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Editorial

Dia D traz nova chance de superar a pandemia

Neste momento crítico, respeitar a agenda de vacinação é a única maneira de garantir o direito de cada brasileiro de se proteger contra a Covid-19

30 de Maio de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
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Em muitas circunstâncias, a falsa sensação de segurança pode ser tão perigosa quanto a própria causa da insegurança. Da mesma forma, o simples ato de abaixar a guarda antes da hora -- seja por distração, seja por cansaço, seja por desinformação -- acaba por nos expor ao golpe fatal que, a duras penas, conseguimos evitar durante algum tempo. Lamentavelmente, uma combinação dessas duas situações compõe o cenário que se apresenta neste momento crucial da luta contra a pandemia do novo coronavírus.

Depois de um ano inteiro de derrotas recorrentes para a Covid-19, os brasileiros finalmente podem contar com a defesa das vacinas. Porém, ao contrário da racionalidade que a situação exige, muitos brasileiros simplesmente ignoram a tão aguardada chance de salvação: deixam de se vacinar ou o fazem de maneira incorreta. Alguns integrantes dos grupos prioritários definidos pelo Ministério da Saúde sequer se apresentaram para tomar a primeira dose, enquanto outras pessoas se esquecem de completar o ciclo vacinal com a segunda dose.

Os imunizantes são reconhecidos em todo o mundo como principais trunfos para equilibrar a luta contra a infecção. Mesmo assim, em todo o País, conforme os dados mais recentes divulgados pelo governo federal, cerca de 300 mil gestantes e puérperas com comorbidades, assim como portadores de deficiências permanentes, deixaram de agendar a primeira dose da imunização. Paralelamente, quase 2 milhões de pessoas -- especialmente idosos - não voltaram aos postos de saúde para receber a segunda dose do imunizante. O panorama ganha proporções alarmantes quando se constata que o ranking nacional da apatia é liderado pelo Estado de São Paulo. Na quinta-feira (27), o relatório do Ministério da Saúde apontava que 501,6 mil paulistas tomaram a primeira dose da vacina, porém não retornaram para complementar a imunização. E, para desespero dos sorocabanos e moradores dos municípios vizinhos, a Divisão Regional da Saúde de Sorocaba, composta por 48 cidades, aparece entre as regiões com os mais elevados índices de faltosos: 33.661 casos.

Infectologistas e cientistas das diversas áreas que se dedicam a encontrar curas para a infecção viral e respiratória mais letal de todos os tempos reiteram que o caminho mais eficiente para barrar a destruição provocada pelo Sars-Cov-2 passa necessariamente pela vacinação. Outra conclusão consagrada pelos cientistas brasileiros é que as vacinas disponíveis no País necessitam de duas doses para conferir uma taxa de proteção aceitável. Isso acontece porque uma dose não é suficiente para atingir a quantidade mínima de anticorpos necessários à neutralização do vírus. Assim, o nível ideal acaba sendo atingido por meio de uma dose de reforço. Ou seja, mesmo que a primeira dose forneça um pouco de proteção, essa taxa não está dentro dos parâmetros estabelecidos pelos especialistas e pelas instituições sanitárias, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o próprio Ministério da Saúde.

Outro ponto perigoso é que, ao receber a primeira dose, algumas pessoas tendem a achar, de forma equivocada, que já estão imunes ao vírus. pensando assim, elas voltam a seguir a vida normalmente, flexibilizando ou anulando os protocolos de prevenção à Covid-19. Essas ações colocam não apenas sua vida e saúde em risco, mas também as de outras pessoas. Por isso, os protocolos sanitários devem vigorar tanto para quem recebeu as duas doses, como para quem tomou apenas uma ou nenhuma. Em resumo: distanciamento físico, uso de máscaras, higienização das mãos, entre outras medidas, devem ser seguidas por todos.

A situação de quem não completou as duas doses no prazo previsto ainda é incerta. Porém, um ponto de consonância entre pesquisadores e laboratórios produtores de vacinas contra a Covid é que o intervalo para receber a segunda dose não deve se alongar. Caso a segunda dose da Coronavac demore mais do que 28 dias e a da AstraZeneca ultrapasse as 12 semanas, pode ser necessário recomeçar o regime vacinal do zero. Isso ocorre porque todos os dados de eficácia disponíveis atualmente são baseados em experiências reais. Fugir dos parâmetros conhecidos significa deixar o campo da garantia para entrar na completa incerteza quanto ao sucesso da imunização.

Afora os impactos à saúde, deixar de tomar a segunda dose no tempo previsto pode provocar graves consequências aos estoques de vacinas, que, aliás, já são limitados. Repetir a vacinação significa prejudicar as pessoas que ainda estão na fila de espera para se imunizar.

Para todos os que estão com a segunda dose da vacina em atraso, o Ministério da Saúde recomenda que procurem o posto de vacinação mais próximo de casa, o mais rápido possível e completem a proteção. É importante apresentar a carteira de vacinação da Covid-19, que aponta qual o tipo de imunizante foi recebido na primeira dose; se a vacina do Instituto Butantan (Coronavac), ou da AstraZeneca (AZD1222). Isso é importante porque as doses não devem ser misturadas, ou seja, se a aplicação da primeira dose no indivíduo foi o imunizante do Butantan, a segunda deve ser do mesmo fabricante.

Neste momento crítico, respeitar a agenda de vacinação, de acordo com as datas preestabelecidas e a sequência dos grupos prioritários, é a única maneira de garantir o direito de cada brasileiro de se proteger contra a Covid-19. É o ponto exato onde a civilidade encontra a sensatez e ambas definem o futuro da humanidade.

Felizmente, quem perdeu o prazo da segunda dose -- qualquer que tenha sido o motivo -- tem, agora, uma segunda chance. O Estado de São Paulo está programando o Dia D de vacinação contra a Covid-19, inicialmente marcado para 5 de junho. Vale a pena ficar atento às informações e aproveitar a oportunidade.