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Editorial

Lições de vida e de incrível superação

Jogos Paralímpicos mostram diariamente pessoas com enormes limitações conseguindo feitos absolutamente fantásticos

01 de Setembro de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Na Paralimpíada, as histórias de superação se sucedem
Na Paralimpíada, as histórias de superação se sucedem (Crédito: Reprodução Twitter/Comitê Paralíimpico Brasileiro)

Não tem sido fácil acompanhar esportes olímpicos nos últimos dois meses. É tapa na cara que não acaba mais, um após o outro. Primeiro foram os Jogos Olímpicos de Tóquio. A gente assiste às Olimpíadas e pensa: “Essas pessoas dedicam toda uma vida a um sonho de medalha. Tenho de ter essa garra e determinação para fazer algo da minha vida”.

Daí chegam as Paralimpíadas. Você vai para frente da TV e surge outra reflexão: “Eu tenho de parar de reclamar da minha vida”.

Evidentemente que por trás do movimento olímpico e paralímpico existe uma série de interesses políticos e financeiros. A disputa por comandar federações e confederações que movimentam volumosas receitas e orçamentos, além de mídia, política e prestígio é gigantesca. Até por isso, alguns dirigentes fazem de tudo para se perpetuar no poder.

Não querem perder todos os “benefícios” que isso pode representar. Contudo, por um momento vamos deixar de lado a politicagem no esporte e nos concentrarmos nos feitos puramente esportivos. Ser atleta não é fácil. Ser atleta olímpico é um mérito para poucos.

E dentro dessa seleta categoria, não existe outra forma de definir os atletas paralímpicos a não ser como absolutamente excepcionais. E não excepcionais como antigamente, de forma errônea e excludente, designava-se as pessoas com deficiência. Excepcionais no sentido de que são extraordinários, incríveis, inspiradores.

Peguemos um exemplo que impressionou tanta gente nas redes sociais ao redor do mundo que acabou viralizando. Aos 48 anos, o egípcio Ibrahim Hamadtou vem chocando os espectadores que acompanham os Jogos Paralímpicos de Tóquio -- se você ainda não viu, não deixe de assistir.

Ele é um dos atletas da classe 6 -- quanto maior a numeração, maior a deficiência -- que estão na disputa do tênis de mesa. A questão é que Ibrahim perdeu os dois braços em um acidente ferroviário quando tinha 10 anos de idade.

Dessa forma, ele joga tênis de mesa de uma maneira absolutamente peculiar e heróica: segurando a raquete com a boca. Sim, com a boca! Então, como ele faz para lançar a bolinha para o alto antes de dar o saque? Simples, o egípcio usa os pés!

E Ibrahim não apenas “consegue” praticar tênis de mesa como o faz em um nível absolutamente admirável, de elite do esporte. Mesmo sem os dois braços, ele muito provavelmente -- para não dizer certamente -- derrotaria qualquer um de nós em uma disputa.

Resiliente a ponto de não desistir de seus sonhos esportivos mesmo depois do trágico acidente de infância, Ibrahim diz que escolheu praticar o tênis de mesa justamente pelo desafio que isso iria lhe impor: fazer um esporte que muitos considerariam impossível de ser praticado dadas as condições físicas dele. Ou seja, ele escolheu algo que demandaria o maior sacrifício possível para ser feito.

Os brasileiros -- e nenhum atleta de nenhuma nacionalidade -- não ficam atrás. Nadadores sem membros do corpo não apenas conseguem nadar, como nadam de forma competitiva e com tempos inacreditáveis, mesmo se considerarmos uma pessoa sem deficiência. Jogadores de futebol sem nenhuma visão conseguindo fazer jogadas incríveis. Pessoas com severas limitações atingindo feitos fantásticos.

Na Paralimpíada, as histórias de superação se sucedem. Diferentemente da superação no esporte, são histórias de superação de vida. De superar as adversidades para simplesmente conseguir viver. É de ficar emocionado!

Portanto, quando você acordar reclamando da vida, seja pelo motivo que for, lembre-se de Ibrahim e de tantas outras pessoas que nos dão essas lições diárias. Levante a cabeça, sacuda a poeira e dê a volta por cima.