Editorial
Noite de terror em Araçatuba
Apesar das leis fracas deste País, criminosos que mataram e aterrorizaram a população de Araçatuba precisam ser punidos de forma exemplar
Filme marcante dos anos 80, Mad Max 2 é um thriller de ação pós-apocalíptico. Estrelado pelo ator Mel Gibson, a sequência desse sucesso mostra sobreviventes de uma guerra global vagando em permanente disputa por petróleo, bem mais valioso daquele tempo. No filme, o planeta se tornou uma terra deserta e sem lei. Em meio a essa sociedade do futuro, o vilão mais temido chama-se Humungus. Ele é o líder de uma impiedosa e sanguinária gangue motorizada. Para levar medo e terror aos inimigos, Humungus amarra suas vítimas no capô dos carros.
Guardadas as devidas comparações, a cidade de Araçatuba viveu, ontem, madrugada de Mad Max, com terror generalizado e pessoas amarradas em veículos.
Fortemente armados e em grande número -- segundo a polícia, cerca de 20 homens em dez carros --, criminosos praticamente sitiaram a cidade do interior paulista em um ataque coordenado a três agências bancárias. Em duas delas, os bandidos conseguiram levar dinheiro. Até o fechamento desta edição, não haviam sido divulgadas informações do valor roubado.
A quadrilha chegou à região central por volta da meia-noite. Eles bloquearam ruas e fizeram moradores reféns. Na linguagem popular, “tacaram o terror”, atirando indiscriminadamente, jogando bombas e aterrorizando a população. Assim como no filme, criminosos amarraram reféns nos capôs dos carros e os usaram como “escudo humano”. Os bandidos também cercaram o batalhão do Baep e o CPI, bases da Polícia Militar. Veículos foram queimados em vários pontos da cidade e da região para impedir a chegada da polícia.
A ação acabou de forma trágica, com pelo menos três mortos -- dois moradores e um integrante da quadrilha -- e cinco feridos, três deles com gravidade, segundo boletim divulgado pela Santa Casa local. Um dos feridos é um rapaz de 25 anos que teve os dois pés amputados após acionar uma bomba usada pelos bandidos. Segundo a Polícia Militar, os explosivos foram espalhados em vários pontos da cidade. Os artefatos possuíam sensor a laser e eram ativados para evitar a aproximação de pessoas.
Além de armas pesadas, a quadrilha também usou drones para monitorar toda a ação, tanto na chegada à região central de Araçatuba até a fuga pela zona rural. Ao menos até a noite de ontem, somente três pessoas haviam sido presas, suspeitas de colaborar com os criminosos.
Por conta dos explosivos, do medo e das dúvidas da população, Araçatuba ficou parcialmente fechada no dia de ontem. Conforme orientações das autoridades, muitos comércios não abriram e escolas suspenderam aulas. O transporte público também foi paralisado. Um dia de terror para os cerca de 200 mil habitantes do município localizado na região noroeste do Estado.
O crime repercutiu em todo o País e foi um dos assuntos mais comentados nas redes sociais no dia de ontem. O espanto e a revolta eram generalizados.
Devido ao número de pessoas envolvidas, pela dinâmica e aparato envolvido -- com armas pesadas, explosivos e até drones --, é evidente que se trata de uma quadrilha fortemente equipada, treinada e ousada. Acima de tudo, uma quadrilha sem medo. E sabem por que essa bandidagem não tem medo? Pela simples constatação do óbvio: aqui no Brasil as leis são brandas e não funcionam. Quando funcionam, os criminosos conseguem brechas jurídicas para escapar. São tantos e tantos exemplos que a gente cansa de citar. André do Rap é somente um deles. Gente que sai pela porta da frente do presídio, dando risada na cara da sociedade.
Ações e crimes como os vistos em Araçatuba não podem passar impunes. É preciso todo o esforço policial e jurídico para caçar, prender e punir exemplarmente esses Humungus dos dias atuais. A bandidagem precisa ser combatida e contida.