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Editorial

Vacinação: efeito cascata do bem

Resultados iniciais de estudo feito em Botucatu mostram benefícios da imunização e eficácia no combate à pandemia

29 de Junho de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
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Se alguém ainda tem dúvidas da importância e da eficácia da vacina diante do novo coronavírus, basta dar uma olhada em um interessante estudo que está sendo feito pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), em parceria com o Ministério da Saúde e a Prefeitura de Botucatu, no interior de São Paulo. A análise usa a vacina Oxford/Astrazeneca, a segunda mais aplicada no Brasil, atrás apenas da Coronavac. O estudo mostrou redução de 71% de casos da doença, seis semanas após a vacinação em massa na cidade -- antes até do que o previsto.

Como parte do experimento, desde 16 de maio Botucatu vem realizando ações para imunizar toda a população adulta, entre 18 e 60 anos -- exceto as grávidas, que só podem receber Coronavac ou Pfizer. Por conta desse estudo, a cidade ocupa a primeira colocação em número de doses aplicadas no Estado, segundo dados do Vacinômetro. Dos cerca de 148 mil habitantes, mais de 120 mil já receberam a primeira dose, ou 81% da população geral. A faixa adulta, porém, está basicamente toda vacinada, segundo a prefeitura local.

A queda de casos começou a ser observada entre a quinta e sexta semanas após a imunização em massa. Somente na última semana, por exemplo, o recuo foi de 45%, saindo de 73 novos casos diários para 40 registros por dia. No acumulado, a diminuição foi de 71,3%. Pesquisadores que acompanham o estudo de efetividade da vacina veem essa queda já como reflexo da primeira dose da Oxford/Astrazeneca. A segunda dose em Botucatu está prevista para agosto. Esse tipo de testagem em massa para ver a efetividade da vacina avalia também as cepas e variantes.

E para mostrar que não se trata de uma vacina específica, um estudo similar, feito com a Coronavac, no município de Serrana (SP), também apresentou resultados positivos, com queda de cerca de 95% das mortes na cidade. Além dessas duas, há outras pesquisas do gênero em andamento pelo País. Uma delas está sendo realizada na cidade de Viana (ES) e busca medir a eficácia de meia dose da Astrazeneca. Outra está sendo conduzido na ilha de Paquetá, no Rio de Janeiro, para avaliar os efeitos da imunização em larga escala em um ambiente controlado.

No caso de Botucatu, ao receber a vacina o morador deve assinar um termo para autorizar, em caso positivo de Covid, os procedimentos para fazer o sequenciamento genético do vírus. Essa análise do material genético de testes positivos é a principal ferramenta do estudo de efetividade. É com o sequenciamento genético que os cientistas vão descobrir se a vacina consegue reduzir tanto os casos graves da doença quanto a transmissão das variantes. Esse tipo de termo é comum em pesquisas e foi aprovado pelo Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), órgão que monitora e fiscaliza a aplicação de políticas públicas do SUS. O termo garante sigilo dos dados que só vão ser registrados pelos cientistas.

A imunização provoca um efeito cascata -- positivo, claro. Primeiramente a vacina ameniza os sintomas. A transmissibilidade também fica menor. A partir da queda na transmissibilidade, há menos casos e a taxa de internações também tende a cair. Há diminuição do número de casos graves que precisam de hospitalização e, por consequência, redução das mortes.

Portanto, é preciso seguir firme na vacinação, tentar imunizar o maior número possível de pessoas e convencer aqueles que desdenham da vacina a tomá-la. Independentemente disso, também é necessário manter os protocolos básicos de saúde como uso de máscaras, álcool em gel e distanciamento social. Só assim venceremos essa batalha.