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Wilson Rossi

20 de Outubro de 2020 às 00:01

Wilson Rossi Crédito da foto: Montagem Camila Testa

Vanderlei Testa

O menino de Botucatu que se transformou em um gigante em Sorocaba foi morar no paraíso com os pais, esposa e filho: Wilson Aparecido Rossi. Ele tinha devoção a N. S. Aparecida e me contava que sua vida foi orientada por sua inspiração. Na cidade de Sorocaba, que o acolheu para estudar quando era jovem, Wilson conquistou sua maior riqueza: a amizade de centenas de pessoas. Sinto orgulho de afirmar que fazia parte dessas amizades. E, como éramos amigos de verdade, estive neste triste momento acompanhando a sua despedida com os seus familiares. Muitos não foram devido à pandemia. Quantas conversas em quarenta anos de amizade. Risos, lágrimas e histórias.

Os momentos de sua vitoriosa vida profissional no jornal Cruzeiro do Sul sempre foram tema de prosas em longas páginas do nosso livro imaginário. De entregador do centenário matutino nas casas dos sorocabanos até chegar ao maior cargo no departamento comercial deu ao consultor publicitário Wilson o mérito inigualável de campeão de vendas. Ele foi homenageado como cidadão sorocabano, em título que recebeu, do então vereador, Paulo Francisco Mendes. No sábado do seu falecimento, o legislativo sorocabano manifestou em nota pública que o Wilson Rossi foi um exemplo de compromisso com a cidadania. Wilson nasceu abençoado pelo dom da vida. Um ser humano do bem. Amava ajudar o próximo.

Em suas atuações na comunidade, Wilson foi diretor do Banco de Olhos de Sorocaba (BOS), Ofebas, Monteiro Lobato e tantas outras entidades beneficentes.

Sua família tinha nele um modelo de pai, avô e esposo. Em um acidente de carro, perdeu o filho e nunca deixou de pensar, orar e chorar por ele. Citando em nossas conversas a carta que o filho tinha escrito dias antes de falecer, ele derramava lágrimas de saudade nas prosas que fazíamos. Depois veio a perda prematura da esposa Therezinha. A partida da amada companheira de décadas iria transformar a sua vida em um vazio imenso. Posso afirmar que depois que ele ficou viúvo, nunca mais o encontrei alegre interiormente. Fiel ao seu casamento e às filhas, ele se dedicou por inteiro na conquista do bem estar dos seus familiares. Durante muitos anos participamos de confraternizações de final de ano dos veículos de comunicação em que trabalhou e percebíamos que o Wilson não bebia nem comia nada. Passava horas servindo seus colegas de trabalho. Havia na sua intimidade a tristeza de estar com o coração tocado pela saudade.

Trabalhou incansavelmente por mais de 35 anos na Fundação Ubaldino do Amaral (FUA), através do jornal Cruzeiro do Sul. Prestou serviços a empresas jornalísticas de Piracicaba e Votorantim e inovou comercialmente, com as suas ideias, em cada veículo de comunicação que participou.

Quando aluno do primeiro grau, em Botucatu, seu pai era o relojoeiro mais conhecido da cidade. O Wilson me relatou um dos ensinamentos recebidos do pai. Era para que ele ao achar algum objeto na rua, nunca pegasse para si, o que fosse encontrado. Deveria deixar o objeto para que outras pessoas tomassem suas atitudes. E daí me contou um caso ocorrido com ele. Ele estava vindo à estrada que ligava sua casa até a escola e achou uma caneta. Pegou e levou para casa. Era uma Parker. Logo que mostrou ao pai o achado, ouviu de novo o conselho. No mesmo instante o pai o levou até onde tinha encontrada a caneta. Fizeram o percurso de uma hora e, lá no mesmo lugar, deixaram a caneta no chão. Essa lição de criança acompanhou os 73 anos de sua vida ceifada no dia 17 de outubro. Quando ele se formou como bacharel em Direito, o seu pai orgulhosamente o abraçou e lhe deu uma caneta Parker de presente. “Filho, essa é a sua caneta”. Wilson se lembrou da infância e chorou abraçando o seu maior ídolo.

Era 7h30 quando o enfarte silenciou o seu coração. Em seguida recebi a triste notícia. Silêncio, dor da saudade e a certeza que o amigo Wilson ressuscitou. Aprendi que a espera e a esperança fazem parte da nossa natureza de seres humanos e constitui o nosso ser humano. Wilson tinha o dom da fé e me falava que Cristo é a origem da nossa esperança. Os seus gestos e testemunhos comprovaram essa verdade. Laelso Rodrigues diretor da FUA foi quem acolheu o Wilson Rossi no início da sua missão no jornal. Laelso foi amigo e irmão de sua trajetória até o último dia, destacando a dignidade do Wilson Rossi como um ser humano exemplar.

Em julho de 2019 fui convidado pelo Wilson para escrever artigos neste jornal. Com o aval da diretoria passei a escrever quinzenalmente e, posteriormente às terças- feiras. Há mais de um ano o Wilson me ligava semanalmente para falar do artigo e das suas histórias de vida. Na última conversa, na quinta-feira, dia 15, ele disse: “Adorei a sua coluna relembrando a sua avó. Fez-me lembrar dos meus dias com a minha avó Inez”.

Quero render aqui a minha homenagem e respeito ao profissional Wilson Rossi. Como publicitário trabalhei com ele desde os anos 70. Jamais vi alguém tão comprometido com o seu emprego e dedicação exclusiva em se relacionar com clientes. Wilson sempre foi um sucesso nos seus projetos editoriais. Nesta pandemia ele trabalhava em sua casa e realizou com sucesso a revista do aniversário de Sorocaba. Mesmo sem contato pessoal com os empresários, pela Covid-19 e pelo respeito que goza na cidade, o Wilson alcançou o seu sonho de publicar a revista. Sugiro à diretoria do jornal Cruzeiro do Sul que dedique com o nome do Wilson Aparecido Rossi um dos prêmios do concurso publicitário que realiza anualmente entre as agências de Sorocaba.

Encerro este artigo com a foto do Wilson e do jardim do PAX, simbolizando o caminho. E, as palavras de suas filhas, Luana e Luciana, no momento da despedida: “Tchau, pai! Amamos você.”

Vanderlei Testa, jornalista e publicitário, escreve às terças-feiras no jornal Cruzeiro do Sul e aos sábados no www.blogvanderleitesta.com e www.facebook.com/artigosdovanderleitesta