Buscar no Cruzeiro

Buscar

Vai esquentar!

25 de Junho de 2019 às 00:01

Paulo Celso da Silva

No quinto ano do ensino fundamental, quando as crianças mal completaram 11 anos, aprendem na disciplina de geografia que Sorocaba está na depressão periférica, entre o planalto paulista e a Serra do Mar, tendo ainda o relevo com a serra de São Francisco e o Morro de Ipanema. No limite entre o Planalto Atlântico e a Bacia Sedimentar do Paraná, em uma altitude de 601 metros do nível do mar. As/os mestres fazem uma analogia dizendo que Sorocaba está localizada em uma bacia. Caso já tenham sobrevoado a cidade, dirão também que as nuvens, os ventos “sobem” da Serra do Mar, desviam para o morro de Ipanema e dali “descem” pelos lados da avenida General Carneiro (oeste), avenida Ipanema, rua Comendador Oeterer e rua Hermelino Matarazzo (norte), para citarem apenas algumas das ruas mais conhecidas. É um conhecimento básico de geografia escolar.

Dia desses, depois de uma aula de climatologia e geomorfologia -- para as crianças, clima, tempo e relevo -- algumas mais observadoras da paisagem questionaram: Mas, não é no lado da avenida General Carneiro, Campolim, Raposo Tavares e imediações que estão “enchendo” de prédios? Isso prejudica ou não o vento? As crianças pegaram no ponto e foi possível ir além dos problemas que as construções trarão, em futuro breve, para o regime de ventos e a circulação do ar em toda a cidade.

Um familiar, que trabalha na área da saúde, respondeu, preocupado, que a depressão periférica e o regime dos ventos também facilitam a propagação de doenças na cidade, “é como uma incubadora de doenças, porque o vento passa alto aqui”, respondeu no questionário elaborado pela criança para verificar o que seus familiares sabiam da Depressão Periférica.

Críticas e curiosas contaram dos inúmeros panfletos que são deixados em suas casas, entregues nos semáforos, sem contar aqueles jogados pelo chão da cidade. Quiseram fazer um trabalho com esses panfletos, saber qual a localização dos novos prédios, outros dos condomínios que antes eram chácaras e terrenos particulares com árvores, animais, fábricas e tiveram tudo derrubado para dar espaço às novas casas ou prédios, vários com mapas eletrônicos ou de papel fixando os locais apontados nos panfletos e nas buscas feitas por propagandas na internet.

O tema de quem moraria em cada lugar também foi pensado e, usando da observação como um método de ensino, questionamos se seriam de classes baixas, altas, médias; se viriam de fora de Sorocaba, se eram sorocabanos mudando de bairro, também se eram “especuladores imobiliários” (palavra que gostaram de conhecer!). Postagens de fotos de Sorocaba nas redes sociais nos deixaram ver como era a aparência da cidade, o que havia em vários bairros e no centro da cidade.

A leitura dos panfletos trouxe à tona que esses prédios e condomínios são aprovados em várias instâncias governamentais e da iniciativa privada -- engenheiros contratados, Saae, Prefeitura, Câmara Municipal, INSS, entre outras -- antes de serem comercializados. E alguém questionou: eles não tiveram a aula abordando a Depressão Periférica? Em casa disseram que os vereadores é que devem “cobrar” da prefeitura. Eles tiveram a aula? Alguém precisa ir lá ensinar...

Ao final, com os levantamentos e checagens feitos pelas crianças, elas concluíram que a cidade ficará mais quente com a menor circulação do vento, a criação dos microclimas e a verticalidade. Coisa de criança... sabida!

Paulo Celso da Silva, professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura da Uniso, com a participação de alunos do 5° ano do ensino fundamental da rede estadual. E-mail: [email protected]