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Editorial

Podemos evitar uma tragédia anunciada

Em Sorocaba, quem precisa descartar lixo eletro-eletrônico dispõe de pelo menos três opções

13 de Junho de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
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A série de reportagens e de lives especiais sobre o meio ambiente produzida pelo Cruzeiro do Sul e publicada na semana que passou -- entre os dias 5 e 11 de junho -- trouxe à luz dados relevantes, ações inovadoras e, também, lamentavelmente, alertas de tragédias iminentes. Um dos contextos mais preocupantes é o que envolve o crescimento acelerado do lixo eletro-eletrônico. Impulsionada pela globalização e alimentada pela vertiginosa evolução tecnológica, a substituição cada vez mais rápida de equipamentos vem, literalmente, envenenando todo o planeta. A boa notícia é que a devastação ainda se mostra reversível e o cataclismo pode ser evitado. E, o que é melhor, as ferramentas para a recuperação já estão em nossas mãos.

Inicialmente, é preciso que as pessoas entendam a origem do problema, percebam as dimensões que ele já atingiu e enxerguem até onde ele pode chegar. Tudo começa, por exemplo, quando substituímos o celular antigo por um novo smartphone, trocamos o micro-ondas que já não funciona tão bem ou adquirimos um aparelho de TV mais moderno. Na maioria das vezes, esses upgrades são realmente necessários, superando o simples ímpeto consumista. Até ai, tudo bem. O problema é o que fazemos com o equipamento que está sendo descartado. Poucos os reaproveitam de alguma maneira -- doando para um parente, amigo ou instituição de caridade -- e menos ainda os encaminham corretamente para a reciclagem. A grande maioria dos consumidores mantém os produtos em casa, de maneira inadequada, ou, pior ainda, descarta no lixo comum.

Um estudo da Universidade das Nações Unidas divulgado no final de 2020 permite mensurar as proporções do problema que estamos enfrentando. De acordo com a pesquisa, cada um dos 8 bilhões de seres humanos que habitam a Terra descarta, em média, 6,7 quilos de produtos eletro-eletrônicos por ano. Uma simples multiplicação revela o motivo da aflição enfrentada por aqueles que estudam o tema: 54 milhões de toneladas de produtos tóxicos de todos os tipos são despejados anualmente no solo e nas águas. Fazendo uma comparação prática, os especialistas calculam que, devidamente organizados e acondicionados, os computadores, celulares, televisores e demais equipamentos jogados fora em 2020 equivalem ao volume de 10 pirâmides de Quéops, a maior das milenares estruturas da Planície de Gizé, no Egito.

Descartando cerca de 28 quilos de eletro-eletrônicos anualmente, os cidadãos noruegueses são os atuais líderes mundiais desse ranking sinistro. Em seguida, aparecem os alemães e os norte-americanos, gerando, respectivamente, 23 e 19 quilos de descartes desse tipo por ano. Os brasileiros, embora ocupando posição intermediária na lista, com aproximadamente 11 kg a cada período de 12 meses, se aproximam rapidamente do pelotão da frente.

Além do volume exorbitante de lixo envolvido e do crescimento surpreendente dos descartes em curtos espaços de tempo, outra preocupação demonstrada pelos estudiosos do assunto é com relação à morosidade das soluções adotadas. Chama a atenção o enorme valor agregado desprezado nos descartes. Apenas os elementos mais valiosos presentes nos componentes computadores e celulares -- ouro, prata, platina, cobre, ferro e terras raras, entre os 118 catalogados -- poderiam ter rendido um montante estimado em US$ 57 bilhões no ano passado. Mesmo assim, em 2020, menos de um quinto dessa montanha de lixo milionário foi reciclada. O resto teve destino incerto: foi parar no lixo comum e acabou sendo queimada ou chegou às mãos de comerciantes que consertam eletrodomésticos e os revendem em países de renda per capita mais baixa.

Ainda conforme a Universidade das Nações Unidas, cerca de 7% a 20% de todos os equipamentos descartados nos países mais ricos foram exportados de forma ilegal, sob falsos pretextos de reaproveitamento ou mesmo com nota fiscal de sucata. Assim, velhos equipamentos eletrônicos foram parar em depósitos de lixo no Leste Europeu, na Ásia ou na África. Lá acabaram sendo recolhidos e desmontados ou simplesmente queimados. Há relatos de que esse desmonte ocorre sem o uso de luvas ou qualquer tipo de proteção. O estudo conclui que a queima dos eletro-eletrônicos também é muito perigosa, tanto para a saúde humana como para o meio ambiente, pois, além de materiais valiosos, eletrodomésticos também podem conter substâncias venenosas. No ano passado, esse processo liberou 50 toneladas de mercúrio, 71 mil toneladas de bromados e 98 milhões de toneladas de CO2 equivalentes.

Em Sorocaba, quem precisa descartar lixo eletro-eletrônicos dispõe de pelo menos três opções. A Prefeitura desenvolve projetos em parceria com cooperativas, como o Metareciclagem, que reaproveita componentes de computadores fora de uso na montagem de outras máquinas para serem doadas. Nas unidades da Coopereso, a população pode descartar computadores, ventiladores, aparelhos de TV, eletrodomésticos, pilhas, baterias e lâmpadas fluorescentes. A Coreso, por sua vez, faz coleta nos bairros, separa o material e o vende para empresas especializadas. Quem preferir pode entregar os eletro-eletrônicos diretamente em um dos seis barracões da Coreso.

Agora que já estamos conscientes do problema e conhecemos as alternativas, só resta começarmos a mudar o rumo dessa história.