Criminalidade
Não se combate bandido com flor
Muita gente quer chamar de chacina e abuso um enfrentamento policial. E tem também o hipócrita-mor que criticou agora exatamente o que já havia defendido
A operação policial que acabou anteontem com a morte de 28 pessoas -- entre elas um policial e suspeitos de envolvimento com o tráfico de drogas -- na favela do Jacarezinho, no Rio de Janeiro, serviu também para um desfile de análises equivocadas, contradições e hipocrisias.
Primeiramente é preciso deixar claro que ninguém deseja a morte como solução para nenhuma ação policial. Ninguém está comemorando isso, pelo contrário. A própria Polícia Civil envolvida na ação reconhece que uma operação com tantas vítimas não pode ser considerada bem sucedida e que não há nada a comemorar. Não mesmo. Foi a ação mais letal na história policial do Estado.
Pois bem, dito isso, partimos para a segunda parte da análise do assunto. Assim que a ação policial terminou, teve início uma enxurrada de críticas ao comportamento da polícia e ao resultado da operação.
As mídias tradicionais e redes sociais passaram os últimos dois dias chamando de chacina algo que, na realidade, é um enfrentamento policial. Ou vocês acham que os policiais são recebidos com flores nas comunidades? Tanto que as imagens feitas pelos helicópteros das emissoras de TV mostram dezenas de bandidos portando fuzis e metralhadoras, e pulando muros e telhados para tentar fugir da polícia.
Na realidade, o que aconteceu é que durante um certo tempo a bandidagem se aproveitou da proteção do Supremo Tribunal Federal (STF) para tocar o terror nas comunidades. Por conta da Covid, o STF impediu desde junho do ano passado ações policiais em favelas, com blindados e helicópteros. Já costumeiramente donos do pedaço, os criminosos ampliaram seus poderes, criaram barricadas, determinavam quem poderia namorar com quem, aliciavam menores e jovens para o tráfico. Um verdadeiro poder paralelo, que decide quem vive e quem morre, quem pode fazer o que, quando e como.
E daí quando a polícia é recebida à bala -- como o disparo na cabeça que matou o policial André Farias assim que ele desceu do blindado para desmontar uma barricada -- surgem os pseudo-especialistas em segurança pública, que nunca saíram de um gabinete de Brasília ou de trás de uma computador, para palpitar e criticar. Assim é fácil, minha gente. O duro é ter a coragem de enfrentar a bandidagem, muitas vezes com armamentos inferiores aos dos criminosos.
Além da turma dos direitos humanos que só clama pelos direitos dos criminosos, nunca das vítimas, tem também o pessoal da hipocrisia. Um deles foi ninguém menos do que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O condenado na Lava Jato, que teve suas condenações anuladas pelo STF, postou mensagem em suas redes sociais na qual lamenta o caso. “É grave uma operação policial terminar na morte de 28 pessoas. Isso não é segurança pública. É a ausência do Estado oferecendo educação e emprego a causa de boa parte da violência. Os brasileiros estão morrendo sem vacina, de fome e pela violência. Vidas brasileiras importam”, postou o rei da lacrolândia.
Contudo, a postura contrasta com posicionamento que o petista teve em julho de 2007, quando, como presidente da República, defendeu ação da polícia fluminense no complexo do Alemão que deixou 19 mortos -- a terceira mais letal da história. Naquele oportunidade, ao lado do então governador Sérgio Cabral -- aquele bastante honesto -- Lula ironizou críticos da violência policial com a seguinte afirmação.
“Nessa ação de vocês (governo do Estado do Rio) no complexo do Alemão, tem gente que acha que é possível enfrentar a bandidagem com pétalas de rosa ou jogando pó-de-arroz. A gente tem que enfrentá-los sabendo que muitas vezes eles estão mais preparados do que a polícia, com armas mais sofisticadas. A gente tem que enfrentá-los sabendo que a maioria do povo que trabalha lá é de gente trabalhadora, de bem, que não pode ficar refém de uma minoria”, disse Lula.
É o mesmo modus operandi de sempre. Fale uma coisa e faça outra!