Buscar no Cruzeiro

Buscar

Editorial

Da satisfação à decepção

Após prisão, em Sorocaba, de possível envolvido nos ataques em Araçatuba, suspeito é solto menos de 24 horas depois

09 de Setembro de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Ataque em agências bancárias de Araçatuba assustou moradores
Ataque em agências bancárias de Araçatuba assustou moradores (Crédito: Reprodução/Twitter)

O que era algo para ser até comemorado terminou com um gosto amargo na boca. Em ação da Polícia Civil, foi preso na manhã desta quarta-feira (8), em Sorocaba, um homem, de 33 anos, suspeito de envolvimento no mega-assalto registrado recentemente em Araçatuba, em ação que deixou três mortos, vários feridos e um rastro de terror na cidade do interior de São Paulo.

Para efetuarem a prisão, os policiais da 1ª Delegacia da Divisão de Investigações Sobre Crimes Contra o Patrimônio (Disccpat) e do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) receberam informações de que o suspeito mantinha alto padrão, ostentava veículos de luxo e poderia estar envolvido na invasão aos bancos em Araçatuba.

Na diligência policial, o homem acabou preso no Parque São Bento. Na busca realizada em sua residência, foram encontrados documentos supostamente relacionados ao crime organizado em vários estados brasileiros. Outras duas pessoas também foram detidas durante a ação, uma delas a esposa do suspeito, acusada de envolvimento com o tráfico de drogas.

Na abordagem, o principal suspeito teria chegado a admitir, informalmente, ter financiado a operação para roubar os bancos em Araçatuba. Ele inclusive teria revelado que a logística da invasão àquela cidade custou cerca de R$ 600 mil. Nos ataques em Araçatuba, foram utilizados cerca de 20 homens em dez veículos, armamento pesado, bombas e até drones. Os criminosos usaram reféns como escudo e chegaram a amarrá-los no capô e teto dos carros.

Além de ter passagens na polícia por tráfico de drogas -- foi preso em 2013 em operação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), o principal suspeito também é acusado de envolvimento em um homicídio ocorrido aqui em Sorocaba.

Segundo a polícia, ele participou do assassinato do policial militar Sandro Luís Gomes, ocorrido na avenida Itavuvu, em 2014. O PM estava em uma viatura quando foi atingido por um tiro na cabeça. Os criminosos estavam em dois veículos, atiraram na viatura e fugiram. Sandro fazia parte da banda regimental da Polícia Militar e atuava em trabalhos assistenciais da cidade.

Outro crime com possível envolvimento do suspeito foi um assalto a um empresário, também em 2014. Oito criminosos armados renderam o chefe de segurança do dono de uma rede de restaurantes e conseguiram entrar no condomínio de luxo em que ele morava, entre Sorocaba e Salto de Pirapora. O bando foi até a casa do empresário e fez a família dele refém por quatro horas. Os ladrões saíram pela portaria principal levando R$ 2 milhões em dinheiro, euros, dólar e joias.

Pois bem, mesmo com todo esse histórico, o suspeito não ficou preso nem 24 horas. Ele -- e as outras duas pessoas que haviam sido detidas -- tiveram as prisões relaxadas em decisão do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo por não haver “nenhum indício que os vinculasse ao caso de Araçatuba”.

Segundo o Tribunal, não houve “apreensão de nenhum instrumento ou produto de crime relacionado àquele caso em poder dos autuados (dinheiro, armas, explosivos etc.), com exceção de uma denúncia anônima, que nem mesmo é considerada indício”.

Ok, mas, devido ao histórico e às suspeitas, não seria mais prudente mantê-lo em prisão preventiva ao menos até que tudo seja esclarecido? E o possível envolvimento no assassinato? Afinal, se o suspeito for culpado em algum desses crimes, foi dada a chance para ele simplesmente fugir, como já vimos tantas outras vezes.

Será que é mais uma demonstração de por que, aparentemente, as coisas não funcionam como deveriam no sistema de segurança do Brasil? Enfim, com a palavra a polícia e a Justiça.