande, de 21% para 20%.

No mesmo período, outras ficaram estáveis ou tiveram crescimento discreto. A bacia do Rio Tietê passou de 19% para 20%. A do Paranapanema permaneceu estável em 23%. A bacia do Paraíba do Sul oscilou de 27% para 29%. Ou seja, ainda há espaço para iniciativas de conservação e de reflorestamento nos biomas.

O alerta reforça relatório do painel climático da Organização das Nações Unidas (ONU) deste ano. Ele apontou que até 2040, uma década antes do previsto, a temperatura média da Terra deve chegar a 1,5 grau acima dos níveis pré-industriais.

Entre as consequências para o Brasil está a perda da capacidade de produção agrícola causada por estiagens no Centro-Oeste. O mesmo efeito climático se espera no Nordeste e na Amazônia. Para o Sudeste, os efeitos esperados são chuvas fortes e enchentes mais constantes. O relatório afirma que medidas precisam ser tomadas imediatamente para, ao menos, diminuir o impacto das mudanças climáticas.

Nesse sentido, uma iniciativa da Prefeitura de Sorocaba merece ser elogiada e incentivada. Com o intuito de promover a restauração ecológica de nascentes do município, a Secretaria do Meio Ambiente e Sustentabilidade (Sema) realizou recentemente o plantio de 220 árvores nativas em áreas públicas do Jardim Brasilândia, Vila Melges e Jardim Helena Cristina. As áreas escolhidas são de Proteção Permanente (APPs) das nascentes de parques e áreas públicas.

Foram plantadas espécies que vão do algodoeiro, aroeira-pimenteira e ipê-amarelo à quaresmeira, entre outras. A ação visa manter a qualidade e o fluxo dos recursos hídricos da cidade, ajudando na preservação da natureza, já que as matas ciliares protegem a água das nascentes, córregos e rios. As árvores são importantes também para a regulação da temperatura, servem de abrigo e produzem alimentos para diversos seres vivos, reduzem a circulação do vento e ajudam no controle da erosão do solo.

Basicamente, plantar árvores e recompor áreas verdes no meio urbano é importante estratégia para a conservação das nascentes. E para o bem de todos.