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Aeroporto à espera do próximo passo

A transferência das operações aeroviárias à gestão privada se sobrepõe como estímulo às atividades econômicas em geral

02 de Maio de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
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A Região Metropolitana de Sorocaba (RMS) vive a expectativa de avançar mais alguns passos importantes no longo -- tanto quanto dispendioso -- caminho que conduz à imprescindível modernização dos seus sistemas de transportes. No decorrer de abril a população recebeu pelo menos três boas notícias relacionadas à melhoria da qualidade de sua conexão com o restante do mundo. Coincidentemente, todos os casos envolvem demandas represadas há décadas e que foram alvos de reiteradas promessas não cumpridas.

O mês começou com o start nas obras de duplicação da rodovia Raposo Tavares no trecho de Brigadeiro Tobias -- uma resposta ao clamor de milhares de usuários por mais segurança. Na semana seguinte, o governo estadual incluía a possibilidade de reativação da antiga ligação ferroviária com a capital paulista no contrato de concessão das Linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) assinado com o consórcio ViaMobilidade, formado pelas empresas CCR e RuasInvest -- uma alternativa de acesso com menos percalços. Finalmente, em meados de abril, a Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp) abria a concorrência internacional visando a privatização do Aeroporto Estadual de Sorocaba Bertram Luiz Leupolz -- uma injeção na roda da economia local.

Não obstante os upgrades previstos para os três modais de transportes sejam vitais para o desenvolvimento de Sorocaba e de todos os municípios da sua área de influência, a transferência das operações aeroviárias à gestão privada se sobrepõe no quesito abrangência de estímulo às atividades econômicas em geral. Diversos estudos comprovam que as características do aeroporto sorocabano, aliadas à especialização do complexo industrial e de prestação de serviços instalada no seu entorno, concentram um relevante potencial. Os investimentos necessários e a gestão eficiente que -- se supõe -- virão atrelados à concessão podem consumar o atalho para a tão sonhada internacionalização do aeroporto. Em sua esteira viria todo o encadeamento natural da livre iniciativa, como novas empresas, geração de postos de trabalho, aumento da arrecadação de tributos para financiar serviços públicos etc.

Em tese, a substituição do controle estatal pelo privado, significa mais agilidade, autonomia e planejamento de longo prazo, assim como recursos e todas as demais condições capazes de acelerar a evolução de quaisquer empreendimentos. Caso todos esses prognósticos sejam confirmados na prática, a privatização poderá ser o arremate histórico do empreendimento que se tornou patrimônio coletivo graças aos esforços pessoais de abnegados sorocabanos. Às vésperas de festejar seu 80º aniversário, o simples campo de aviação inaugurado em 27 de março de 1943, na então longínqua Vila Angélica, já está consolidado como polo regional --, tanto no âmbito da aviação geral como no setor executivo -- e tornou-se referência como um dos maiores centros de manutenção de aeronaves da América do Sul. A alternativa de crescimento via privatização é reconhecida como a mais viável há mais de uma década e vem sendo preparada desde então. A implantação da torre de controle, a partir de 2019, e o início da sua operacionalização em julho do ano passado, concluíram os pré-requisitos para a concessão.

A recém-conquistada modernização do sistema de monitoramento de pousos e decolagens coloca o aeroporto sorocabano na vanguarda de sua categoria. Espera-se que isso agregue vantagens para Sorocaba -- além da localização estratégica -- na acirrada concorrência pelo capital privado, visto que as exauridas fontes públicas se mostram incapazes de financiar as imensas carências do setor. Vale lembrar que os serviços aeroviários atravessam um dos piores momentos de sua história em todo o planeta. Não obstante a crise avassaladora dos últimos 14 meses, decorrente da pandemia de Covid-19, o sistema aeroportuário brasileiro já enfrenta o desafio da reciclagem há décadas. Somente o Estado de São Paulo está empenhado na concessão de 22 aeroportos regionais simultaneamente -- o Bertram Luiz Leupolz é apenas um deles.

Isso significa que o tempo necessário para percorrer o caminho entre a intenção e a consumação das propostas de desestatização do aeródromo sorocabano pode ser diretamente proporcional ao envolvimento de Sorocaba e de toda a região metropolitana no encaminhamento dos processos. O momento e a relevância do êxito da empreitada exigem a participação de toda a sociedade -- em particular, dos agentes políticos e das entidades representativas dos setores produtivos -- no acompanhamento dos procedimentos licitatórios. As lições deixadas pelo longo histórico de protelamentos, de paralisações e até de cancelamentos de obras e demais iniciativas públicas significativas para a população regional devem servir de alerta neste ponto crucial do projeto de transformação do aeroporto sorocabano.

Para evitar a repetição de contratempos recorrentes, é imperativo acionar imediatamente todos os mecanismos e adotar a proatividade total. Os poderes Legislativo e Executivo sorocabanos, assim como as demais lideranças políticas locais, devem unir forças aos parlamentares que representam a RMS no sentido de fazer cumprir o cronograma preestabelecido. Além disso, a sociedade precisa ficar atenta à fase seguinte e principal motivação de todo o processo: após a privatização, ainda será preciso lutar pela internacionalização do aeroporto.