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Editorial

Calor e frio extremos dão alerta

Enquanto o Brasil tem frente fria congelante, América do Norte registra mais de 200 mortes por excesso de calor: descompasso climático

01 de Julho de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Massa de ar polar mantém as temperaturas baixas.
Massa de ar polar mantém as temperaturas baixas. (Crédito: FÁBIO ROGÉRIO (24/5/2021))

As imagens são curiosas, chocantes e antagônicas. De um lado, temperaturas abaixo de 0°C e bonecos de neve no sul do Brasil, além de geada e frio congelante em Sorocaba e região. De outro, termômetros marcando quase 50ºC no Canadá e no noroeste dos Estados Unidos, causando centenas de mortes.

Nos últimos dias, alguns Estados do Brasil têm registrado um frio acachapante. O motivo das baixas temperaturas é a passagem de uma frente fria que deixa uma massa de ar polar. A queda brusca chegou com força à Região Metropolitana de Sorocaba (RMS). Ontem, a zona rural apontou 1,4°C, a menor temperatura do ano até então. Em algumas cidades da região, a mínima chegou a 3°C. Em Piedade, por exemplo, os termômetros marcaram 0°C. Na capital do Estado, ao menos quatro moradores de rua morreram na madrugada mais fria dos últimos cinco anos em São Paulo.

Enquanto isso, regiões da América do Norte, conhecidas pelo frio e neve, apresentam cenário inverso. Um calor escaldante tomou conta de partes do Canadá e dos Estados Unidos. Locais famosos pela neve passaram a sofrer com um clima do Saara. Para se ter uma ideia da força da onda de calor sem precedentes que atingiu a região, somente na província da Colúmbia Britânica, nos últimos quatro dias, foram registradas mais de 230 mortes que podem ser relacionadas com as altas temperaturas. Uma cidade próxima a Vancouver assinalou o recorde de maior temperatura já registrada no Canadá, com 49,5°C. Já no noroeste dos EUA, alguns Estados, como o Oregon, tiveram até de flexibilizar restrições adotadas contra a pandemia para permitir a abertura de piscinas e áreas com ar-condicionado, como shoppings, a fim de que a população pudesse se refrescar. Todos os cidadãos foram aconselhados a se manterem hidratados, evitar atividades extenuantes e monitorar vizinhos mais vulneráveis.

Evidentemente, não é possível relacionar o frio extremo do Brasil com o calor absurdo da América do Norte. Também não podemos dizer com certeza que essas temperaturas extremas tenham sido causadas especificamente por emissões de gases que agravam o efeito estufa. É complexo associar um evento isolado ao aumento da temperatura do planeta. Contudo, especialistas afirmam que as mudanças climáticas ligadas ao aquecimento global aumentarão a frequência de eventos climáticos extremos, como as ondas de calor. Segundo eles, situações como essas são mais um sinal de alerta do meio ambiente. E que ondas de calor ou frio são cada vez mais recorrentes e mais extremas devido às mudanças climáticas induzidas pela humanidade.

Na verdade, houve grande evolução na capacidade de associar eventos extremos às mudanças climáticas, como a onda de calor que atingiu a Europa em 2019 e que, segundo pesquisadores, foi 100 vezes mais provável de ocorrer por causa das emissões de gás carbônico. O que é mais preocupante é que essas temperaturas foram atingidas com temperaturas globais apenas 1,1°C acima dos tempos pré-industriais. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, organização científico-política criada em 1988 no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU) considera que provavelmente ultrapassaremos 1,5 °C acima desse nível em um curto espaço de tempo. E nas taxas atuais, superaremos um aumento de 2°C, algo com consequências imprevisíveis.

Apesar de muitos episódios alarmantes relacionados com a degradação do meio ambiente e a emissão de gases e poluentes, o mundo, de um modo geral, segue na contramão dessa preocupação. Países como China e Índia continuam a construir novas usinas termelétricas a carvão. E o G7, o grupo das economias mais ricas do mundo (Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e EUA), não estabeleceu um prazo para acabar com esse tipo de geração de energia danosa. Tudo isso certamente pode apontar para uma emergência climática no futuro. Seja no hemisfério norte ou aqui mesmo no nosso País, na nossa região. Portanto, toda consciência ambiental é necessária e bem-vinda.