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Vacinas e hábitos de higiene

17 de Abril de 2020 às 00:01

Muitos achavam que o futuro seria tomado por carros voadores e robôs trabalhando para humanos. Mas você chegou a imaginar que, neste mesmo futuro, uma das coisas mais importantes seria a maior intensidade nos hábitos básicos e simples de higiene? Não estamos falando aqui de robôs complexos. Estamos falando de água e um simples sabão para lavar as nossas mãos, além da importância incontestável das já tão conhecidas e discutidas vacinas.

A humanidade avança também à medida que aprende lições, inclusive nos grandes eventos tristes, como guerras e doenças, ou na pandemia do novo coronavírus que estamos vivendo neste momento.

O personagem Jeca Tatu, criado por Monteiro Lobato, possui um apelo social com natureza crítica e foi utilizado nos anos 20 como instrumento de esclarecimento sobre a importância do saneamento público e a urgência em erradicar doenças como o amarelão, de modo que simples hábitos de higiene poderiam mudar a vida das pessoas e até curar doenças. Anos 20.

No livro de Tom Philbin, “As 100 maiores invenções da História, uma classificação cronológica”, o autor dedica seu capítulo 20 ao vaso sanitário. Por que tamanha importância? Porque o aumento do uso e da implementação do vaso sanitário nas residências diminuiu consideravelmente a disseminação de doenças. Foi um marco para os estudiosos da epidemiologia e sanitarismo. E o que esse exemplo tem a ver com os dias de hoje? Tudo, afinal, em tempos de globalização, a higiene mostra-se mais uma vez como a principal arma contra a disseminação de doenças.

Vivemos nos últimos 20 anos três importantes disseminações virais: a SARS, em 2002; a H1N1 (gripe suína), de 2009; e a MERS, em 2012. Existiram outras, de menor proporção, mas demos mais importância àquelas que apareceram muito na mídia. Anualmente, temos a preocupação em vacinarmos os indivíduos contra gripe e outras doenças virais. Porém, não falamos com tanta frequência da importância da higienização, que não deveria ser lembrada somente em situações como a que estamos vivendo. Ter o hábito de lavar as mãos antes e depois de procedimentos em geral, além de ser uma rotina em nosso dia a dia, é uma forma de proteção tanto para nós mesmos quanto para os indivíduos ao nosso redor.

As vacinas são eficazes na erradicação de doenças. Quando analisamos historicamente, as vacinas surgiram no Brasil em 1804 com a chegada da vacina contra a varíola. Em 1973, é criado o Programa Nacional de Imunizações. Um exemplo da ação das campanhas de vacinação ocorreu em 1992, com a criação do plano de eliminação do tétano neonatal, que, em 2006, levou o Brasil a ser classificado como um país que eliminou esta doença do seu rol de problemas de saúde pública. Este é um dos bons exemplos de como a vacina é importante no combate as doenças.

Por que é tão importante falarmos e pensarmos em vacinas e higienização das mãos?

Porque elas são nosso passado, nosso presente e nosso futuro. Que venham os robôs, mas, certamente, tudo isso continuará tendo sua devida importância em meio à tantas novidades tecnológicas que ainda não conhecemos.

A vacinação garante que, quando em contato com o vírus, você não vai desenvolver a doença, nem multiplicá-lo “dentro” de você. Mantendo a higienização, por exemplo, você simplesmente evita que a grande maioria dos vírus (incluindo bactérias e fungos nesse comentário) entrem no seu corpo.

E, mesmo sendo algo que aprendemos desde o início das nossas vidas, estamos sendo postos à prova, mais uma vez, ouvindo centenas de vezes por dia em todos os principais canais midiáticos, a importância da efetiva higienização das mãos. Estamos aprendendo, mais uma vez, a importância de também higienizarmos tudo aquilo que foi tocado por outras pessoas e, de forma definitiva, este momento e estes aprendizados farão parte da história da humanidade.

O processo de lavar as mãos, por sua vez, não é exclusivo para prevenção de contaminação por coronavírus, apesar de o foco do momento atentar-se somente à sua eficácia na prevenção da contaminação. A lavagem correta das mãos e higienização de objetos também funciona na barreira para a contaminação por outros vírus, além de bactérias e fungos.

O futuro de todas as áreas de saúde pode ainda não ser conhecido pelo homem, ou ter sido descoberto pelo cientista. Mas, certamente, higiene e vacinas seguirão como importantes aliados do ser humano por inúmeras décadas.

Acreditamos que nosso principal aprendizado no momento é que a higiene é uma ferramenta de saúde pública acessível à grande parte da população, com baixo custo e excelente efetividade no combate à inúmeras doenças. Ou será que já sabíamos disso e não dávamos o devido valor?

Vinícius Bednarczuk de Oliveira é farmacêutico, Doutor em Ciências Farmacêuticas.

Benisio Ferreira da Silva Filho é biomédico, mestre em Ciências da Saúde e doutor em Biotecnologia.