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Walter Leme dos Santos

07 de Abril de 2020 às 00:01

Walter Leme dos Santos Crédito da foto: Arte VT

O menino Walter veio ao mundo em 1919. Era dia oito de outubro. A estação primavera dava um colorido especial nas árvores de ipês de Sorocaba. Naquela época, a cidade tinha 40 mil habitantes. As grandes áreas verdes e as casas e sobrados se destacavam nos morros acima do rio que cruzava a parte baixa, onde os cavalos dos tropeiros circulavam.

Chão de terra nas ruas e em poucos locais os paralelepípedos enobreciam as alamedas. Em uma dessas casas a vida do casal Paulina e Benedito Leme dos Santos irradiava uma luz de alegria e felicidade. Acabara de nascer, fruto do amor do casal, o garoto Walter, com saúde e repleto do dom da vida em seu primeiro chorinho.

Dias depois no Cartório de Registro Civil, Benedito levava consigo o nome escolhido pela esposa em registrar o filho Walter Leme dos Santos.

Aquele começo de século vinte em seus primeiros dezenove anos trazia para o Brasil e Sorocaba a esperança da colonização dos italianos, espanhóis, portugueses e tantas outras nacionalidades. Desde a plantação dos cafezais, cana de açúcar, videiras e cultivos nas terras sorocabanas e da região, havia um sonho de industrialização futura e da geração de empregos da nascente indústria têxtil na cidade.

Benedito Leme dos Santos mal sabia naquele cartório e, até chegar a casa com o documento na mão, que o filho era o próprio futuro empresarial. Walter seria eleito em 1987, 67 anos depois, o Industrial do Ano, título concedido pelo Serviço Social da Indústria - SESI.

Essa história de vida não foi tão fácil assim para se concretizar. Fico imaginando ao relatar um pouco desse roteiro vitorioso do Walter, que viveu entre nós apenas 68 anos de vida até a sua partida à casa do Pai na eternidade. A sua vitoriosa conquista humana foi compartilhada com a espiritual, que ele sempre soube priorizar a fé nas suas atitudes.

A educação recebida de seus pais fez com que o Walter assimilasse também a descendência e formação de seus avós Maria Leme dos Santos e do José Leme dos Santos. Uma família guerreira em trabalhar duro para a sobrevivência, sem nunca desanimar. O estudo era primordial naquela simples casa cheia de pessoas idôneas e caráter exemplar.

E foi com essa genética de garra e determinação que o mocinho Walter Leme dos Santos ingressou no Curso Primário do Grupo Escolar Antônio Padilha. De calça curta e camisa de uniforme com o nome da escola bordado pela mãe, com seus sapatos pretos e a lancheira de pano com o lanche preparado em casa, lá ia o Walter cumprir com orgulho a sua missão.

Essa sua primeira experiência escolar foi marcante. Conquistou muitos amiguinhos e a admiração das professoras pela vontade de estudar. Assim, foi motivado a seguir adiante nos estudos e no caminho do bem para alcançar sucesso na vida.

Anos depois, ao concluir o primário, com as bênçãos dos pais e o sacrifício da família, Walter ingressou no curso secundário no Seminário Bom Jesus, da Ordem Premonstratense, fundada por São Norberto, o apostolo da Eucaristia.

Os conhecimentos adquiridos somados a formação familiar em respeito e amor ao próximo, fez do Walter um aliado do trabalho com foco no seu objetivo de vida, em vencer. Foi morar em São Paulo, capital. Arranjou emprego numa metalúrgica especializada na produção de canivetes.

As máquinas da indústria malhavam o aço para produzir e ao mesmo tempo forjava o homem Walter em disciplina e liderança. Uma personalidade empresarial começava ali. Com as dificuldades financeiras da época, Walter saia do emprego no final da tarde e se dirigia ao outro emprego para lavar carros no Largo da Pompéia.

O mundo vivia nessa década as inseguranças de uma guerra mundial que se aproximava nos anos 40. Walter não tinha medo porque a sua fé era consciente.

A visão empresarial daquele jovem com os seus 21 anos o levaram a buscar mais conhecimentos de negócios. Surgiu uma oportunidade na tradicional e imponente loja Mesbla para trabalhar como office-boy. Walter não se intimidou e tentou. Saiu das máquinas e do uniforme da metalúrgica e foi em busca para viver outra realidade.

Colocou sua melhor roupa e se candidatou a uma vaga no magazine. Estudioso, falando bem e responsável, ganhou a vaga naquele comércio, um dos maiores de São Paulo. Lá, Walter aprendeu muito em termos de relacionamentos, vendas, confecções, profissionalismo e frequentou um ambiente moderno de trabalho.

Tempos depois, Walter Leme dos Santos sentiu que estava na hora da mudança radical em sua trajetória. Casou com a Maria Bertha que era a sua paixão. Com ela construiu uma vida de realizações. Formou sua família. Abriu sua primeira empresa no segmento de impermeabilização.

Depois foi para a cidade de Americana, na região de Piracicaba e Santa Bárbara do Oeste. Assumiu um importante trabalho numa empresa de confecção. Aprendeu mais e saiu para montar em 1950, com 31 anos, a sua empresa de confecção em Sorocaba.

O sonho virou realidade. Sua fé em Deus e crença o alimentaram interiormente a expandir os seus negócios. Criou empregos em suas cinco empresas a mais de 1.800 colaboradores. Foram 37 anos dedicados a Sorocaba que o levou a ser o Industrial do Ano.

Com a valiosa presença da esposa Maria Bertha e mãe de seus sete filhos, Ilka, Thais, Paulo, Elizabeth, Laura, Fábio e a saudosa Lia, o Walter nunca esmoreceu em nada. Entre as suas inúmeras obras de benemerência em Sorocaba, destaco quando o conheci na Santa Casa de Misericórdia como diretor Provedor.

Modernizou a maternidade, construiu o Centro de Terapia Intensiva e o Pronto Socorro. Fez o Centro de Atendimento Infantil. Sorocaba e Votorantim prestaram a sua homenagem a Walter Leme dos Santos com o seu nome em praças e ruas.

Seus filhos Paulo e Fábio que acompanho suas ações mais de perto na cidade são atuantes empresários no ramo de confecções e lojas de jeans. Eles prestam importante colaboração a entidades filantrópicas e religiosas da cidade, entre elas apoiam nas campanhas da restauração do Mosteiro de São Bento e da Santa Casa.

Vanderlei Testa é jornalista e publicitário escreve às terças-feiras no Jornal Cruzeiro do Sul e aos sábados no www.facebook.com/artigosdovanderleitesta e www.blogdovanderleitesta.com