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Editorial

Os perigos do cyberbullying

Avanço do mundo digital faz crescer casos de abusos e agressões virtuais, tanto que já há lei específica para criminalizar isso

12 de Agosto de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
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O mundo digital, que avança velozmente em todo o planeta, trouxe inúmeros benefícios para diversos setores da sociedade moderna. A digitalização permitiu avanços nos negócios, na economia, nos serviços, no entretenimento e em praticamente todos os segmentos. Mas nem tudo são flores nesse mundo digital da atualidade. Com ele, também surgiram as redes sociais como Orkut, Facebook, Twitter, Tik Tok, Instagram e muitas outras. Chegaram, prosperaram e viraram febre para as pessoas, principalmente os jovens. O resultado é que nos transformamos numa sociedade da exposição, sobretudo a autoexposição, medida pelo número de curtidas e de seguidores. A sociedade do compartilhamento instantâneo, da vida privada às fake news. Das brincadeiras e bondades às maldades. E com isso também surgiram os problemas relacionados a essa nova realidade. Um deles é o cyberbullying.

A palavra -- junção de dois vocábulos da língua inglesa, cyber e bullying -- é tão feia quanto os males que traz. Trata-se do assédio virtual realizado por meio das tecnologias digitais de informação e comunicação. O cyberbullying é a extensão da prática do bullying do ambiente físico para o plano virtual. Ele pode ocorrer nas mídias sociais, plataformas de mensagens, de jogos e celulares. É uma forma de agressão verbal e psicológica por meio de um comportamento hostil, sistemático e contínuo, praticado por um indivíduo ou grupo, com intuito de prejudicar, assustar ou envergonhar aqueles que são vítimas. Tem se tornado cada vez mais comum na sociedade, especialmente entre os jovens. Atinge sobretudo as pessoas que não estão enquadradas no padrão de normalidade estabelecido pelo grupo social.

Enquanto o bullying entre adolescentes é largamente praticado no ambiente escolar, o cyberbullying ultrapassa qualquer fronteira física, tirando da vítima a possibilidade de escapar dos ataques, que acontecem o tempo todo por meio, principalmente, das redes sociais. Podem ser consideradas cyberbullying ações como exposição de fotografias ou montagens constrangedoras, divulgação de imagens íntimas e críticas à aparência física, à opinião e ao comportamento social de indivíduos. Os agressores geralmente usam perfis falsos -- os chamados fakes -- pois acreditam estarem protegidos quanto à sua identidade real. Ou simplesmente se manifestam pelo meio virtual para não terem de encarar sua vítima pessoalmente.

Um caso recente ocorrido no Brasil mostra os danos e os perigos dessa agressão virtual. Na semana passada, a cantora Walkyria Santos, ex-vocalista da banda Magníficos, revelou que a morte do filho Lucas Santos, de 16 anos, teria sido motivada pelos ataques recebidos por ele nas redes sociais após a publicação de vídeos. O adolescente, que tirou a própria vida, foi encontrado morto em casa, na Grande Natal. Segundo a mãe, o filho já vinha sofrendo com os abusos virtuais e não conseguia lidar com tal situação. Nem mesmo o encaminhamento com psicólogos foi capaz de impedir a tragédia que se consumou.

Por conta disso, Walkyria e a família iniciaram uma campanha para tentar aprovar um projeto de lei que criminaliza a atuação de “haters” (pessoas que destilam comentários de ódio) na internet. Batizado de Lei Lucas Lima, o projeto foi aprovado anteontem na Assembleia Legislativa da Paraíba. Ele tem como objetivo contribuir para o fim das agressões virtuais. O projeto também propõe a realização de ações educativas para estudantes dos ensinos fundamental e médio, na rede pública estadual e privada, a fim de orientar os jovens sobre como agir diante de ataques virtuais. Conforme a nova lei, as vítimas de cyberbullying terão acesso prioritário a serviços públicos de assistência médica, social, psicológica e jurídica, que poderão ser oferecidos por meio de parcerias e convênios. O projeto também cria o Dia Estadual de Combate ao Cyberbullying e monitoramento de ofensas pela internet.

Que casos como o de Lucas e tantos outros sirvam de alertas para pais e jovens sobre os perigos e malefícios desse comportamento digital. Seja para orientar e coibir abusadores, seja para proteger as vítimas.