Instalada na última terça (27), a Comissão Parlamentar de Inquérito que pretende investigar e analisar as ações de governantes durante a pandemia, mais conhecida como CPI da Covid, segue dando o que falar. Na verdade, o assunto tem causado polêmica desde o seu pedido.

O motivo é simples. Trata-se de um tema que mexe com toda a sociedade brasileira. Portanto, é algo que precisa ser feito com critério, correção e responsabilidade.

Evidentemente, todas as pessoas sensatas deste País são a favor de que se apure ações, omissões e também eventuais desvios de verbas federais enviadas aos Estados para o enfrentamento da pandemia. É necessário investigar as medidas tomadas (ou não tomadas) pelas autoridades, em todas as esferas, sem distinção, sejam federais, estaduais ou municipais.

Outro ponto é não atuar com oportunismo. E logo nesse quesito, levantam-se dúvidas e questionamentos sobre o momento em que a CPI está sendo instalada. É o mais adequado? É o mais correto a se fazer?

Por mais que as respostas a essas questões provavelmente sejam não, já que ainda estamos no meio da pandemia e todos os esforços no momento deveriam ser para combatê-la, é claro que mais cedo ou mais tarde será necessário fazer avaliações, questionamentos e cobranças de eventuais erros e condutas cometidas ao longo do processo.

Pois bem, depois da autorização do Supremo Tribunal Federal (STF) para a CPI, veio a discussão sobre os seus membros. Na esteira disso, houve o cabo de guerra para a confirmação ou não de Renan Calheiros (MDB-AL) na presidência da CPI.

Sim, parece brincadeira, mas é isso mesmo que você acabou de ler. “Aquele” Renan Calheiros acabou indicado como relator pelo presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM).

A gritaria contra Renan foi grande, de vários lados. Mas ontem, o ministro Ricardo Lewandowski, do STF, rejeitou uma ação de senadores governistas que tentavam impedir Calheiros de integrar a CPI da Covid.

Com todo o respeito e sinceridade, Renan Calheiros representa o que há de pior na política brasileira. Ele nos remete aos tempos do coronelismo, de votos de cabresto, do famigerado pragmatismo do “toma lá da cá”, do Centrão que sempre atrapalhou a evolução do País.

A relatoria de uma CPI é uma posição extremamente importante. É o relator quem dá o tom do processo, dos trabalhos, da linha de atuação. Ter Renan como relator é começar a CPI com o pé esquerdo, de forma errada, completamente equivocada.

Não é que Renan Calheiros não sirva para ser relator da CPI da Covid. Se queremos um Brasil mais correto, ele não pode ser relator de nenhuma CPI. Que moral tem Renan para inquirir e investigar os outros? Que validação terá uma CPI com a relatoria de Renan e a presença de outras figuras suspeitas em sua comissão? Quem perde com tudo isso é a própria CPI, que ficará desvalorizada e permanentemente sob questionamentos.

Não bastasse o histórico político nebuloso, Renan ainda está diretamente ligado a pelo menos um personagem da CPI. Ele é pai de Renan Filho (MDB-AL), atual governador de Alagoas. Lembremos que os governadores também serão investigados por conta dos repasses federais e por sua atuação na pandemia.

E nesse absurdo de analisar as ações do próprio filho, Renan não estará sozinho. Outro membro da comissão é ninguém menos do que o senador Jader Barbalho (MDB-PA). Sim, aquele mesmo! Jader também é pai de um governador, no caso Helder Barbalho, do Pará.

O resultado de todo esse imbróglio já pôde ser visto logo na primeira sessão da CPI, ocorrida ontem. Um bate-boca sem fim entre membros e senadores.

Ou seja, se a intenção é fazer uma análise séria, isenta e responsável dos nossos governantes durante a pandemia, não será com Renan, Jader & cia que isso irá acontecer.