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Justiça

Mais um condenado vai curtir o lar

Mesmo condenado a uma pena de 173 anos por estupro, o ex-médico Roger Abdelmassih obteve da Justiça o benefício da prisão em regime domiciliar

07 de Maio de 2021 às 00:01
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Roger Abdelmassih, condenado a 278 anos de prisão.
Roger Abdelmassih, condenado a 278 anos de prisão. (Crédito: AFP)

Mais uma da nossa gloriosa Justiça brasileira. Não de toda ela, claro, pois existem magistrados, juízes e advogados que lutam pelo bem do País. Mas por aquela parte que adora dar liberdade e folga para condenados, que ama passar um pano para criminosos, que faz a maior ginástica jurídica para beneficiar ricos, famosos e poderosos que cometeram delitos. Pois bem, mesmo condenado a mais de 173 anos de prisão pelo estupro de pacientes, sabe onde está neste exato momento o ex-médico Roger Abdelmassih? Em casa, curtindo todo o conforto do lar. Sim, parece piada, mas infelizmente não é. Na tarde de ontem, Abdelmassih, que tem 76 anos de idade, deixou o Hospital Penitenciário, na capital paulista, após a Justiça conceder prisão domiciliar. Ele tentava desde março de 2020 reverter a decisão que o mandou retornar ao presídio, em mais um capítulo de uma novela repleta de idas e vindas da prisão. Segundo a juíza Sueli Zeraik, da Vara de Execuções Criminais (VEC) de Tremembé, Abdelmassih tem estado delicado de saúde, necessitando de cuidados constantes que não seriam possíveis na unidade prisional. Para ela, “está evidenciado que o sentenciado em questão apresenta quadro clinico bastante debilitado e necessita de cuidados ininterruptos, medicação constante e em horários diversificados, exames frequentes e específicos, assim como alimentação especial e vigilância contínua, tanto da área médica como de enfermagem”. Ah, tá bom. E o que será que as vítimas desse verdadeiro monstro necessitam, dona juíza?! Será que alguém dá atenção a elas? Estão amparadas?

Por mais que o ex-médico tenha de cumprir algumas exigências, como a permanência constante em seu endereço, com avisos prévios de saídas para atendimento médico, uso de tornozeleira eletrônica e perícia médica a cada seis meses, no final das contas é uma tremenda mamata e uma grande injustiça. Por que nos Estados Unidos, para citar somente um país, essas coisas não acontecem?

Para piorar, Abdelmassih conseguiu esse benefício mesmo tendo contra si, além das condenações, o fato de já ter, comprovadamente, forjado uma doença para tentar obter liberdade. Ele é criminoso, culpado, condenado, simula uma situação médica para sair, é pego no flagra, E MESMO ASSIM, algum tempo depois obtém uma progressão de pena e vai curtir uma prisão domiciliar. Precisa dizer mais alguma coisa? Só lembrando que Abdelmassih já havia passado um tempo em casa quando, por ser considerado do grupo de risco de contrair Covid, recebeu o benefício da prisão domiciliar em abril de 2020 -- ele só retornou para a prisão em agosto daquele ano, quando o Tribunal de Justiça de SP revogou tal liberdade.

E o mais revoltante de tudo isso é saber que casos assim se repetem dia e noite no nosso querido Brasil. Preso rico logo fica doente e vai para casa. Quantos presos pobres com reais problemas de saúde e pena muito menor a cumprir do que esse sujeito estão esquecidos nas cadeias?! É vergonhoso! A injustiça vai se tornando regra e se perpetuando. E qual o recado que tudo isso passa?! Que o crime compensa, que não há punição adequada aos criminosos. É algo que chega a enojar as pessoas honestas e decentes.

A bem da verdade é uma só. Depois de tudo o que aconteceu no Supremo Tribunal Federal (STF) com a anulação das condenações do ex-presidente Lula, qualquer coisa é fichinha. Daqui a pouco Eduardo Cunha e Sergio Cabral estarão em casa. É só esperar para ver. E espumar de raiva, claro.