A angústia de não vislumbrar um horizonte vem contaminando com a desesperança um número crescente de pessoas. Com isso "emerge a sociedade do cansaço e da perda da alegria de viver" -- constata o teólogo Leonardo Boff.

O alerta é oportuno e necessário. Em canção, composta em tempos duros, o poeta Gilberto Gil, depois de a definir como bem maior da vida, louva "a esperança da gente na vida, pra ser melhor". Se as coisas não são fáceis, quando a perdemos, tornam-se ainda mais difíceis.

Brincar o jogo do contente, ignorar que as durezas da realidade ferem profundamente muitos ao nosso redor é mergulhar num mar de tolice e hipocrisia.

Em tais instantes a Palavra nos dirige difícil interpelação. Confiantes no Senhor, precisamos cultivar a certeza de que a densidade da treva não é obstáculo que impeça o chegar da aurora. Urge, na hora da escuridão, não só preservar o lume de nossa esperança, mas também fazer quanto esteja ao nosso alcance, para que ele não venha a se extinguir em nossos irmãos.

O profeta não se finge de cego nem faz de conta que a quantidade dos desafios a encarar e elevados riscos a ele inerentes escapam à sua percepção. Reconhecer e identificar a enfermidade é o primeiro e indispensável passo para combatê-la.

Muitos, assustados com a extensão e profundidade da doença deixam-se capturar pela negação, mera variante da desesperança.

Outro é o agir que Jesus espera de seus seguidores. O convite dirigido pelo Mestre a quem caminha a seu lado é no sentido de alentar as vítimas da desesperança e confiar que, caminhando a seu lado, podemos reconstruir a vida e resgatar a alegria de toda a gente.

"Os velhos não fazem mais as suas rodinhas nas praças, e os moços já não cantam mais. A alegria fugiu do nosso coração; em lugar de nossas danças, ficou a tristeza. (...) Faze [Senhor] com que a nossa vida seja outra vez como era antes."

Lamentações 5: 14-15 e 21

Nova Tradução na Linguagem de Hoje

Geraldo Bonadio é jornalista.

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