Editorial
Escancaramento dos interesses

Fevereiro de 2025 marcou o início do escancaramento dos interesses voltados para 2026, o ano eleitoral. Se, nos últimos dois anos — e até mesmo no período pré-eleitoral e eleitoral de 2022 — o governo federal fez muitas promessas e pouco conseguiu cumprir, a partir de agora começa a época das promessas ainda mais populistas. No contexto do governo federal, essas promessas são feitas por líderes políticos que apelam diretamente às emoções e expectativas do povo, muitas vezes sem uma base concreta para sua realização ou ignorando suas consequências de longo prazo. Elas costumam ser simplificações de problemas complexos e podem envolver medidas econômicas, sociais ou institucionais que parecem vantajosas no curto prazo, mas podem se revelar inviáveis ou prejudiciais no futuro.
Eis alguns exemplos comuns de promessas populistas: redução ou isenção de impostos sem planejamento (cortar impostos sem indicar como o governo compensará a perda de arrecadação pode gerar déficits fiscais); aumento de salários e benefícios sociais sem lastro econômico (prometer aumentos salariais ou ampliação de programas sociais sem considerar o impacto no orçamento pode levar a crises financeiras); congelamento de preços ou controle artificial da inflação (algumas lideranças prometem controlar preços de combustíveis, energia ou alimentos sem atacar as causas da inflação, o que pode gerar desabastecimento); investimentos massivos em infraestrutura sem planejamento financeiro (grandes obras, muitas delas faraônicas, anunciadas sem orçamento garantido podem se tornar inacabadas ou gerar endividamento excessivo); combate à corrupção de forma vaga e sem medidas concretas (discurso forte contra a corrupção sem propostas institucionais reais pode ser apenas uma estratégia retórica para ganhar apoio); reformas políticas e institucionais radicais sem consenso (algumas promessas envolvem mudanças abruptas nas regras eleitorais, no Judiciário ou na Constituição sem diálogo amplo, o que pode comprometer a estabilidade democrática).
Embora promessas populistas possam ser atraentes para a população, elas frequentemente carecem de sustentação técnica, podendo gerar frustrações ou crises quando não são cumpridas ou quando resultam em impactos negativos imprevistos.
Muitos desses exemplos já foram utilizados pela atual gestão federal. A promessa de que todo mundo iria comer picanha e o uso de recursos, por meio de manobras fiscais, para viabilizar o programa Pé-de-Meia são apenas dois exemplos de compromissos assumidos que ainda não se concretizaram na vida do cidadão.
Outras estratégias adotadas pelo governo federal também exemplificam uma forma não republicana de conduzir o País, pois não atendem às reais necessidades da população. Uma forma republicana de governar é um modelo de administração pública baseado nos princípios da República, que incluem a soberania popular, a separação de poderes, a impessoalidade na gestão pública e a busca pelo bem comum. A República se fundamenta na ideia de que o poder pertence ao povo, sendo exercido por representantes eleitos e submetidos a regras e limites institucionais.
Pois bem, o presidente Lula prepara, já para os próximos dias, uma reforma ministerial com o objetivo de atender a interesses eleitorais, e não necessariamente aos anseios da população pagadora de impostos.
Atualmente, Lula negocia a possibilidade de contar com o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), ex-presidente do Senado e do Congresso Nacional, como ministro. A pasta ainda não foi definida — pelo menos, não oficialmente divulgada —, mas o nome de Pacheco interessa bastante ao Planalto. Nos últimos dias, Lula intensificou esforços para tentar convencê-lo a aceitar o cargo.
Pacheco tem duas pastas como prioridade: Justiça e Segurança Pública e Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Até o momento, Lula não deu indicativos de que pretenda substituir Ricardo Lewandowski no Ministério da Justiça. Já no caso do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin acumula a função com a vice-presidência, e uma eventual troca não o deixaria sem atribuições. Além disso, Pacheco não deseja que sua indicação seja vinculada à cota do PSD e aguarda um convite formal de Lula.
Outro ministério cogitado, o de Minas e Energia, foi descartado pelo próprio Pacheco, que indicou a aliados que não têm interesse na pasta. O principal motivo seria evitar a impressão de que estaria passando Alexandre Silveira para trás, atual titular do ministério e ex-senador nomeado ao cargo por indicação do próprio Pacheco.
Como se vê, pouco importa qual será a pasta ocupada ou quais serão suas eventuais propostas ministeriais — se é que há alguma. O que realmente importa é a manutenção do poder pelo poder, e a permanência no governo a qualquer custo. Afinal, 2026 está logo ali.